O Despertar

21 1 0
                                    


Subi as escadas voltando para o andar superior, sendo vigiada por seus olhos felinos e misteriosos. Era estranho pensar que aquilo não era verdade, é como se você visse algo na sua frente e todos insistissem que você não estava vendo nada. Se os meus sentimentos por ele mudassem por causa da minha transformação com certeza não seriam para melhor, talvez pudessem se intensificar, mas agora eu sabia que podia me proteger, e fazer minhas próprias escolhas, não ficaria presa as suas vontades, eu seria livre.

As cortinas do casarão estavam abertas, algo que eu nunca pude pensar que seria possível antes, mas levando em consideração que estava chovendo, os vampiros não tinham mesmo com o que se preocuparem.

Vaguei a procura da cozinha, um lugar que curiosamente nunca havia posto os pés na minha vida. Geralmente os cômodos do casarão eram quentes e aconchegantes, então segui meus instintos. A cozinha deveria ser completamente diferente, já que era lá que faziam os depósitos de sangue para a maioria. O assoalho de madeira lustrosa e bem limpo foi mudando de acordo com que eu avançava, a coloração se tornava opaca nos quatro primeiros cômodos mais distantes do salão principal, segui por uma passagem escura onde o teto era rebaixado. Uma porta antiga e bem talhada foi o ultimo obstáculo para o que eu suspeitei ser a cozinha, o lugar mais frio da casa. Abri a porta e me deparei com uma imensa fila de freezers devidamente organizados, um atrás do outro, e ao lado destes outra fileira com o mesmo numero de congeladores, uma bem feita armação de armários ao fundo me fez perceber a única normalidade do lugar, o ambiente mais parecia uma sala cirúrgica, com alguns objetos de primeiros socorros bem avista encima do balcão. O piso cerâmico xadrez ecoava ao som das minhas botas negras. Apressei-me a procura de um recipiente onde pudesse guardar o sangue, segui para o fundo da cozinha e revirei os armários em busca de uma faca. Pensei em simplesmente levar uma bolsa de sangue, mas seria muito mais fácil transportar uma faca do que sangue no meio de vampiros nada amigáveis. Faria o ultimo sacrifício, o sangue humano que ele beberia pela ultima vez seria o meu.

— Achei você! — Sussurrei feliz em encontrar o objeto.

— Lilian? — Fui surpreendida por uma voz rouca, qual a minha surpresa ao me deparar com Mikael me olhando como se pedisse uma explicação. Mas que imediatamente me abaixei colocando o objeto em minha bota, voltando com alguns curativos que estavam dispostos em uma das gavetas. Eu sorri levantando o objeto:

—Eu precisava disso, pro Luke...

Mikael caminhou lentamente para um dos freezers retirando de lá uma bolsa de sangue, seu rosto foi camuflado por uma espessa maça de ar fio que cessou assim que fechou o congelador. Ele se manteve encostado, me observando enquanto fazia um pequeno furo na bolsa para se alimentar.

— O lobisomem, não é?

—Exatamente, ele se machucou ontem e... Bom, tenho que ir.

— Não sabia que eram amigos, soube que ele tentou te matar— Me interrompeu enquanto tentava sair de lá o mais de pressa possível, seus olhos se estreitaram, sem duvida não acreditou em mim, mas desde que não soubesse o que eu estava fazendo ali, não seria um problema.

—Sabe como são, esses relacionamentos entre vampiros e humanos. — Caminhava de costas para a porta mantendo a atenção voltada para Mikael.

— Lobisomens.

— O que?

—Você disse vampiros e humanos, mas é lobisomem o seu amigo.

Amaldiçoei-me profundamente por aquele pequeno deslize. Mikael me parecia um vampiro inteligente e perspicaz, não deixaria nada passar despercebido:

A Desolação Do VampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora