Tudo parecia estar acabado, Alexis por instinto fechou os olhos e pensou: "Encontre o tesouro e os meus pais por mim, Micaelle."
As flechas estavam cada vez mais próximas, quando algo inesperado ocorreu, as flechas em questão de instantes, encheram-se de penas negras, e criaram asas transformando-se em pássaros, não, corvos! Que crocitaram e avançaram velozmente ao encontro dos arqueiros os atacando
Uma confusão de penas e gritos se formou, com os arqueiros antes bem posicionados, correndo desnorteados para todos os lados para além da aldeia, Alexis abriu os olhos tempo o suficiente para notar apenas os pássaros negros bicando os guerreiros, e os selvagens batendo os braços tentando livrarem-se dos impertinentes animais.
E á medida que a formação de arqueiros se desmanchava, uma pessoa aparecia, uma formosa mulher de capuz posicionando o cajado para a frente, com a ponta brilhando em uma luz pálida, parada em frente a Alexis ao longe.
A mulher abaixou o cajado e aproximou-se andando normalmente como se não houvesse caos algum em meio a aquele lugar, mesmo com o cenário dos homens aterrorizados acontecendo tão próximo a ela, sua face permanecia em uma estranha tranquilidade.
Seus olhos eram negros, em uma negritude tão encantadora quanto a da noite, sua pele era clara, seus cabelos eram encaracolados e longos, seu corpo magro era de curvas suavemente esculturais, seu capuz verde escuro lhe cobria os ombros e as costas, e nas costas possuía uma aljava vazia, onde em certa parte de seu caminho guardou o cajado que parou de brilhar, usava um cordão entalhado de pequenos ossos, vestia um colete de couro, e seu cinto possuía uma bainha onde havia uma pequena e fina adaga, era uma jovem adulta, na faixa dos 20 anos de idade.
O bárbaro que havia empunhando uma alabarda, tirou proveito do momento em que o cavalo de Alexis e Tony estava distraído para recuperar a sua arma de volta, ávido para destruir aquela mulher, "Aquela feiticeirazinha intrometida tinha de aparecer logo agora, já tá na hora de você sumir!"; e correu até ela com sua alabarda levantada.
A mulher então pegou a sua adaga e quando o selvagem estava bem próximo lançou-a acertando seu ombro esquerdo, o bárbaro caindo para trás jogou a sua arma para cima que girou em meio ao ar até pousar em sua coxa direita com o lado maior, o guerreiro gritou de dor e disse:
__ Sua vadia! Bruxazinha filha de uma...__ quando a feiticeira como se ele não significasse mais do que uma mosca passou por cima dele pisando fortemente na alabarda e prosseguindo seu caminho até o garoto como se nada estivesse acontecido.
__ Vai arder em Hellheim por causa do que fez, bruxazinha vira-lata!!
Então a mulher finalmente mostrou algum sinal de que havia se importado com ele, cessando seus passos, virando o olhar a ele e dizendo em um ar frio e sério:
__ Pelo menos eu vou arder com as duas pernas, aleijadinho
E novamente foi até o garoto, curvou-se até ele e disse:
__ Eu sou Gwenda, filha de Krauser e sacerdotisa de Odin e irei ajudar vocês a saírem desta aldeia.
Estava cada vez mais distante de seus amigos... outra vez, só que desta vez era ela a prisioneira e a que precisava de um resgate.
Ainda tinha o arco, as flechas e até mesmo a espada, porém não faziam diferença alguma, pois não conseguia usar nenhuma delas, em todas as suas tentativas o bárbaro conseguiu ser mais rápido e impedi-la a tempo, só lhe restava as próprias forças, mas de nada adiantava, pois o selvagem a segurava com firmeza, mas ainda persistia digladiando-se com todas as forças para finalmente conseguir se libertar.
"Tem de ter alguma forma de eu voltar, tem de ter pelo menos uma"; pensou Micaelle, escapara de uma série de dardos, do veneno de uma flecha e de ser morta por uma serpente, mesmo que ser orgulhosa não fosse de seu feitio, ter sido capturada de forma tão simples e não poder escapar para ela era uma ofensa.
De início pensou que o selvagem desejava a matar, no entanto em uma de suas tentativas, a mais próxima que chegou de empunhar sua espada, o selvagem machucou seu braço com sua espada, quando percebeu o que havia feito imediatamente empunhou a sua arma, o que para ela não fez sentido algum, pois se não desejava a matar, o que afinal iria querer com ela? Por alguns instantes pensou que o selvagem não lhe desejava mal, "não, não se pode confiar em nenhum desses bárbaros, é loucura pensar que eles possam ser amigáveis, nem que sejam pelo menos um deles".
Olhou em volta para ver se havia algo que poderia usar, um galho, pedra, pedaço de terra, qualquer coisa... talvez... talvez... as folhas daquele aventureiro, talvez estivesse alguma escondida... mas para onde quer que observasse, não avistava nada senão folhas de árvores.
"Tem de ter alguma coisa, eles precisam de mim... tem de ter algo que eu possa usar para me livrar desse bárbaro de uma vez..."
Seu desespero aumentou ainda mais quando percebeu que os passos do selvagem estavam diminuindo, curiosa olhou para a frente para ver finalmente para onde estava a levando.
Notou então que era uma clareira, bastante iluminada pelo sol, mas saber daquilo não diminuía seu receio, afinal de contas o local em que seus amigos quase foram devorados era nem de longe o mais escuro, não fazia ideia do que faria com ela naquela clareira, e não estava com nenhuma vontade de descobrir.
Estava ficando com cada vez menos opções... tinha de pensar mais depressa em uma solução.
Quando enfim a oportunidade apareceu, em forma de árvore, uma árvore havia salvo sua vida quando estava prestes a morrer, e novamente uma árvore surgiu para ajuda-la: "com certeza isso não é coincidência"
Estava próxima dela o suficiente para que a caçadora tomasse impulso com os pés e conseguir ir longe o suficiente para que o bárbaro não a alcançasse.
"1, 2... 3!", e assim fez, conseguindo com êxito escapar dos braços do selvagem e correr.
E Micaelle correu... correu com o semblante encoberto de esperança e determinação.
Mas foram curtos momentos de felicidade, pois o selvagem conseguiu a capturar novamente começando a carrega-la pela cintura, Micaelle digladiou-se novamente e gritou por socorro movida pelo desespero.
Quando enfim chegaram a lareira, o selvagem jogou a menina chão a frente.
Micaelle observou atentamente a lareira, aparentemente era um lugar agradável, e muito formoso, com belas árvores enfeitando ao seu redor, não havia caldeirões ou qualquer sinal de que iria se tornar alguma espécie de sacrifício, sentado a sua frente estava um velho homem, que apesar da idade avançada era robusto e forte, sua pele era clara, seus olhos escuros, cabelos e barba grisalhos, cabelos longos e barba curta, vestia uma capa cinzenta com capuz descoberto, colete de couro e camisa de pano branca, usava um cordão com uma pedra de ônix, na sua mão direita usava um cajado de madeira e outra um pedaço de galho ainda com folhas, Micaelle virou-se e ao seu lado viu Marcelo, deitado e de olhos fechados, partes de sua roupa estavam rasgadas e com folhas cobrindo certas partes do corpo.
__ Tentei cicatrizar seus ferimentos, o garoto está bem, apenas inconsciente__ disse o misterioso velho
__ Ele já estava inconsciente quando o encontrou?
__ Não, aparentemente estava os procurando, conseguiu dar conta de si mesmo suficientemente bem, quando o encontrei eu disse que desejava ajuda-lo, mas ele não quis me ouvir dizendo que conseguia se virar muito bem sem a minha ajuda e que não precisava de mim, até que um daqueles a quem chama de bárbaro o fazer desmaiar com uma clava
"Típico do Marcelo recusar qualquer ajuda"; pensou Micaelle, mas sabia que não podia culpa-lo por isso, também não aceitaria facilmente a ajuda de qualquer um que lhe oferecesse a mão, ainda mais vinda de alguém que fazia parte de um povo que dizimou um país inteiro, havia raptado seus amigos e quase os devorado, tinha de tomar cautela com cada palavra, pois estava num verdadeiro campo minado
__ E por que você estava nos procurando?__ perguntou Micaelle
__ Uma pergunta em troca de outra, lembre-se que é tão estranha a mim quanto sou pra você, sou Krauser, filho de Gunter e o de meu amigo é Ragnar, filho de Humbert, peço perdão pelo que ele tenha feito a seu braço
__ Sou Micaelle, filha de Gaspar e de meu amigo é Marcelo, e tudo bem, já levei uma flechada no ombro
Krauser deu pequeno sorriso e disse:
__Vejo que são bastantes fortes, não é surpresa que estejam dando tanto trabalho ao meu povo, vieram a estas terras esquecidas em busca de aventura ou algo material?
Micaelle hesitou, bastante receosa, porém recordou das palavras vindas do misterioso selvagem: "Uma pergunta em troca de outra".
__ Material, minha vez, por que estava nos procurando?
Krauser levantou um dedo e disse:
__ Um momento por favor__ em seguida dirigiu-se a Ragnar na própria língua:__ procure saber como e onde estão as outras crianças e tragam-nas aqui, mas desta vez não lhes façam nenhum arranhão
__ Não tenho certeza se gosto da forma que trata esses pequenos hereges__ respondeu Ragnar
__ É tão herege quanto eles caso os outros descubram
__ Sabe bem a razão de eu estar fazendo isso,__ retrucou Ragnar__ você ainda tem a sua magia para escapar, mas eu não tenho como escapar de uma horda de selvagens apenas com uma espada
__ Não é a "minha magia", é o poder que o altíssimo Odin deu a mim, e é com este poder que será muito bem recompensado
__ Espero que eles realmente valham todo esse valor__ e avançou floresta adentro
Krauser deu um suspiro, Micaelle indagou:
__ O que disse a ele?
__ Uma pergunta de cada vez, os procurava, porque sou um sacerdote, e um sacerdote tem o dever de servir e obedecer ao seu deus, e não é da vontade de meu deus Odin que sejam sacrificados
__ Odin muda de decisão muito rápido
__ Odin já não fala mais com aqueles a quem os capturou, meu povo tem olhos, mas não enxergam, estão tão cegos pela cobiça e sede de sangue que fazem as próprias leis, Odin já não fala mais com eles, eu e minha filha somos os últimos sacerdotes verdadeiros, e os únicos a quem Odin realmente se comunica, tentei várias vezes pregar a palavra de Odin a eles, mas estão tão surdos pelas próprias vontades que não nos escutam__ disse Krauser em um semblante triste e angustiado
"Ele parece falar a verdade, mas nem tudo é o que parece ser"; concluiu Micaelle e disse:
__ Sinto muito pelo seu povo, mas onde que eu e meus amigos nos envolvemos nisso? Somos hereges pra eles, e sinceramente nenhum de nós acreditamos no seu deus, se quer mais mensageiros procurou as pessoas erradas
Krauser então levantou o cajado rapidamente para a direita, que brilhou na ponta, Micaelle afastou-se para trás amedrontada e pôs as mãos ao arco, "Qualquer sinal de que ele vá atacar..."; o vento soprou mais forte e por alguns instantes Micaelle pensou que nada aconteceria, quando avistou um papel voando suavemente em direção a Krauser, que o pegou de imediato quando chegou próximo o suficiente, "Um papel? Será que...?", indagou Micaelle.
O cajado então deixou de brilhar, e o vento cessou de ser soprado.
Krauser então levantou-se e foi até ela lhe estendendo o papel.
Micaelle o pegou e leu:
"Depois de conseguir chegar outra vez ao país de Nicolau, vi 8 homens encapuzados, construindo o que pareciam ser santuários, basicamente velas negras ao redor de um crânio, talvez fossem informantes, o que significava que talvez pudesse saber onde estava Maria, mas eu não podia tomar o risco de tentar descobrir, na distância em que estavam de mim tentar capturar um deles seria jogar fora tudo o que eu havia feito para tentar sobreviver.
Eu tinha de arrumar alguma forma de chegar ao castelo sem ser visto, logo eu peguei o mapa e o abri, meu objetivo era alcançar o centro do país, e eu estava na saída leste, caso não houvesse nenhum informante poderia tranquilamente ir direto, caso eu fosse pela esquerda, além deles serem mais numerosos por aquele lado, aquele era a rota mais lenta, mas se eu tentasse ir pela direita as chances de eu passar despercebido seriam maiores, além de ser a rota mais rápida, estava decidido, eu dei uma leve olhada para tentar me recordar da rota e o fechei.
E andei me curvando andando o suficiente pra não provocar quase nenhum ruído, o plano parecia estar funcionando, eles realmente não percebiam minha presença, foi quando vi corvos pousando pelas ruínas altas, algo normal ou parecia ser até muitos deles me seguirem com os olhares, um, dois, e depois cinco, oito... não podia permitir que eles denunciassem minha presença, mas como fazer isso sem denunciar minha presença? Caso eu tentasse avançar mais pela direita podia correr o risco de me perder da rota fácil, além de ganhar uma grande exposição, quisera eu ser invisível.
Eu tinha de pensar rápido, meu tempo estava cada vez mais escasso, foi quando ironicamente aqueles corvos me deram uma brilhante ideia, já que eles pousavam nas ruínas mais altas podia despistá-los entre eles, e já que eles me seguiam aquilo também podia me ajudar ainda mais!
E assim eu fiz, ziguezagueei por entre as ruínas e consegui despistá-los com sucesso, e de repente também estava longe do alcance deles, longe do suficiente pra poder correr e fazer o barulho que eu quisesse, então assim eu fiz com uma grande sensação de liberdade.
E logo já estava próximo do castelo, olhei pra trás para conferir se alguém estava me perseguindo, eu vi um pequeno ponto negro ao longe... eu pensei que havia despistado todos eles... mas ele já não era mais uma preocupação, a não ser que usassem aqueles corvos como pombos-correios, não havia como eles informarem minha localização aos outros selvagens, e novamente corri rumo ao castelo amarelo.
Parecia que estava tudo correndo bem, quando exatamente oito corvos começaram a sobrevoar minha cabeça e eles começaram a ficarem cada vez mais próximos de mim e me atacaram, minhas costas, cabeça, pernas, eu não conseguiria chegar ao castelo daquela forma, as bicadas ficavam cada vez mais violentas, eu tinha de espantar logo aqueles demônios negros, tentei espantá-los com os braços, mais aquilo só fez piorar o problema.
Logo eu usei minha jaqueta como proteção para minha cabeça, aquilo havia amenizado a dor, mas não o suficiente para que eu conseguisse alcançar o castelo, foi quando eu vi... uma peitoral e elmo de cavaleiro, alguns passos a minha frente, aquilo com certeza não estava ali por acaso, era um milagre! Se eu conseguisse correr mais um pouco... meus passos estavam diminuindo cada vez mais á medida que as bicadas ficavam cada vez mais fortes, logo eu não resisti e caí no chão... já não aguentava mais aquelas dores... e o cansaço apenas fazia piorar o meu estado... era assim que minha jornada terminaria? Era o que parecia...
Foi quando eu recordei de Maria, não, eu não podia morrer agora, eu tinha de sobreviver, sobreviver por ela... sobreviver para livrá-la daqueles canibais doentes e tê-la de novo nos meus braços, e uma força surgiu dentro de mim, uma força que eu mesmo não sabia ter, e corri até aquelas partes de armaduras como se aquelas bicadas não fizessem sequer cócegas e consegui vestir as armaduras, e corri, corri e aquelas bicadas já não doíam mais, ouvia, mas não sentia mais dor alguma e então... então... eu finalmente alcancei o castelo! Com certeza aqueles corvos não eram normais, por que logo em meio aquelas oito pessoas eu havia sido o único alvo, por que logo eu? Bem, aqui
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A trilha- O tesouro de Nicolau VII
AventuraO nosso protagonista Alexis é professor em uma escola muito antiga que guarda histórias inimagináveis, mas a que ele gostaria de saber é a do desaparecimento de seus pais que estudaram nessa mesma escola. Em um dia em que ele se atrasa pra aula e é...