Passados presentes

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Meus pés frios caminharam em direção a uma poltrona de couro frente à lareira. As cinzas semi-aquecidas me receberam num abraço caloroso. Fiquei em silêncio, na verdade não havia nada pra ser dito, como podiam saber tanto sobre mim, sobre Jaqueline? Algo em relação a minha vida seria finalmente esclarecido! Depois de tantas tentativas frustradas de não pensar sobre minha mãe e a forma como ela se foi.


—Jaqueline é sua ancestral — Iniciou a mulher sentando-se atrás da escrivaninha, Isaac porem, mantinha-se na sua missão de empilhar e arrumar os livros, como se fosse mais interessante do que aquilo que eu viria a descobrir a seguir, de vez ou outra folheava alguns, numa perfeita demonstração de enfado.


—Eu sei. — Me voltei pra ela.


—Mas Jaqueline também era filha de ciganos na época de 1514 na Geórgia. O que não era bem aceito por serem conhecidos por terem relações com bruxaria.


—Por isso, ciganos que não queriam ser descobertos eram obrigados a ter no mínimo dois filhos — Complementou Isaac: — Um para manter a tradição da família e outro para ter relações sociais e não serem descobertos.

—Jaqueline era uma bruxa? —Questionei incrédula.


—Não. Mas Janeth a irmã mais nova era. Quando Jaqueline Morreu em 1540, Janeth usou bruxaria para que ela pudesse volta a viver um dia, mas para isso ela ofereceu doze gerações de mulheres da família em troca da alma de Jaqueline. Não é de se estranhar que depois disso, suas descendentes vêm morrendo de câncer, isso inclui a sua mãe.


A mulher se levantou, parecia indecisa, e de certa forma fitava meu rosto com apreensão. Eu não ia surtar, ou sair correndo, só precisava de tempo pra digerir tudo aquilo. Isaac continuou com a explicação:


—Mas Jaqueline não poderia voltar até que o pagamento fosse totalmente feito. Quando sua mãe morreu de câncer e você nasceu à cópia fiel de Jaqueline pudemos ver que a historia era real.


— Não sei do que estão falando.


—Você é hospedeira de Jaqueline. Foi pra isso que nasceu. Não são parecidas por acaso. É o seu corpo que ela quer.


Me levantei assombrada. De todas as coisas bizarras que vinham acontecendo durante toda a minha vida com certeza aquela era a maior delas. Mirei um ponto vazio na sala, talvez tenha sido o momento não sei, mas não consegui me controlar, os risos vieram espontâneos, e embora parecessem debochados estavam repletos de medo.


—Eu estou viva!— Expliquei me controlando — Não vou dar o meu corpo a um fantasma que morreu há quase 500 anos isso é ridículo! Não tenho do que ter medo, coisas como essas não existem.


Phoebe se aproximou, para voltar a me encarar novamente:


—Não é de Jaqueline que temos que ter medo— Olhou nos meus olhos —E sim da pessoa que fará de tudo pra que ela volte. Jaqueline era casada com quem no diário é descrito como "Vlad". Talvez o primeiro vampiro a surgir na história, Jaqueline não morreu de uma maneira natural. Quando adoeceu de gripe espanhola em 1540, Vlad ofereceu sua própria alma ao demônio para que a esposa não morresse. Quando retornou para casa depois do ritual Jaqueline estava curada, como se nada tivesse acontecido, mas no dia seguinte Vlad sofreu a transformação, não sabia de que maneira sua alma seria cobrada, foi tomado por uma sede incontrolável, e assassinou Jaqueline enquanto dormia.

A Desolação Do VampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora