A Proposta

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"Para sempre". Talvez fosse mesmo tudo o que eu precisava ouvir, e ali estava ele, realmente precisando de mim, me oferecendo aquilo que eu mais queria na vida. Ele me sorriu de modo doce e ingênuo, cativante ao extremo, e perfeitamente belo.


— Você vai embora? — Regredi, colocando o rosto próximo ao seu, onde os poucos centímetros que nos separavam foi convertido em uma eternidade de distâncias.


— Não podem oferecer o que eu preciso aqui.


—Você vai... Vai me levar? — Seu sorriso se alargou um pouco mais, cético, descrente de que eu realmente o libertaria.


— E porque não? O que acha da Inglaterra, e os seus invernos aconchegantes? — Seus lábios sussurraram.


— Eu acho muito bom, mas como vou saber se você não é o Vlad?


— Hei... — Se aproximou um pouco mais, e suas mãos atravessaram as grades e tocaram meus lábios com o polegar, estava manso e sedutor — Porque não confia em mim só um por um instante? Do que me adiantaria sair daqui sem você?


— É exatamente o que o Vlad diria. Não precisa de mim para o ritual de Jaqueline?


— Não me lembro de Jaqueline, não sou o Vlad, meus olhos se abriram Lilian, eu sou imortal e eles têm medo de mim, porque não aproveitar daquilo que a natureza me fez?


— E precisa de mim pra isso? Você vai me descartar na primeira oportunidade!


— Descartar a única pessoa que pode me ajudar a controlar o Vlad? Se eu me alimentar apenas de vampiros não vou ser uma ameaça pra você. Acredite quando digo que Jaqueline não significa nada pra mim.


Não significava? E ali estávamos nós, com alguém que preferiu perder a memória a se lembrar da morte de alguém que não significava nada pra ele.


— Já significou então? Você não sabe qual é o seu presente, nem qual o seu passado. As lembranças estão voltando e você não quer admitir! Quando foi que aconteceu? Depois que se alimentou de mim pela primeira vez, ou pela segunda?— Perguntei indignada — Já sei! — respondi debochada — Foi na segunda! Quando percebeu que o meu sangue e o de Jaqueline eram os mesmos!


— Não!


— Porque está fazendo isso? — Me afastei ofegante, controlando o choro. Eu não ia chorar na frente dele, era patético fraquejar quando o inimigo estava tão longe de conseguir a vitória. Kian se afastou, passou as mãos pelos cabelos dando uma volta pelo cômodo apertado como um animal enjaulado. Voltou à mesma posição de antes.


— Se lembra de quando salvei você? Eu senti que já te conhecia quando nunca tinha te visto antes, e mesmo assim, mesmo assim eu neguei me aproximar, porque sabia que podia fazer mal a você.


Meu coração se apertou um pouco mais, algo que eu julgava ser impossível até então. Eu detestava admitir, mas ele não era o mesmo. A maneira de agir e até mesmo de falar estava completamente diferente, era mais agressivo, Vlad estava voltando aos poucos, e as emoções, os sentimentos, estavam confundindo a sua cabeça, ele não poderia sentir por mim nada mais que afeição.


— Não é real, o que você sente. Não é real. Não percebe que o Vlad está voltando e o que pensa sentir por mim é um reflexo do que vocês dois sentem pela Jaqueline? Pela lembrança dela!


— Então me ajude — Sugeriu de modo absurdo, alternando em olhar pra os meus olhos e os meus lábios: — Se não acredita que o que possa sentir seja real, então conquiste os sentimentos que estão surgindo agora.


— Ele pode retornara a qualquer momento, e vai me matar pra trazê-la de volta — Minha voz vacilou: — Eu não me importo comigo, mas você vai desaparecer, o que vai sobrar é indiferença.


— E prefere que eu apodreça aqui dentro?! Assim que eu estiver fraco o suficiente eles vão me levar até o conselho dos vampiros, Lilian... Eles vão me enterrar! Então não vai sobrar Vlad nem muito menos Kian! E você vai poder viver com esse sua vidinha patética, e sofrer pelo resto dela por causa desse frenesi idiota! Acredite em mim, seu castigo é bem pior que o meu.


Perder é uma coisa estranha, em todos os sentidos, não importa se é para o seu próprio bem você nunca vai querer perder nada na sua vida, e eu não podia perdê-lo.


— Eles não podem fazer nada contra você, você é imortal — O lembre do fato que ele agora parecia se orgulhar.


— Mas você não é. Os anos vão passar pra você também. E você é a única que não pode me acusar de sentimentos falsos, se não fosse pela ligação estaria desejando a minha morte agora.


Como ele podia mudar de personalidade tão rápido? Se mostrava agressivo e indiferente, e minuto depois voltava a ser o mesmo vampiro com senso de justiça e bondade, estava me assustando. Vlad o estava devorando e ele era o único que não percebia. Bateu a cabeça contra a grade, fechando os olhos.


— Por favor, Lilian.


Eu suspirei, estava com medo do que poderia acontecer se eu o ajudasse, e com medo do que aconteceria se eu me negasse a fazer o que me pedia. Mas eu podia correr esse risco? Nos dois casos eu sairia perdendo do mesmo jeito.


— Eu volto, ao entardecer. Todos vão enterrar a Emily, inclusive o Isaac e o Luke — Desviei o olhar para um canto vazio da sala: — Eu quero propor um acordo. Eu volto pra dar o sangue que você precisa, e você me transforma em uma... Vampira.


Decisão drástica? Eu não sei, as coisas estavam mudando e eu continuava a mesma humana fraca e desprotegida, talvez estivesse na hora do vento começa a soprar sobre as velas do meu barco.


— Eu não poderia pensar em algo melhor... — Seu sorriso foi sínico, e me fascinava por inteiro. Eu me livraria daquele frenesi, e depois disso não poderia mais me controlar. Virei-me para ir embora quando fui impedida pelas suas mãos que me seguraram firmes.


— Hei... — Sussurrou se despedindo: — Não se esqueça de mim.


— Não vou.





A Desolação Do VampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora