Capítulo 33- Incêndio azul

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__ Não podemos deixar Rhodes para trás.
__ Rhodes decidiu nos deixar primeiro, quando mais precisávamos dele, ele nos abandonou__ disse aquele que foi ameaçado de morte por Rhodes.
Dos 12, só restaram 4 que conseguiram escapar do castelo. Os que morreram, foram devorados e os que sobreviveram só ficaram vivos por conta da ajuda das fadas e suas chamas cadentes. A destruição que elas causaram provocou o extermínio da maior parte dos zumbis, o que deu tempo para que os quatro fugissem.
Estavam avançando para voltarem a aldeia, já não importava mais capturar as crianças, achavam que já estavam mortos naquele momento e se não estavam, pouco importava a eles, só queriam sair são e salvos daquela cidade afundada no caos.
Percorriam velozmente entre as ruínas, as várias pedras, a vegetação rasteira e o que eles chamaram de "incêndio azul", que nada mais era do que o fogo azul se alastrando por aquele lugar. Estavam desesperados e com medo de a qualquer momento serem atacados pelos seres alados.
__ Acho que elas nos viram!__ disse um deles, o pobre homem estava certo.
Belanoite e Solaria os enxergaram com um ar de superioridade, elas tinham a vida de cada um deles nas mãos, o que fariam?
Entreolharam-se, depois abriram um grande sorriso e disseram:
__ Danem-se as consequências.
Atiraram raios de fogo pelas mãos, que os atingiu de forma certeira nas costas, os desintegrando.
Escondido entre os arbustos, Cupido viu os seus amigos morrendo na sua frente, pôde ver a agonia e o desespero em seus semblantes enquanto as chamas os devoravam. Ficou com vontade de salvá-los, mas o medo o paralisou, sentiu-se impotente como nunca havia estado antes. Mordeu os lábios para não gritar, algumas lágrimas escorreram enquanto via a presença intimidadora das fadas no céu límpido, sentiu um misto de raiva e temor.
__ E pensar que Rhodes está se aliando a elas__ comentou Krauser, ao seu lado.
__ São as fadas, elas são do grupo dos deuses vanir, os deuses da prosperidade, natureza e fertilidade e que são inimigos dos Aesir, o grupo de deuses que Odin pertence. Mas as fadas também servem a Odin__ disse Gwenda.
__ Isso... não faz sentido__ comentou Cupido, confuso.
__ Bom, após os Aesir terem vencido as últimas batalhas contra os Vanir, eles entraram em um período de paz e os Vanir se tornaram submissos a Odin. Os Vanir são amantes da natureza e Odin da humanidade, assim como sua família e o restante dos Aesires__ disse Krauser
__ Então por que as fadas estão matando humanos?__ questionou ele.
__ Por que elas não enxergam os humanos como parte da natureza, mas como vermes, seus superiores Vanir e Odin não estão cientes da atrocidade que acabou de presenciar__ disse Gwenda.
__ Então elas cuidam da natureza, mas odeiam humanos, certo? E se os vanir e Odin não são coniventes com o que estão fazendo, qual a razão de elas acharem que podem desobedecer sem sofrer as consequências?
__ É uma boa pergunta, mas se me permite um palpite; devem estar fartas de serem limitadas por regras, vai saber o que mais elas farão até sofrerem de vez as consequências__ disse Gwenda.
__ Entende agora por que é tão importante encontrar o tesouro de Nicolau VII? É necessário freá-las antes que o pior aconteça e elas estão manipulando seu líder Rhodes esse tempo todo, que tem sangue nas mãos achando que está fazendo o bem__ disse Krauser.
__ Certo... mas não pensem que considero vocês sacerdotes os mocinhos da história, eu ainda não me esqueci do caso do incêndio. Vocês fazem parte dos sacerdotes traiçoeiros que auxiliaram aquele casal de assassinos a fugir, os mesmos que atearam fogo na Cabana dos Enfermiços. Na fuga deles para fora da aldeia, recordo-me bem que eles adentraram a cabana, ficaram encurralados e infelizmente recordo-me ainda mais de quando pegaram aquela tocha e provocaram um incêndio lá dentro matando inocentes, mulheres, homens, idosos e crianças que estavam tão enfermas que mal tiveram condições de fugir__ disse com a voz carregada de mágoa.
__ Foi um acidente__ disse Krauser com convicção.
__ Não acredito nas suas palavras vazias, acredito no que vi. Eu vou ajuda-los, mas vou detê-los não por vocês, mas porque não quero um incêndio ainda maior.
__ Então ajude, detenha elas antes que alcancem a aldeia. Ajude com o que faz de melhor, arqueiro, atire__ disse Krauser.
O arqueiro pegou uma flecha vermelha, posicionou no arco, mirou-as, estavam em uma posição dentro do seu campo de visão e atirou.
A flecha avançou em direção a Belanoite que, por sua vez, notou a flecha vindo até ela e, quando estava próxima de alcança-la, a pegou com uma das mãos. Então virou-se para sua irmã e disse com um sorriso soberbo:
__ Tem humanos tolos por aqui achando que essas agulhas vão nos machu...__ a flecha explodiu.
Uma imensa explosão foi vista no céu, desta vez havia chamas amarelas em contraste com os tantos tons de azul do ambiente, as fadas se separaram, caindo violentamente no chão em direções opostas e bem distantes.
__ Cuidem da ruiva que cuidarei da outra__ disse Krauser e correu até um dos focos da queda, em meio ao caminho ele parou, com seu cajado ele fez um pedaço da terra debaixo de seus pés levitar com ele junto. Assim se moveu até lá de uma maneira mais veloz como se estivesse em cima de uma prancha de surf.
Gwenda e Cupido fizeram o que ele disse, Gwenda fez o mesmo feitiço, mas levou Cupido no mesmo bloco que o dela.
Em meio ao caminho, Krauser pegou uma das velas escuras de um dos altares da cidade quando chegou ao seu destino, lentamente pousou o bloco no chão e saltou para a terra firme. Então pegou, aproximou-a a seu tórax e disse:
__ Mortuus, stare Helheim, mancipia sua pauperem, et luce ipsa servitutis fide.
Belanoite levantou-se com dificuldade, estava se recuperando do impacto da queda, foi quando ela e Krauser se olharam face a face.
Krauser tenta transparecer que não estava com medo, Belanoite novamente fez suas mãos flamejarem, em seus olhos ela o fuzilava.
__ Por muito tempo me preparei para esse momento, não tenho o que temer.
__ Se és isso que pensa, então não se preparastes o suficiente__ e atirou fogo.
Krauser protegeu-se colocando seu cajado a frente de si e criando uma parede invisível que lhe serviu de escudo e conseguiu, por meio desta barreira, ainda lançar o fogo de volta a fada que, por sua vez, capturou cada uma das duas esferas com ambas as mãos como se estivesse tocando algo sólido e frio. Belanoite atirou de volta ao adversário, só que desta vez com maior força e velocidade, porém a proteção mágica do sacerdote não sofreu nenhum dano.
__ Interessante, é a primeira vez que um humano consegue repelir e resistir às minhas chamas. Primeiro me surpreendeu com uma flecha explosiva, agora com um escudo invisível, vejamos o quão longe pode ir com suas tecnologias.
Lançou uma rajada de tiros nele que, por sua vez, manteve sua defesa em todas elas. A sua barreira artificial repelia as chamas assim como as balas eram ricocheteadas quando colidiam com certas superfícies metálicas, o fogo que ao ir de encontro com o escudo de Krauser era redirecionado para outra direção, geralmente no chão ou em Belanoite que esquivava-se, pegava as bolas ou era atingida, quando isso ocorria sua roupa e pequenos ferimentos de queimadura eram abertos, mas regenerava-se rápido e seu vestido voltava ao seu estado anterior.
A impressão que Krauser tinha quando ela era atingida era de que simplesmente permitia-se ser atingida, a fada não esboçava nenhuma reação de dor, permanecia sempre com o mesmo olhar predatório, como se estivesse o devorando com os olhos. E ele estava certo em pensar de tal maneira.
Belanoite não sentia nada quando as chamas a tocavam, apenas um prazeroso calor, ela permitia-se ser atingida para dar um pouco de alegria ao adversário, daquela alegria orgulhosa de sentir a vitória chegando afim de que ele relaxasse mais em sua defesa, e por conta de seu orgulho cego vacilaria. Porém ele não demonstrou satisfação, manteve-se compenetrado, estava consciente de que não estava lidando com um inimigo qualquer, foi então que a fada percebeu que ele não era um humano tão tolo.
Os múltiplos tiros que executava eram para saber até onde ia sua impressionante defesa, estava estudando-o. Depois de tantos tiros sem causar dano algum, concluiu que deveria pegar mais pesado.
A fada lançou um longo raio de fogo pelos dois braços, o fogo atingiu o escudo e desta vez houve mudanças visíveis. Krauser demonstrou um esforço maior em bloquear este ataque, seu corpo começou a ser empurrado lentamente para trás, ao mesmo tempo que procurava manter-se firme pressionando fortemente os pés no chão, o escudo começou a apresentar rachaduras visíveis como se fosse um espelho rachado.
Parecia que o sacerdote estava lutando contra uma forte ventania, mais rachaduras começaram a aparecer e seu próprio corpo também demonstrava mudanças, suas veias estavam saltadas, sua pele rubra, parecia que estava exercendo força física para carregar algo pesado demais, suas pernas começaram a estremecer. Estava procurando resistir ao máximo, mas lutar até o limite não era o suficiente ao enfrentar uma força da natureza.
O velho sentia dores no corpo por estar exercendo tanta força, não sabia o quanto ele e seu escudo, que apresentava cada vez mais rachadura, suportaria. Belanoite, percebendo seu sofrimento, aumentou ainda mais a força de suas chamas.
O final daquele duelo parecia certo, até os mortos-vivos começaram a atacar as fadas pelas costas, fazendo com que ela recuasse e cessasse os tiros para enfrenta-los.
Eles a mordiam, arranhavam, socavam, chutavam, enquanto Belanoite revidava tentando os empurrar com o corpo, os socando, chutando, incinerando, balançando-se e girando para que saíssem de cima dela.
Primeiro veio um, depois dois, três e rapidamente se transformaram em dezenas, que Belanoite passou a repelir usando os braços e pernas para os jogarem para longe, também os cabeceava direto na cabeça afim de que perdessem de vez a consciência.
Krauser sentiu-se aliviado pela ajuda, estava sem o escudo e também ofegante:
__ Vocês demoraram demais, finalmente.
Depois disso tirou proveito para levantar a rocha (que usou para locomover-se) com a força de sua mente, utilizando seu cajado para externalizar seus pensamentos. Não foi uma tarefa tão fácil, apesar de não exercer força física, como estava esgotado fisicamente fazer a rocha levitar se tornou uma tarefa árdua.
Seu nariz chegou chegou a sangrar, mas conseguiu, precisava ser rápido, pois os zumbis não seriam distração suficiente por tanto tempo. Concentrou-se bastante para realizar o próximo passo, depois partiu para a ação lançando a rocha em alta velocidade direto na fada.
O objeto acertou parte de seu dorso e Belanoite foi empurrada para longe junto com a rocha e os mortos-vivos. Uma pessoa comum teria morrido esmagada ao ter uma rocha daquele tamanho jogada nela, mas Belanoite não era uma pessoa, e nem comum.
Krauser quase desmaiou depois de ter feito esse movimento, mas esforçou-se e conseguiu se manter consciente, limpou o nariz e a passos rápidos foi até ela.
A medida que se aproximava viu mais a rocha do que a fada, daquela criatura ele só viu partes do braço (ele realmente havia a acertado em cheio). Apesar de ter imaginado este momento várias vezes em sua mente, não pôde evitar de ter ficado impressionado consigo mesmo e surpreso pelo estado da fada, pois nunca presenciou um ser tão poderoso em um estado tão vulnerável.
Teve até dúvida se ela tinha morrido, porém este momento passou rapidamente quando Belanoite passou a mexer os braços. Ele sentiu alívio, pois precisava dela viva e depois do alívio foi ao medo quando, com muita facilidade, ela tirou a enorme rocha de cima de si.
Recuou e antes que tivesse tempo de reagir, a fada foi até ele velozmente, com um cristal de vidro saindo do braço esquerdo que atravessou o ombro direito do sacerdote que, por vez, ajoelhou-se, rangeu os dentes de dor, conteve o grito apesar de não evitar um gemido, mas ainda assim não largou o cajado. A fada disse:
__ Quase que me fez um grande estrago, sorte que eu tinha aqueles escudos humanos__ e perfurou a lâmina ainda mais profundamente, percebendo o esforço do sacerdote ao segurar seu cajado, disse:__ sua persistência é admirável, sabia? Mas está na hora de aceitar a derrota, meu velho__ e tocou no cajado, que começou a emitir um brilho na ponta:__ olhe só, seu brinquedo de madeira brilha. Você é cheio de surpresas.
O brilho cresceu, instantaneamente se transformou em um ofuscante clarão de luz que imediatamente cegou a fada que, por sua vez, soltou Krauser bruscamente.
Belanoite primeiramente gritou de dor, pois além de não enxergar mais, seus olhos ardiam bastante, digladiou-se freneticamente, andou desesperada e disse enfurecida:
__ Danação, você me paga, seu velhote!­­__ e atirou fogos de suas mãos.
Um grito humano foi ouvido, Belanoite havia atingido alguém, sentiu-se um pouco satisfeita por saber disso.
Mas Krauser estava atrás dela e quem ela havia acertado era um zumbi. Tirando proveito disto, Krauser levantou-se apontando o cajado para ela, concentrou-se e atirou um longo raio de plasma verde vindo da ponta de seu cajado, que atingiu asas da fada que, por sua vez, caiu bruscamente para a frente.
O sacerdote, apesar de estar sangrando muito, foi até ela cambaleante, porém o mais rápido que podia. Desta vez conseguiu aproximar-se melhor dela, conseguindo ficar frente a frente, a fada estava estatelada no chão. Desta vez demorou um pouco mais para acordar, estava deitada de bruços, ao erguer a cabeça viu o seu inimigo, lhe dirigiu um olhar de desprezo e com os cotovelos apoiados no chão disse:
__ Não deveria estar tão perto, sabe que posso acabar com você.
__ É, eu sei, mas não vai fazer isto, se fosse o fazer, já o teria feito. Não é de ameaçar primeiro antes de agir.
__ Como sabes disso? Nem me conhece.
__ Conheço sim, há muito tempo, mas confesso que a primeira vez que a vejo tão vulnerável. Claro que me preparei para te derrotar, mas ainda assim estou surpreso por ter te vencido.
__ É tolo por pensar que vencestes, me recuperarei logo e arrancarei seu coração junto com seu otimismo idiota. E é mais tolo ainda por não ter me matado logo...__ tentou levantar-se, porém sentiu dores nas costas e seu corpo pesava feito chumbo__ o que fez comigo?
__ Retardei sua recuperação, o tiro que dei foi nas asas, a única fraqueza da sua espécie__ disse enquanto cicatrizava seu ferimento no ombro com a magia de seu cajado.
__ Foi por isso que não me matou logo, para me fazer morrer lentamente?
__ Bobagem, não pretendo lhe matar.
__ Não preciso da tua clemência.
__ Acha que me importo com o que Vossa Alteza precisa? Você e tua espécie são todas desprezíveis e cruéis, não merecem clemência.
__ Foi pra isso que me deixou viva, para me julgar? O que eu fiz para ser considerada desprezível e cruel?
__ Matou humanos inocentes.
__ Repetindo: o que fiz de errado?
__ Então não sente arrependimento algum pelo que fez?
__ Humano bom é humano morto__ disse com um olhar de desprezo.
__ Você não era assim quando nos conhecemos.
__ Do que está falando, seu velho maluco? Nunca sequer falei com você!
Krauser demorou um pouco para responder, ajoelhou-se, fitou-a profundamente e disse:
__ Olhe nos meus olhos.
__ Não! O que quer que for fazer, diga logo!
__ Pra quê pressa? Não vai a lugar algum, quero que se lembre de quem eu sou. Por favor, olhe pra mim.
Belanoite hesitou, mas cedeu.
Se olharam longamente, mas nada veio à mente da fada até que Krauser disse:
__ Você me salvou da morte, de ser morto por uma dúzia de flechas, me ajudou quando não tinha mais nada.
Ainda com os olhos fitos nele, algo veio a lembrança da fada, desta vez seu semblante alterou-se, ficou em choque, arregalou os olhos e disse surpresa:
__ Não é possível, você é... era para estar morto, isso já faz muito tempo! Como?! Como esteve vivo todo esse tempo?
__ A sede por justiça me manteve vivo__ depois aproximou seu cajado da testa dela e disse__ agora direi o que farei, vai me servir de agora em diante, de mente e de corpo__ e a ponta do cajado passou a soltar descargas elétricas.
__ Do que está falando? Podemos resolver as coisas de uma forma mais pacífica, posso lhe trazer a justiça que tanto procura, mas lhe garanto que aquele tesouro não é a solução.
__ Da última vez contei com sua ajuda e a de suas irmãs, mas me abandonaram e quando vieram ao meu socorro já era tarde demais. O tesouro vai ser encontrado e você vai me ajudar.
__ Nunca!__ disse Belanoite, um pouco exaltada.
__ Eu não pedi sua permissão. Hora de aceitar a derrotar, minha velha amiga__ e tocou o cajado na sua testa que, por sua vez, a eletrocutou, o que a fez gritar de dor, um grito altíssimo que poderia ser ouvido por quilômetros.
Do outro lado, para além desta batalha, entrementes Gwenda e Cupido não estavam indo tão bem. Cupido estava desacordado, com um disco de terra ao seu lado e com um ferimento aberto na testa, Solaria havia atirado nele com aqueles discos, várias flechas estavam espalhadas por toda a parte e Gwenda lutava para sobreviver.
A sacerdotisa estava atirando raio de plasma verde de seu cajado enquanto Solaria atirava fogo de suas mãos. Plasma e fogo encontraram-se e disputavam forças.
Gwenda estava há muito tempo naquela posição, seus braços doíam enquanto Solaria não demonstrava sinal algum de desgaste físico, a sacerdotisa não saberia por quanto tempo chegaria a suportar disputar forças contra aquele ser tão poderoso. Temia que iria sofrer o mesmo destino daqueles três bárbaros que havia visto morrer...
A situação passou a piorar ainda mais quando Solaria passou a avançar passos para a frente, junto a isso as suas chamas ganharam maior força e intensidade e a fada, para complicar ainda mais, fez com que crescesse dentro de si dois grandes tentáculos, que germinaram de seus ombros, eles eram duros feito pedra, mas bem articulados, pontiagudos na pontas e eram semelhantes a patas de aranha, além de serem enormes. Eles avançaram velozmente contra a adversária.
Ao ver aquilo, as pernas de Gwenda estremeceram de medo, ela ficou pálida, até que duas flechas apareceram em meio ar, e, antes que os tentáculos afiados a tocassem, as flechas atravessaram neles salvando assim a sacerdotisa.
Pela primeira vez Solaria demonstrou dor. Cupido havia recobrado a consciência, mesmo ferido ele ainda conseguiu adquirir forças para atirar uma flecha, que se multiplicou em duas em meio ao ar.
Gwenda deu uma leve olhada a ele, lhe dando um sinal de aprovação como forma de agradecimento.
A situação dela passou a ser favorecida ainda mais quando os mortos passaram a atacar a fada por trás, o que enfraqueceu as chamas de Solaria ao ponto de se apagarem aos poucos, pois suas atenção passou a se voltar contra aquelas inoportunas criaturas. Foi quando o plasma ganhou mais espaço e atingiu a adversária, fazendo-as cair para trás junto a seus algozes a uma grande distância.
Desde o início daquela luta o arqueiro e a sacerdotisa estavam perdendo, foi apenas agora que as coisas passaram a melhorar um pouco. Solaria não parecia querer pegar leve, pois havia se controlado demais por um bom tempo afim de se adequar às regras, mas agora que estava quebrando-as e não se importava mais com isto, pretendia explorar ainda mais o seu potencial.
O lugar onde Solaria parou, ao longe soltava fumaça. Gwenda foi até lá, armada com seu cajado e disse a Cupido:
__ Mantenha o arco posicionado__ e ele assim o fez, também foi ao destino da queda, porém mais afastado dela.
Havia uma cratera naquele destino, Gwenda aproximou-se mais, percebeu que no lugar em que a fada deveria estar não havia ninguém.
__ Está vendo ela? Eu não vejo nada__ disse Cupido.
__ Também não vejo__ disse, apreensiva e depois disse a ele__ fique atento a tudo que estiver ao seu redor e ati...__ interrompeu-se.
__ Saúde?__ disse Cupido, confuso.
__ Atir...__ estava com dificuldades em falar, seus olhos arregalaram-se, suou frio.
__ O que houve?__ disse Cupido, levemente preocupado.
__ Al... guma coisa me mordeu...__ seu calcanhar estava marcado pela mordida de um animal peçonhento, olhou para trás e viu uma serpente rastejando no chão__ cobra.
__ Onde?
__ Ali...__ suas pernas estremeceram, sentiu vertigem, apontou seu cajado para o animal, mas tremia tanto e estava tão tonta que estava incapaz de segurar direito o objeto, a cobra lentamente veio até ela, com uma olhar malicioso. Gwenda virou-se para trás e tentou fugir de maneira desajeitada.
Foi quando a cobra parou, ganhou braços, pernas, passou a crescer, tomar forma humana, corpo de mulher, asas de libélula até que se formou a figura de Solaria.
Gwenda tentou avançar mais rápido, mas acabou tropeçando, foi quando o cajado escorregou de sua mão e foi para longe.
Solaria a pegou por trás, puxou seus cabelos, fazendo com que se ajoelhasse.
Cupido, percebendo aquilo, ficou prestes a atirar, até que Solaria colocou Gwenda na sua frente e disse:
__ Vamos, atire!
O arqueiro abaixou o arco.
__ O que está esperando?__ continuou provocando__ Atire! Eu estou bem aqui, não confia na sua mira?
Cupido ficou enraivecido.
__ Atire...__ desta vez foi Gwenda quem disse, bastante sonolenta.
__ Ouviu a moça, atire, você não terá outra chance depois que eu acabar com ela.
Ficou indeciso, já não sabia se tinha chance de vencer e ao mesmo tempo não queria ter o sangue de Gwenda nas mãos.
__ Não atire__ disse uma voz feminina.
Solaria reconhecia aquela voz, olhou para trás e viu que era de Belanoite.
__ Seria poético ver a sacerdotisa de Odin morrendo desta forma, mas tenho uma ideia melhor__ disse Belanoite.
__ O que houve com o velho?
__ Virou pó__ disse com um sorrisinho de orelha a orelha.
Gwenda, ao ouvir isso, se agitou furiosamente.
__ Parece que alguém não gostou da novidade__ disse Solaria, continuou__ acalme-se, logo você vai ficar junto com seu papai, ou seria vovô? Enfim...
__ Não antes de uma morte lenta e dolorosa__ comentou Belanoite.
__ O que tem em mente?
Antes de responder, Belanoite analisou a sacerdotisa profundamente, que sangrava bastante no calcanhar, a área em que levou a picada:
__ O que fez a ela?
__ A envenenei.
__ Ela precisa ser curada.
__ O quê? Por quê?__ disse Solaria estranhando aquela atitude.
__ Espere e verá__ em seguida tocou na área da mordida, Cupido levantou o arco até que Belanoite disse__ abaixe o arco! Estou dando a sua parceiro um tempo a mais__ hesitante, o arqueiro cedeu.
Em seguida Belanoite partiu para frente de Gwenda e disse a ela com certa simpatia na voz:
__ Agora seu calcanhar está formigando, mas é temporário, vai fica sonolenta por um tempo, o que é natural, efeito da cura.
__ Vamos logo com isso!__ disse Solaria, impaciente.
Belanoite foi até o cajado de Gwenda, o pegou com os dois braços, foi até Solaria e disse em seus ouvidos:
__ Segure firme.
Solaria deu um sorriso malicioso. Belanoite foi para frente de Gwenda e disse:
__ Seu próprio cajado a matará. Bem mais poético, não é?
Cupido tentou atirar até que Belanoite percebeu, mostrou a ele sua mão flamejante e disse:
__ Se quer ser o primeiro a morrer, atire.
Cupido desarmou-se, com medo de sofrer carbonizado como seus companheiros.
__ Bom garoto__ disse ela, que apagou suas chamas, colocou as mãos no cajado com firmeza, posicionou o objeto para trás de suas costas, mirou na cabeça de Gwenda e enfim moveu-o velozmente para atingi-la.
Gwenda instintivamente fechou os olhos, ouviu um barulho de algo sendo atingido, mas não sentiu ter sido tocada. Belanoite golpeou Solaria direto na cabeça. A fada caiu velozmente para trás e pousou rolando no chão.
Após ter se recuperado do impacto, levantou-se lentamente, meio desnorteada e disse:
__ O que está fazendo?
Belanoite colocou-se à frente de Gwenda, encenou um semblante de arrependimento e disse:
__ Perdoe-me. Sou tão desastrada__ e lançou o cajado em sua irmã que, por sua vez, o pegou e o jogou para o lado. Ao mesmo tempo que isso ocorria, Belanoite efetuou mais um ataque, foi até ela e deu um forte chute no abdômen da irmã.
Solaria caiu no chão novamente, levantou-se com dificuldades e com dores, disse:
__ De que lado está?
__ Eu abri meus olhos, Krauser os abriu__ disse com um sorriso afetado e um olhar sinistro.
__ Krauser?__ olhou em volta para procura-lo e disse:__ onde ele está, sua mentirosa? __ Bem aqui__ disse apontando para a própria cabeça.
Solaria surpreendeu-se, ficou pensativa e disse:
__ Pois eu vou arrancá-lo daí__ cerrou os punhos, que passaram a flamejar.
E assim o duelo entre elas começou.
Entrementes, Gwenda observou aquele encontro bastante confusa, até que alguém tocou em seu ombro e disse:
__ Eis uma cena que não se vê todo dia.
Ela olhou para o lado e viu que era seu pai, o abraçou e disse:
__ Você está bem?
__ Estou__ disse com serenidade.
__ Como conseguiu vencê-la?__ disse curiosa.
__ Ela subestimava os humanos, usei essa fraqueza a meu favor, Ah, oi Cupido!__ saudou o arqueiro que vinha até ele.
Cupido respondeu:
__ Pensei que tinha morrido.
__ Vaso ruim não quebra fácil__ disse bem-humorado e depois perguntou__ tiveram muitas dificuldades por aqui?
__ Tivemos, sua filha quase morreu envenenada porque fui desatento.
__ Não se cobre. Aquela cobra foi um truque sujo__ respondeu Gwenda.
__ Vejo que se divertiram.
__ Como conseguiu vencer?__ indagou Gwenda
__ Bom, vou contar enquanto observamos este espetáculo__ disse Krauser.
__ Tá frio aqui, o clima mudou de repente__ comentou Cupido.
__ É o que ocorre quando fadas se enfrentam, mudanças climáticas fortes. Por isso elas evitam brigas.
Em seguida Cupido notou uma atípica presença de mortos-vivos ao redor deles, o que os fez empunhar seu machado. Krauser foi até ele para o tranquilizar, dizendo:
__Acalme-se, eles estão do nosso lado tanto quanto Belanoite está.
__ Quem é Belanoite?
__ A que salvou minha vida__ respondeu Gwenda.
__ E ela salvará mais vidas ainda, junto com a sua outra irmã, Solaria, que em breve se juntará a nós também. Esta luta não será muito prolongada, caso contrário o clima piorará. Iremos agir no momento certo, mas por enquanto apreciemos a trágica vista do confronto entre estas duas forças da natureza__ disse Krauser.

__ Cadê vocêêês?!__disse Juníper, em tom musical.
Não houve resposta alguma, apenas silêncio naquela floresta, apenas outros sons ao longe eram ouvidos, difusos, ora de gritos, ora de objetos quebrando.
O quarteto estava escondido atrás de árvores: Alexis e Micaelle em uma árvore enquanto Marcelo e Tony em outra. Todos estavam aflitos.
__ Eu consigo escutar a respiração de cada um de vocês, não me façam vir até aí. Chega de brincar de esconde-esconde, Apenas quero conversar, não se preocupem, se colaborarem podem sair daqui vivos.

A trilha- O tesouro de Nicolau VIIOnde histórias criam vida. Descubra agora