Meus olhos se abriram assustados. O barulho da chuva parecia mais intenso, e os trovões estremeciam as apertadas paredes da cela fria. Onde ele estava? Levantei-me rapidamente me recompondo. As únicas pistas de que ele estivera ali era a sua camisa, e levando em conta que a minha roupa ele fez questão de rasgar, eu a vesti.
— Kian?
Peguei as minhas coisas apressada. Ao tentar sair tive uma grande surpresa, quem sabe a pior e mais odiosa surpresa da minha vida, eu estava trancada. Chacoalhei as grades forçado a porta:
— Kian! — Gritei tentando sair: — Seu filho da...
Chutei as grades sem sucesso. Ele não podia ter me deixado pra trás, não podia! Senti vontade de chorar e espernear. Era isso aí, eu tinha feito da minha vida uma grande merda, confiando em um vampiro que me deixou pra trás, também o que eu queria passando mais tempo transando do que fugindo?! Não demoraria pra que alguém desse a minha falta, ou mesmo a dele, não sei que desculpa esfarrapada eu daria. O que eu diria? Diria que ele me seduziu e depois caiu fora? Era ridículo!
Encostei-me na parede de onde havia uma grande infiltração. Me levantei no mesmo instante quando ouvi passos descendo as escadas, não sabia se ficava feliz com a possibilidade de ser ele, ou tensa de poder ser qualquer um. Qual foi o meu desespero de ver os olhos amendoados de Ronny. Minhas mãos suavam.
— Como você pode? — Estava furiosa, seus olhos lacrimejantes denunciavam que alguma coisa tinha acontecido.
— Ronny, eu...
Fui interrompida quando ela arrancou o cadeado e adentrou a cela me segurando pelo braço, começou a me arrastar para fora me obrigando a subir as escadas.
—Você acabou com todos nós! Está feliz agora?! — Ela me odiava, e tinha plena certeza de que o resto das pessoas daquele lugar também me odiaria. Embora pudesse parecer egoísta eu não me arrependia, a única coisa da qual voltaria atrás era ter baixado á guarda.
— Ronny, eu sei que eu não devia ter feito isso, mas você precisa me escutar, por favor...
Ronny estava ofegante e chorosa, secou algumas lágrimas antes que pudessem denunciá-la. Subimos as escadas enquanto eu continuava sendo arrastada corredores a fora. Seus passos eram pesados e apressados, a nossa frente três sombras, e uma delas estava de costas para nós, a outra pude perceber de pronto ser Lucas, sério e melancólico, mas o que me assustou foi a que estava estirada ao chão. O que era aquilo? Era um corpo, era... Mikael?
O corpo estava banhado em sangue, e quando um trovão estourou do lado de fora da janela iluminando o corredor por alguns instantes, pude ver o buraco enorme que atravessava seu peito, e veias azuis que contornavam seu pescoço até a direção dos olhos, abertos e vazios. O ar me faltou nos pulmões, eu não queria que nada aquilo acontecesse. As lágrimas vieram abundantes:
— Mikael... — Ronny me lançou de joelhos sobre o corpo, fazendo que eu tocasse sua pele fria e sem vida, pude sentir o sangue sobre meus dedos. — Não! Mikael.
— Acha que adianta chorar agora? — Freya se virou para mim, seus olhos inchados e vermelhos. Tremia de ódio enquanto fitava a responsável por toda aquela desgraça, eu. — Eu devia arrancar a sua cabeça! — Esbravejou me olhando nos olhos: — Depois de tudo que fizemos por você, é assim que nos agradece?! Você é um demônio, e não é tão diferente de quem fez isso! Está morta. Espero que sua última transa tenha valido a pena!
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A Desolação Do Vampiro
RandomVladislau segundo, casado com Jaqueline Cher em plena guerra dos confederados, não imaginou do que seria capaz ao ver seu grande amor sucumbir a gripe espanhola. Em um desespero para salvar-lhe a vida oferece sua alma ao demônio não sabendo das cons...