Obsessão

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 Meus olhos se abriram preguiçosos, sentindo falta dos raios do sol entrando pela janela. Toquei o pulso dolorido e um sorriso brotou em meus lábios. Então foi real...

Depois do banho caminhei até a janela, um hábito que eu inconscientemente comecei a cultivar enquanto estive ali, aproveitava cada momento ao sol, como se devesse de alguma maneira aproveitar cada centímetro de calor, e ser grata por isso.

Eu estava magra, algo que eu não considerava saudável, as olheiras eram profundas e marcantes em meus olhos esverdeados, me olhei mais uma vez no espelho. Meus cabelos antes brilhantes estavam opacos, talvez eu devesse mudar o corte de cabelo, ou quem sabe fazer uma franja, e me parecer com aquelas adolescentes virgens de colegial.

Ao voltar o meu olhar para a janela, de relance, notei uma figura masculina no jardim. Era incrível como a luz o beneficiava, iluminando sua pele dando mais vivacidade aos fios loiros que desciam desfiados por sua nuca num contorno perfeito. Ele acenou de costas. Espera! Ele me viu?

Me escondi atrás das cortinas, não podia deixar que pensasse que o estava vigiando, e mesmo que eu estivesse eu não queria que pensasse, ou nesse caso, soubesse. Mas para me certificar voltei para a janela e acenei de volta. Ele virou o tronco para trás e gesticulou com a cabeça para que eu descesse. Sim, ele me viu.

— Você tinha razão — Disse enquanto eu me colocava ao seu lado, ele tinha os olhos fixos acima dos muros, esperando que o sol se levantasse por completo.

—Eu sei. Reconhece o calor?

Ele relaxou os ombros pondo as mãos nos bolsos, a camisa preta de mangas longas o deixava ainda mais pálido, esticou o pescoço longo e delicado tentando visualizar a claridade ao longe:

—Não. Pra dizer a verdade eu tenho medo de virar cinzas — Olhou para mim e um sorriso matreiro e ao mesmo tempo suave tomou conta do seu rosto. Ele não podia fazer aquilo, ser assim o tempo todo, e pensar que sempre que eu me aproximava tentava achar algo imperfeito, algo que o pudesse caracterizar como humano.

—Não vai acontecer.

Ele fitou o chão por alguns segundos, e seu olhar se estreitou. Ele tocou meu pulso e como um choque elétrico se afastou assustado, umedeceu os lábios e me encarou:

—Eu sinto muito por isso, não devia...

—Eu quis. Eu ofereci e não me arrependo — Segurei meu pulso escondendo o ferimento: — Eu sabia o que estava fazendo, e ainda vou estar ciente quando fizer de novo.

— Não vou fazer de novo.

— Você precisa, é o que falta pra ter o controle. Prove que pode se contentar com sangue humano.

Me sentia dependente, dependente do frenesi e do êxtase a cada mordida. Pessoas normais me chamariam de masoquista, alguém que sente prazer na dor e no sofrimento, mas era diferente! Eu me sentia parte de alguma coisa, sentia que apenas eu podia satisfazê-lo, alguém realmente importante. De repente Kian suspendeu meu braço, colocando a ferida frente aos meus olhos:

—Pode ver isso? — Pressionou seus lábios em um linha, endurecendo seu maxilar: — Vai ser pior da próxima vez.

—Eu não me importo.

—Eu posso matar você! Por acaso sabe o que eu sinto toda vez me oferece o seu sangue? Ou pelo menos faz ideia do que se passa pela minha cabeça quando eu domino você?

— Eu não me importo! — Puxei meu braço de volta, sendo repreendida pelo seu olhar perplexo. Eu não conseguia encará-lo daquela forma, encarar o modo como me tratava como se eu não desse valor a minha vida, eu dava! Mais que qualquer coisa eu valorizava o prazer que me proporcionava quando dependia de mim.

A Desolação Do VampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora