Capítulo 18 - Os pequenos fantasmas

1 0 0
                                    

Desci até a sala de jantar naquele pequeno vestido em que eu estava. Silvia me mandara usar qualquer roupa que estava no armário do quarto, era de sua irmã, e achara que pudesse caber em mim. Eu o puxava para baixo a cada passo que eu dava, como tentativa de não mostrar minhas roupas intimas.

- A roupa da Sara ficou ótima em você. Sente-se, nós já estamos comendo o jantar. - Ela disse sentada na primeira cadeira da mesa.

Sunny e Richard já estavam lá, comendo, e não repararam em minha chegada. A fome era maior do que qualquer coisa naquele momento fazia horas que não nos alimentávamos. Eu sentei na cadeira e puxei o vestido mais uma vez.

- O que vocês fazem no centro de Manhattan?

- Eu faço faculdade de química, e estágio no laboratório perto de minha casa. - Eu disse colocando a primeira fatia de pão com geleia de amendoim na boca.

- E você, Sunny? - Silvia perguntou.

Sunny olhava para mim sem ter o que dizer, ela vivera desde que tinha dezesseis anos no sanatório, não tinha estudos, nem trabalho. Mas não poderia dizer algo desse tipo numa mesa com pessoas desconhecidas.

- Sunny é a babá da minha filha. - Eu disse.

- Você tem filhos? Mas é tão nova...

- Tenho só um. É uma menina, está com seu pai nesse momento.

Silvia olhava para mim e sorria como se estivesse orgulhosa de algo. Mas eu pensava comigo mesma, que se ela soubesse que eu perdera minha filha nesse contratempo, talvez ela não me olhasse daquele jeito.

- E você Richard?

- Eu sou fotografo, faço free-lance para algumas revistas e jornais.

- Sabia! - Disse Arnold, que estava do outro lado da sala observando o jantar.

- Não! - Richard indagou. - Não é nada disso que vocês estão imaginando. Não vim aqui tirar fotos e vender para alguma revista ou jornal. Até porque não trouxe minha câmera.

- Ficamos felizes, Richard. Várias pessoas se aproveitam de nossa bondade para nos difamar em algum site ou meios físicos. Já estamos fartos disso. - Disse Silvia rindo novamente com um pedaço de mamão na boca.

- E a senhorita não tem filhos? - Sunny perguntou.

- Tinha vários... Mas coisas terríveis aconteceram para eles, e eu não pude evitar. - Silvia soltou o garfo na mesa e empurrou o prato como se o seu estômago tivesse embrulhando com o assunto. - Licença, eu tenho que me retirar. Bom jantar para vocês, nos vemos depois.

Ela se retirou e Arnold foi atrás feito uma faísca. Eu olhei para a Sunny e respectivamente para o Richard, eles tiraram a visão de mim e voltaram a comer como se nada estivesse acontecido. Levantei da mesa, e limpei meus lábios com o guardanapo que estava perto dos meus talheres.

- Você não comeu nada, para onde vai? - Richard perguntou.

- Dar uma volta.

Caminhei até a varanda que ficava de lado da sala de estar, e abri as portas de vidro que estavam fechadas. O vento quase me levou para trás, era uma noite fria, não parecia que estávamos em Manhattan. Cheguei perto da ponta da varanda, onde tinha uma grade de segurança que batia em minha cintura. Ali era alto, dava para ver a frente do hotel e o estacionamento. Lá embaixo, perto da entrada, eu via a mesma garota que vi pela tarde quando chegava ao hotel. Era irreconhecível, ela estava tentando entrar no hotel, e estava preocupada com algo ou alguém. Quando senti uma mão pesada no meu ombro e quase gritei de susto.

A SimetriaOnde histórias criam vida. Descubra agora