Capítulo 2- Aguarde... Nicolau!

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"A sorte de uns é o azar de outros".

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Na sala da diretoria, o diretor Sr.Coleman estava de pé posicionado de costas atrás de sua cadeira de frente a extensa estante de livros, a sua esquerda e a sua direita havia armaduras de cavaleiros medievais. O diretor era careca, de olhos cinzentos como se fossem feitos de fumaça, pele clara, possuía 45 anos, mas aparentava ter cinco anos a mais pelo fato de sorrir e rir poucas vezes, estava com um colete branco e por baixo uma camisa social azul clara e calça marrom, segurava um grosso livro aberto vermelho mas não olhava um livro e sim um mapa medieval dobrado em duas partes, mas apenas fitava a primeira cujo aparecia uma grande cidade desenhada, e no centro dela havia um magnífico castelo amarelo e dele iniciava uma linha tracejada que era a trilha para algo, refletia pesarosamente sobre o objeto e em seguida apenas como palavras sussurrou: "Aguarde... Nicolau!"

Se o diretor soubesse estava encrencado, avançou cada vez mais depressa, a escola tinha dois andares, sua sala era no primeiro, faltava poucos passos para alcançar a escada, quando viu um vulto, conseguiu perceber apenas alguns riscos negros, Alexis cessou o passo e olhou para trás, um passo para pisar nos degraus, viu um ser humano que o observava por detrás de uma parede, primeiro corredor próximo da escada e á esquerda.
Era quase de seu tamanho, a luz do sol passava tão pouco por ele que parecia uma sombra, o que viu com nitidez foram seus óculos, desconfiou que fosse mais uma das criaturas que havia visto, um mágico das trevas talvez ( Alexis gostava de inventar nomes aos monstros que desconhecia), curioso se aproximou, mas o misterioso ser percebeu e adentrou ainda mais o corredor começando a correr, Alexis gritou a ele:
__ Ei, espera. Por que você está me observando? Vamos conversar!
Mas ele ainda corria como se não estivesse orelhas, naquele mesmo corredor era a diretoria e foi lá que ele entrou, Alexis tinha várias perguntas em sua mente, mas seja quem fosse o tal bisbolhoteiro não parecia ser alguém muito amigável, disse receoso:
__ Ah não!__ tinha um péssimo pressentimento.
Ele havia um palpite de quem poderia ser a tal pessoa, decerto que era uma pessoa de carne e osso, mas não discordava que fosse das trevas, pois para estar o observando e logo ir a diretoria de boa intenção é que não era. Mas fosse o que fosse não era hora de descobrir, tinha um atraso enorme para compensar, olhou levemente o relógio e se assustou ainda mais, 12:37, oito minutos.
Finalmente avançou para os degraus, um, três, cinco, seis, sete, dez... nada de um degrau de cada vez, ainda havia esperança em salvar seu emprego.
Primeiro andar, sua sala estava no corredor á frente, parede esquerda, primeiro corredor, quinta porta, estava prestes a vencer um adversário de peso.
Passou da primeira, logo da segunda.
Terceira...
Quarta!
E enfim chegou! Estava bastante cansado, ofegante, bastante suado, e sua jaqueta não ajudava muito, sentia como se estivesse queimando, olhando para o chão desejando deitar-se nele, quando enfim dirige a sua vista para a sala.
Ficou surpreso, ela estava uma completa confusão, alunos jogavam bolas de papel uns nos outros, valentões encravando cuecas ou dando cavadinhas nos nerds, nerds gritando, amantes de rock com fones de ouvido cantando tão alto que pareciam insanos, pessoas gargalhando e conversando em voz alta e outros discutindo. Alexis grita:
__ Silêncio!
Mas eles continuavam a bagunça sem nem ao menos o olharem, o coral de gritos vencia a sua voz, novamente gritou:
__ Silêncio!
Mas seus alunos ainda não o dão atenção, falou mais duas vezes para garantir, parecia que era um ser imaginário e então... as chamas da raiva começam a consumi-lo como se fosse ele próprio lenha e semente da impaciência começa a brotar, repetiu mais oito vezes, mais ainda assim... parecia invisível e enfim perdeu de vez sua paciência, franziu a testa e sua face enrubesce feito pimenta, com diversas veias verdes e roxas saltando, empurrou sua mesa para a frente e ao meio, subiu, pôs-se de pé e em frente a todos gritou ao mais alto que seus pulmões admiravelmente suportavam:
__ Silên... ciooooooooooooooo!!!
Finalmente conseguiu a atenção deles e mais do que esperava, os deixou boquiabertos e extremamente surpresos, costumavam o ver feliz, alegre e fazendo piadas sobre o assunto, naquela sala seus alunos possuíam 13 e 14 anos.
A sala ficou em um silêncio inacreditável, tanto quanto o silêncio no corredor, Alexis desce ao pulo da mesa e fala em seu tom normal:
__ Eu sei que... estou muito atrasado, me desculpem, eu tive um pequeno problema que me impediu de chegar na hora certa.
E então um de seus alunos, diz:
__ Que tipo de problema?
__ Eu... tropecei e... caí.
Não iria dizer obviamente que havia se distraído com a lenda de um tesouro de doces, então uma de suas alunas perguntou desconfiada:
__ Você... tropeçou?
__ É... isso mesmo.
__ Em quê?
__ Tropecei em uma... ma... formiga.
__ Numa formiga?
__ Sim, muitas pessoas costumam tropeçar nelas.
__ Sério? Não sabia! Me diga uma por exemplo.
__ Eu
__ Você não conta
__ Bem... é... __ ficou pensativo por alguns instantes, como visto mentir não era um talento que possuía, voltou a falar:__ É... melhor eu começar a aula logo, já perdemos tempo demais, hoje a aula de hoje será sobre a revolução fran...__ o som do sino do recreio o interrompe.
E os alunos saem das cadeiras e exclamam:
__ Uhuuuu!__ logo a confusão de vozes recomeça e um tumulto é formado na porta da sala, com todos se contorcendo, empurrando como se a porta fosse desaparecer.
Frustrado Alexis termina o que disse:
__ cesa.
O tumulto perdurou por um longo tempo quando finalmente eles resolvem se organizar, mas enquanto a cena acontecia Alexis esteve em um olhar entristecido, decepcionado e frustrado por ter perdido uma aula, imaginou o tamanho da encrenca que estava com o diretor e da forma como iria o demitir, muitas vezes observou professores saírem daquela sala chorando ou sofrendo ataques cardíacos, por este último motivo o corredor onde a diretoria estava foi chamado de "Corredor da Morte" e a cadeira onde se sentavam de "cadeira elétrica", felizmente todos os professores não chegaram a morrer, a esperança de Alexis finalmente saber de seus pais estava acabada, não, não ia desistir, teria que arrumar uma boa desculpa por seu atraso, pois se dissesse que foi por causa da lenda de um tesouro de doces...
Como mentir seria difícil, pois era péssimo nisso e logo ele sai da sala cada vez mais nervoso e amedrontado.
Estava torcendo para que o diretor não o chamasse e fosse ao refeitório sem preocupações, começou a pensar que talvez o diretor não descobrisse se aquele ser não entrasse na sua sala, aquele... ser, maldito ser! Havia um pequeno palpite de quem poderia ser o a tal pessoa das , tinha quase absoluta certeza que era ele... quem mais iria o querer mal? Quem mais que dele tinha tamanho ódio? E seu tamanho, o óculos, se encaixava perfeitamente no perfil "dele", Marcelo! O tenebroso ajudante do diretor!
Ao corredor, ainda ao primeiro andar observou os grupos de adolescentes sentados ao chão em círculos conversando aos risos preenchendo a escola de alegria, como queria estar com eles naquele momento e não preocupado com sua provável demissão, "crianças não deveriam se preocupar com essas coisas"; pensou ele.
Logo terminou de descer os degraus, logo faltava alguns passos para chegar ao "Corredor da Morte", seu coração acelerava os batimentos, começava a entender a razão das quase mortes. De um corredor a outro era como se o dia em instantes tornasse a virar noite, pois antes ainda havia a alegria dos alunos quando desceu mas quando adentrou o mortífero corredor apenas havia um aluno brando, ouvindo música e lendo um livro.
Lentamente andou, depois daquele corredor havia um único corredor para outro lugar, o que obrigava os alunos a passarem por ele, á esquerda e mais ao longe havia o refeitório com os portões de madeira bem esculpidos com o que pareciam serem runas centenárias. Então estava em frente a porta com o receio do diretor sair de lá agora mesmo e chamá-lo para se sentar na "cadeira elétrica".
Mas da porta passou tranquilamente e também do "Corredor da Morte", ficou feliz e ao mesmo tempo confuso, o diretor nunca contou o que odiava, porém através de seus olhos havia algo na forma como o observavam... que Alexis não sabia explicar muito bem mas algo que... dizia que não era bem vindo naquela escola, que a primeira oportunidade que estivesse o demitiria imediatamente.
Então... por que não aproveitá-la?
Aquilo o deixou intrigado, em instantes chega a conclusão de que ele ainda ia demiti-lo, só que naquele instante devia estar tratando de algo mais urgente. Se estes poderiam ser seus últimos momentos na escola teria que aproveitá-lo ao máximo, como não havia tesouro de doces para aproveitar, o refeitório servia de consolo para sua fome imensa, mal esperava provar daquelas comidas deliciosas, isto é, dependendo do humor da cozinheira, pois vivia terminando e conseguindo algum namorado.
Em uma semana estava com um namorado, na outra havia terminado, na semana com o novo amor enfeitava o refeitório de delícias que de tão boas que eram lambia-se os beiços, essa semana foi considerada a semana de sorte, mas na semana que havia rompido era o período em que seu mau-humor aparecia, as comidas sofriam grandes alterações, como se estivesse descontando sua raiva nos inocentes alimentos, e essa semana passou a ser chamada de semana de azar. Uma vez Alexis nessa semana devorou um purê que mais parecia esterco de boi de cor branca, era tão ruim que deveria ter sido premiado por ter comido tudo.
Não foi informado sobre a vida amorosa da cozinheira, cruzava os dedos para que estivesse boa.
Logo estava na frente do refeitório, paraíso ou purgatório, era hora de descobrir. Um passo para entrar, quando sentiu alguém cutucar seu ombro, virou e sua aflição retomou, era ele, Marcelo, o temível braço direito do diretor e seu grande inimigo, com um malicioso e pequeno sorriso disse:
__ Sr. Coleman deseja falar com você e ordenou que me acompanhasse até a sua sala.
O que Alexis entendeu foi:
__ A cadeira elétrica o aguarda.

A trilha- O tesouro de Nicolau VIIOnde histórias criam vida. Descubra agora