Capítulo 34- Cabo de guerra

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__ Fugir?__ sugeriu Micaelle.
__ Pirou? Ela vai nos matar!__ comentou Alexis, preocupado.
__ Funcionou comigo da última vez.
__ É, e todos os outros foram capturados e você quase morreu envenenada.
__ Então o que sugere?
__ Talvez... lutar?
__ E depois eu que sou a pirada.
__ Melhor do que morrer nas mãos dela, foi loucura também enfrentar aquele berserker, mas nós o derrotamos__ declarou Alexis.
__ Antes tínhamos planos, você tem algum plano? Nem sabemos o ponto fraco dela!
__ Sabe como matei o berserker?
__ Como?
__ Eu comi uma semente da fraqueza.
Micaelle ficou pensativa e disse:
__ É verdade, Gwenda deu uma semente para cada um de nós.
__ Isso mesmo, viu só? Ainda tem uma esperança. Tony comeu a dele, eu a minha, só falta você e o Marcelo.
Enquanto conversavam algo de estranho aconteceu, Juníper não deu sinal algum de que ainda estava presente, o que os deixou intrigados e preocupados.
__ Devemos sair agora?__ indagou Tony a Marcelo.
__ Não, ela jamais desistiria tão fácil assim da gente__ respondeu ele.
__ Então o que acha que rolou?__ disse Tony__ ela sumiu!
__ E eu lá vou saber, eu não conheço direito esses seres... primeiro mortos e agora fadas, deve ter algo realmente bem poderoso dentro deste tesouro.
__ Então você tá começando a acreditar no... além?__ disse Tony bem curioso.
__ Não, o que estou dizendo é que estamos lidando com algo maior e que não compreendemos, e não ajuda em nada o fato de Alexis esconder coisas de nós.
__ Sério que quer tocar nesse assunto agora?__ questionou Tony incomodado.
__ Sim, e sabe por que? Lembra do terremoto na escola e do nome do Alexis escrito no chão? O terremoto parou quando Alexis tocou naquela espada com uma formiga desenhada. E outra, se lembra que ele sabia das velas? Eu acho que passou da hora de considerarmos a hipótese de Alexis ser o grande culpado de tudo isso estar acontecendo com a gente, entendeu por que quero desistir? Sem falar nos pais dele que ele parece ter vergonha, visto que ele não contou que era filho deles.
__ Você pode até estar certo, mas pelo menos vamos dar uma chance dele se explicar.
__ Então concorda comigo?
__ Concordo, mas por enquanto precisamos salvar a nossa pele.
__ E eu sei como__ disse convicto.
__ Sério?__ disse Tony surpreso.
__ Sério.
__ Então conta logo.
__ É melhor não, só pretendo fazer isto quando achar necessário, e espero que não seja.
__ Do que você tá falando? Tá me deixando preocupado__ disse Tony, apreensivo.
__ Melhor eu não contar, acho que não vai me apoiar.
__ Só vai saber se me disser, você não me conhece. Chega de segredos, não percebe que essa é a razão de desconfiarmos do Alexis?
__ O que será que eles estão conversando?__ indagou Alexis ao fitar Tony e Marcelo.
__ Não sei, mas precisamos falar com eles. Eu... não sei o que houve com essa fada, mas eles precisam saber que ela pode ser derrotada__ e começou a andar.
__ Espera__ disse Alexis segurando suavemente seu pulso__ acho melhor comer logo sua semente, e se ela estiver nos observando? Ela sumiu do nada.
__ É verdade, mas se a gente for até eles talvez a nossa chance dobre.
__ A gente não sabe quanto tempo tem, ela pode voltar a qualquer momento. A gente precisa aproveitar essa chance logo__ aconselhou Alexis, já a soltando.
__ Certo...__ e pôs a semente na sua mão, encarou fixamente o objeto, com os olhos inquietos e comeu.
Em seguida Marcelo e Tony foram empurrados para fora de onde estavam, caindo no chão próximos a Micaelle e Alexis. Gemeram e reclamaram de dores no tórax após a queda, depois Juníper saiu de onde os dois estavam escondidos e disse:
__ Eu poderia ter matado os dois, mas eu não fiz. Me deem o mapa e serão poupados.
__ Você tem a sua palavra de que não vai nos matar?__ indagou Marcelo bastante inclinado a aceitar.
Entrementes Alexis e Micaelle observavam pensando numa estratégia de ataque. Eles planejaram atacar em direções diferentes, Alexis tomaria a dianteira e viria pela direita, ele iria distrair a fada, fazendo com que ela fosse voltar-se para ele e Micaelle atacaria na direção contrária para que pudesse atirar nas costas da adversária.
Alexis partiu para o ataque, já prontificado a fazer a sua parte. Saiu de onde estava escondido, correu até ela e começou a desferir ferozmente golpes contra a adversária que, por sua vez, defendeu-se com a lâmina de cristal que cresceu a partir do seu próprio braço.
Juníper e ele duelaram entre si com suas armas brancas, que encontraram-se por várias vezes, a fada era rápida, porém Alexis tinha a vantagem de prever os seus ataques, o que não garantia a sua vitória, mas ao menos o mantinha vivo.
Micaelle observava apenas aguardando o momento certo, quando sentiu que este momento havia chegado, ela saiu de onde se escondia, empunhou o arco, pôs nele uma flecha, retesou a corda, mirou e atirou.
Entrementes a fada estava farta de disputar forças contra o garoto, agarrou o pescoço dele com o braço desarmado e o jogou bem longe para o lado esquerdo, onde Alexis bateu contra um árvore. Foi este o momento que Juníper sentiu a presença de flechas vindo até ela e esquivou-se saltando para cima. Suas asas não foram perfuradas, porém ela não saiu incólume: uma flecha perfurou seu calcanhar, ela manteve-se no ar com suas asas ruflando.
Juníper não tinha ciência da vantagem da arqueira, que tinha flechas que se multiplicavam. Surpreendeu-se por ter certeza que havia sido bem sucedida na tentativa de esquivar-se do tiro. Tentou tirar a flecha de si e a caçadora ao perceber isso preparou-se para atirar novamente. A fada logo percebeu e reagiu de modo inesperado, seu braço se esticou, transformando-se num monstruoso e longo emaranhado de cipós que, por sua vez, partiram velozmente contra a garota, agarrando o seu arco, tomando de suas mãos, depois aquele braço encolheu-se de tamanho até voltar à forma antiga. Tudo isto ocorreu de maneira bem rápida.
Micaelle, ao perceber que estava desarmada, empunhou a espada.
__ Você é patética__ disse Juníper com o queixo erguido.
__ Asas, fraqueza, asas, fraqueza__ disse a garota bem alto.
Marcelo demorou para entender, mas Tony não, logo ele armou-se com sua vela, mirou bem no alvo e atirou.
Juníper porém tinha reflexos rápidos e conseguiu esquivar-se novamente, em seguida contra-atacou, arremessando o arco que estava em suas mãos direto na face de Tony, que foi acertado em cheio, quebrou o nariz e caiu no chão.
Marcelo após finalmente ter entendido as palavras de Micaelle, tentou atingi-la, tentando alcança-la com sua corrente. E conseguiu, porém não como esperava. Juníper capturou a corrente de Marcelo com o braço e começou a puxá-la para si, ele tentou resistir e assim começou um inusitado e curto cabo de guerra. Ele puxava com todas as forças, mas estava perdendo, seus pés estavam começando a sair do chão.
E Tony após recuperar-se um pouco do dano que sofreu, ao ver aquela cena tirou proveito para jogar o arco para Micaelle que, por sua vez, ao ter o objeto em mãos, não perdeu tempo e pôs uma flecha na corda.
A fada percebeu o movimento. Foi quando ela resolveu usar a corrente de Marcelo para detê-la levando o garoto junto. Moveu a corrente, a girando em meia-volta bem rápido, que apenas parou quando Marcelo colidiu com Micaelle, em seguida ambos saíram do chão e colidiram juntos em uma árvore.
Mal teve tempo para comemorar a vitória, pois a adversária sentiu algo quente vindo até ela. Conseguiu deter com uma das mãos a quente esfera que Tony havia atirado. O que deixou o samurai boquiaberto, ao mesmo tempo que havia uma certa admiração no olhar de Juníper ao ver o garoto ainda estar em condição de lutar, apesar de estar com nariz ensanguentado.
Mais uma esfera se formou no pavio da vela, Juníper ergueu a bola de fogo em sinal de ameaça. Tony, bastante cansado, ferido finalmente rendeu-se, pois não sabia se iria conseguir escapar daquele ataque. A fada disse:
__ Junte-se aos seus amigos, garotinho de fogo__ e apagou aquela chama de sua mão enquanto Tony andava até os seus companheiros.
Ele obedeceu, cipós começaram a descer das árvores como se tivessem vontade própria, enroscando-se nos corpos de cada uma das crianças, aprisionando braços e pernas, e os fazendo ficarem pendurados no ar feito marionete. Micaelle, Marcelo, Alexis e Tony ficaram lado a lado exatamente na ordem em que seus nomes foram aqui citados.
__ Me desculpa, gente__ disse Tony.
__ Tudo bem, cara.__ disse Alexis, em seguida dirigiu-se a Juníper__ O que quer da gente?
__ Estão com algo que não lhes pertence: o mapa.
__ Ele pertence a você? Não vi seu nome escrito nele.
Juníper fechou os punhos e o cipós ao redor do pescoço de Alexis começou a apertar, o fazendo perder o fôlego, ficar vermelho e se digladiar com cada vez mais intensidade á medida que era asfixiado de maneira cada vez mais forte.
Micaelle, Marcelo e Tony pediram, imploraram para que a fada parasse e uma das coisas que disseram é que não podiam mata-lo porque ela ainda precisava dele, depois Alexis com a voz extremamente rouca disse:
__ Es... pe... ra, espera!
Foi o que fez a fada afrouxar a corda a partir do simples abrir de mãos, disse:
__ Eu só preciso que um de vocês abra a boca. Eu não preciso de todos. Se matar 1, 3 me serão úteis. Se eu matar 2, 2 ainda me serão úteis. Se eu matar 3, 1 só me será útil, que é aquele que eu terei uma conversa bem mais longa. Então colaborem comigo e todos sairão vivos ou... posso encurtar a conversa com cada um de vocês como tentei fazer agora, mas cuidado com o que irão dizer__ depois olhou para Alexis com desprezo__ não tenho paciência com criança mal comportada. O que queria me dizer, Alexis?
__ Como sabe meu nome?__ disse Alexis franzindo as sobrancelhas.
__ Sério isso? Eu posso voar, soltar fogo, estrangulá-lo sem nem te tocar, mas o que te impressiona é o fato de eu saber o seu nome. Vocês humanos são bem engraçados__ disse ela, em um tom mais amistoso__ muito bem, irei responder. Eu e minhas irmãs estivemos observando vocês desde que chegaram aqui. Meu nome é Juníper, sou uma fada.
__ Por que quer esse mapa?__ indagou Marcelo.
__ Interessante você me perguntar isto, garoto. Você foi o que me pareceu mais inclinado a entregar o mapa.
__ Ele estava com medo__ disse Micaelle.
__ Por que não responde a pergunta dele? É tão simples...__ disse Alexis.
__ A minha pergunta é simples também, Ale... espera, eu te conheço de algum lugar__ disse Juníper o olhando profundamente__ você me lembra alguém...
__ Que novidade...__ disse Marcelo sarcástico.
__ Disse alguma coisa?__ indagou ela a ele.
__ Não.
__ Disse sim... há algo de suspeito por aqui, parece que eu já sei com quem eu terei uma conversa mais prolongada__ disse a fada observando Alexis de maneira compenetrada, foi quando ela voou para cada vez mais próximo dele.
__ Por-por favor, não mata a gente. E-eu também sei de muuita coisa__ disse Tony com a voz estremecida.
Juníper o ignorou, ainda encarando Alexis, o estudando com o olhar, tentando lembrar se conhecia seu rosto que lhe parecia tão familiar.
__ E-eu nunca te vi na vida antes e essa é a minha primeira vez nesse lugar as-assim como todos eles.
__ É verdade, eu saberia__ e arregalou os olhos__ lembrei! Sabia que esses olhos eram familiares, você é filho daquele casal de aventureiros, não é?
__ É... sss... não__ disse meio nervoso.
__ Para que tanto nervosismo?
__ Você tá deixando ele nervoso__ disse Micaelle.
__ Sabe, garota, eu estou pensando seriamente em encerrar essa conversa com você. __ É verdade, moça, você está confundindo ele__ disse Tony.
__ Estou, Marcelo?__ disse virando-se para ele.
__ O quê? Perdão, não entendi.
__ Foi por isso que disse "novidade", não foi?
__ Está perguntando a pessoa errada, se tem alguém que conhece os pais é ele, você realmente está o deixando nervoso.
Juníper ficou pensativa e disse a Alexis:
__ Não há do que se envergonhar, é uma pergunta simples: eu só vou desmembrá-lo se sentir que está mentindo, não tenha medo.
Alexis hesitou um pouco, mas disse:
__ Sou sim.
__ Viu só? Não foi tão difícil ser sincero__ deu um sorriso forçado e apertou o seu nariz de maneira afetuosa.
__ Não foram eles que me mandaram aqui.
__ Eu não disse isso. Mas agora que você tocou nesse assunto: quem foi?
__ Você não conhece.
__ Então seu papai e sua mamãe não sabem que está aqui?
Alexis não respondeu.
__ Entendo... ou você é órfão ou é algum garotinho desobediente. Sabe por que seus pais não conseguiram encontrar o tesouro?
__ Não precisa responder, Alexis!__ alertou Micaelle.
__ Cale esse estrume que chama de boca! Ou vou cortar a sua língua ou melhor...__ e o cipó que envolvia o pescoço de Micaelle começou a apertar mais, o que fez a garota se contorcer de agonia e dor.
__ Eu respondo, mas não a mate, vamos conversar__ disse Alexis em tom conciliador.
Juníper parece que o escutou, pois a corda afrouxou para o alívio de Micaelle.
__ Que bom que resolveu conversar.
__ Está tudo bem, Micaelle. Fala pra mim, Juníper, por que meus pais não conseguiram?__ disse Alexis demonstrando um genuíno interesse.
__ Porque eles fugiram. Porque tiveram a noção de que estavam lidando com algo maior e mais perigoso do que pensavam.
__ O que tem de perigoso num tesouro de doces?
__ Acredita mesmo que este tempo todo lutando, sobrevivendo, se machucando e arriscando a vida, esteve lutando por um tesouro de doces?
__ O que é o tesouro de Nicolau VII?
__ É poder. Um poder tão forte que seus pais fugiram ao saber sobre ele, é algo que destruiria tudo e todos que mais ama nas mãos erradas.
__ É uma lança?__ indagou ao relembrar do estranho desenho que encontrou no castelo.
Juníper hesitou e disse:
__ Se te contasse, teria que mata-lo. Eu poderia ter matado todos os 3 e ter deixando só um de vocês, mas eu não fiz porque estou farta de tanto derramamento de sangue por este mapa, e os seus pais também, por isso fugiram. Agora me diga: onde está o mapa?
Alexis não respondeu.
__ Certo, é hora de encurtar conversas.
Foi quando Tony e Micaelle começaram a pedir para que a vida de seu amigo fosse poupada, exceto Marcelo que ficou pensativo. Mas diferente do que pensavam, não houve morte. Juníper pôs as mãos no crânio de Alexis e passou a vasculhar sua mente.

A trilha- O tesouro de Nicolau VIIOnde histórias criam vida. Descubra agora