Já era manhã, o quarteto estava tomando café matinal, só que sem o café, apenas frutas e água.
__ Eu dormi muito bem. Acho que eu tava com tanto sono que até esqueci que estava num castelo velho e abandonado__ disse Tony e bocejou.
__ Sério? Eu não dormi direito com esse fedor de mofo__ disse Marcelo.
__ Eu e Micaelle dormimos mal porque ficamos acordados de madrugada__ disse Alexis.
__ E o que fizeram? Você ensinou a Micaelle como se fala com gente morta?__ disse Marcelo.
__ Não, a gente tava planejando te chutar de novo pra fora daquele avião só que sem paraquedas.
__ É, e ficamos de bobeira explorando o castelo e descobrindo coisas novas__ disse Micaelle.
__ Tipo o quê?!__ disse Tony com boca cheia.
__ É, o que tem de bom pra explorar nessa pocilga?__ disse Marcelo.
__ Mais do que pensa, vou mostrar__ disse Alexis, em seguida pegou o arco de Nicolau e o enorme rolo de papel e desenrolou-o com a ajuda de Micaelle.
__ Mas... o que é isso?__ estranhou Marcelo__ Uma bengala com ponta afiada, que nem nos filmes de espião?
__ Acho que é uma lança__ disse Tony.
__ Já viu alguma lança assim?__ indagou Marcelo.
__ Não, e você já viu uma bengala assim, com exceção nos filmes?
__ Não mesmo, talvez o Alexis saiba, afinal ele é historiador, né? Deve entender alguma coisa dessas armas peculiares.
__ Não, pelo que eu estudei não tem nenhum registro histórico de algo parecido com esse objeto. Eu e Micaelle batizamos esse troço de bengalança.
Tony riu e Marcelo deu um pequeno sorriso, Tony disse:
__ Nome legal.
__ É, bem criativo__ concordou Marcelo.
__ Nosso palpite é de que essa arma veio daquele sonho do Nicolau VII__ disse Alexis.
__ Realmente... agora olhando com mais atenção me parece que é uma bengala doce__ disse Marcelo, fitando atentamente.
__ Pensamos da mesma forma__ disse Micaelle.
__ Mas por que Nicolau desenharia isso?__ disse Tony__ Tipo, tinha tanta coisa mais interessante naquele sonho, os legumes e vegetais monstruosos, o rio de maracujá com a cara bizarra, a parte que ele voou pra alcançar as nuvens de algodão doce...
__ A gente também não sabe__ disse Alexis.
__ Mesmo que se pareça com uma bengala doce, ela em nenhum momento é mencionada na lenda__ disse Marcelo.
__ Tem muitas coisas que não sabemos sobre a lenda, Marcelo. Como todo registro histórico, uma parte pode ter se perdido no tempo__ disse Alexis.
__ Tem alguma ideia do que isto signifique?
__ Talvez. Talvez o sonho seja mais do que um sonho.
__ Está me dizendo que seja um sonho profético? Francamente Alexis, vamos ter essa discussão de manhã cedo?
__ Quem falou em discutir, cara?__ disse Alexis, um pouco bravo.
__ Você não acorda pro mundo real, não é...__ e deu um freada brusca na fala, ficou pensativo olhando para baixo, quando arregalou os olhos e disse espantado:__ É isso! Mundo real!
__ Como é?__ disse Alexis.
__ E se esse sonho não for uma visão do futuro, mas sim uma visão do presente?
__ Mas do que está falando? Tá tirando sarro de mim?
__ Desta vez não, segundo a ciência sonhos podem ser uma manifestação da realidade feita pelo inconsciente, uma forma do nosso cérebro de replicar a realidade, e segundo Freud podem também ser a manifestação de desejos reprimidos. Nicolau era guloso, gostava de doces, mas estava fazendo dieta só para agradar a esposa, ele precisou abrir mão daquilo que mais dava prazer. Logo nada mais justificável ele sonhar com esse mundo de doces, onde ele pode extravasar os seus desejos sem sentir culpa, remorso, impedimento...
__ Um mundo criado por ele, onde ele é um deus__ disse Micaelle.
__ Isto mesmo, mas ao mesmo tempo que Nicolau estava em uma luta interna, também estava vivendo em tempos de guerra, logo... essa bengalança pode ser a manifestação disso, logo...
__ Eu tava certo de que era uma lança__ disse Tony.
__ É, e talvez essa arma seja um doce porque Nicolau queria matar os bárbaros, logo esse objeto é um mistura de desejo de sangue com desejo por doces, viu só? Não tem nada de sobrenatural nisso, Alexis.
Alexis ficou silencioso por um tempo, tentando absorver aquelas palavras, até enfim dizer:
__ É, faz... sentido, você tá certo mesmo...
__ Sério? Está concordando mesmo? Não está tirando sarro de mim?
Micaelle também ficou surpresa, não considerava do feitio dele concordar com quaisquer coisas que Marcelo dissesse, justamente pela visão de Marcelo ser distinta de Alexis e concordar com aquela teoria, tão racional, tão voltada para a realidade e distante da fantasia não parecia fazer sentido a ela, até porque ia contra as coisas que Alexis dizia ver em toda a sua infância. Sentiu que aquela mudança vinha do que havia lido do diário de seu pai, e aquilo a deixou preocupada porque o que havia lido ontem havia sido duro e seu medo era que seu amigo também endurecesse.
__ Não, dessa vez não__ respondeu Alexis.
Tony pegou o arco, tateou-o e disse:
__ E esse arco? Aliás, onde encontraram essas coisas?
__ Na biblioteca do castelo,__ respondeu Micaelle__ essas coisas estavam guardadas num baú, aliás, essa madeira é oca e tem algo dentro.
Tony chacoalhou e viu que era verdade.
__ Ta ouvindo, Marcelo? Parece o som de uma pequeta.
__ É peteca, Tony, e sim, parece mesmo__ disse Marcelo já com o arco em mãos.
__ Estávamos esperando vocês acordarem pra ver o que tem dentro__ disse Micaelle.
__ Então o que estamos esperando?__ disse Tony, que tomou de Marcelo, empunhou a espada e passou a serrilhar o objeto enquanto os outros observavam-no com os olhos fitos de curiosidade.
Quando o arco foi aberto, o que foi encontrado foi um pequeno rolo de papel, ao abri-lo perceberam que havia muitas palavras nele e que estavam escritas em latim. Alexis, consciente de que Marcelo estudou latim, perguntou a ele se ele fazia ideia do que estava escrito, Marcelo demorou um pouco para responder, pois ficou examinando o objeto e disse:
__ Me parece uma história... não, uma lenda.
Foi quando um objeto esférico veio até eles emitindo gás.
__ O que é...__ Tony perguntou.
Alexis respondeu rapidamente, pois conhecia bem o que era aquilo:
__ Granada de gás!
Imediatamente todos se levantaram e buscaram se afastar, mas a bomba explodiu fazendo todo o trabalho por eles.
Todos os 4 saltaram para trás em direções opostas.
O ambiente inteiro foi cercado de fumaça e passos foram dados vindos do túnel.
Encostado em uma parede, semideitado no chão, joelho ralado, um ferimento aberto no queixo e com as roupas chamuscadas, Alexis estava bastante fraco com o efeito da explosão, seu corpo doía e um leve ferimento havia se aberto atrás de sua cabeça, sua audição estava danificada e respirar se tornou uma tarefa dolorosa.
Demorou um pouco para recuperar parcialmente a sua audição, mas quando recuperou o que escutou foram as vozes assustadas e enfurecidas de seus companheiros que resistiam bravamente a um inimigo que Alexis não sabia... ou sabia? "de já vu?"; pensou ele, que passou a sentir que já havia passado por aquela situação antes.
Com dificuldade levantou-se e empunhou a espada, desferindo golpes pelo ar, e disse:
__ Quem está aí?
__ Estamos aqui!__ disse Micaelle.
__ Cadê vocês?__ respondeu Alexis
__ Estamos bem aqui!__ disse Tony
__ Aonde? Bem aqui é muito vago!
__ Bem aqui!__ disse uma voz familiar.
Imediatamente o paladino amedrontou-se, foi quando a fumaça se dissipou mais a medida que andava a procura de seus amigos que pôde ver uma cena nem um pouco agradável: todos os seus 3 amigos estavam nas mãos de Rhodes e seus guerreiros.
__ Por que a surpresa?__ indagou Rhodes, com a espada no pescoço de Micaelle__ não era eles que queria encontrar? Estão bem aqui!
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A trilha- O tesouro de Nicolau VII
AdventureO nosso protagonista Alexis é professor em uma escola muito antiga que guarda histórias inimagináveis, mas a que ele gostaria de saber é a do desaparecimento de seus pais que estudaram nessa mesma escola. Em um dia em que ele se atrasa pra aula e é...