A Simetria

Capítulo 24 - Chuva de mortos

- Jack está esperando no carro. - Ele disse.

Meu coração voltou a bater novamente. Era um dos homens do Jack disfarçado de policial, estava ali para poder me guiar até a saída.

- Ele pode ficar sossegado. Daqui eu consigo me virar sozinha.

- Ele ainda quer falar com a Senhora. - O homem disse.

Eu olhei bem para ele enquanto ele passava a minha frente e me levava até o carro do Jack, que já estava preparado para se retirar. O homem abriu a porta e me esperou entrar. A porta do carro estava aberta com o Jack no banco de trás olhando para mim.

- Jack, não precisa fazer mais nada por mim.

- Entre no carro, Kyle. - Ele disse sentado no banco de trás apenas me esperando.

Eu entrei no carro e o homem foi até o volante, girou a chave e acelerou. Saindo do centro policial e entrando na estrada, o Jack ainda continuava calado, tentava buscar algo em sua mente para me confortar.

- Tenho que voltar até a caverna da estação. - Eu disse.

- Não se preocupe com isso. - Ele disse ainda olhando para fora do carro. - Enquanto estava presa, eu peguei a Emmy e a enterrei em um cemitério no qual minha família possui parte do terreno.

- A dona Glória está enterrada lá?

- Sim... - Ele falou olhando para mim.

- A Alia quem a matou?

- Exato. A Sunny nunca teve esses surtos. Alia drogava vocês para pensarem no que ela queria que vocês pensassem.

- Não entendo como ela ficou daquele jeito. Nós éramos unidas, não consigo acreditar que tenha sido por causa da Sunny.

- Mas não foi só por isso... Eu matei a mãe de todas vocês, ela achava que se sua mãe não tivesse se envolvido comigo a mãe dela estaria viva.

- E de certo modo ela está certa. - Eu disse tirando meu olhar do dele.

- Mas isso não é motivo para ela querer ver vocês mortas.

A viagem já estava sendo longa demais. Eu estava de lado do meu pai biológico, do lado do homem que também matou minha mãe. Do lado daquele que se fingiu de aliado para tirar todas as evidências que tínhamos de que ele era assassino de três mulheres grávidas.

- Por que você está me ajudando? Você matou minha mãe e as mães de minhas amigas...

- Mas sou seu pai e a Emmy é minha neta, além dela possuí a alma da mulher que fui apaixonado.

O silêncio pairou ali por alguns segundos. Naquele momento eu só pensava na Sunny, em voltar ao hotel para buscá-la depois de ver o túmulo da minha filha.

- Parece que cada minuto que passa o frio nessa cidade aumenta. - Eu disse.

- É a chuva de mortos. - O motorista disse.

- Já é a segunda pessoa que me diz isso. O que quer dizer?

O carro parou em frente a um cemitério de propriedade particular e o motorista saiu. Foi até o lado no qual eu estava sentada e abriu a porta. Eu saí e olhei para trás onde o Jack estava.

- Siga seu caminho, Kyle. Você fez as escolhas certas.- Ele disse ainda sentado olhando para mim.

Eu virei até a porta e a abri. Caminhei pela trilha olhando para os túmulos que passavam perto de mim. Eram todos da família do Jack. "Ele deve ter as economias de quando era psicólogo" pensei. Ele ainda tinha empregados para ajudá-lo, então deve ter muito dinheiro, além de poder.