Capitulo 07 - Paciêcia e Esperança

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Sem Correção

George

Só agora eu entendia na integra o que as pessoas queriam dizer quando usavam a frase "estou com o coração dividido".

Meu corpo estava aqui. Minha mente estava nas diversas tarefas que meu pai havia praticamente abandonado esses dias diante da porta da unidade de tratamento intensivo esperando por uma notícia do tio David, e também em meus estudos que eu não podia abandonar. E meu coração estava literalmente dividido entre o homem que era exemplo para mim... Passei a admirá-lo ao ver que ele comprava briga por toda família. Sempre sorridente o Tio David estava pronto para qualquer aventura, e foi ele também que nos ensinou o lado mais desinibido com as mulheres... Sorri ao pensar, nas diversas brincadeiras que ele fazia a mesa, mesmo diante dos olhares severos que recebia de nossos pais, sem se importar realmente com eles.

A outra parte de mim estava no Brasil. Desde que cheguei aqui eu ligo, ou ela me liga. Também está ansiosa por notícias do meu tio. Trocamos mensagens... Ao menos desta vez ela está cumprindo o que prometeu.

Mas quando entrei naquele avião, tive uma sensação horrível de que precisava ficar. Isso doeu em minha alma.

Mas eu não podia simplesmente abandonar minha família no momento em que eles mais precisavam de mim. Não podia abandonar meu pai, minha mãe, meus tios e muito menos o tio David.

Meu pai não se alimenta desde o exato momento em que soube do acidente com o irmão... Um caminhão vinha em horário proibido, dentro do perímetro urbano e o motorista adormeceu ao volante, deixando o carro do tio David com perca total.

Se eu pudesse fazer um único pedido a Deus hoje eu pediria para não estar passando por nenhuma das situações nas quais estou inserido. Mas desde quando eu era bem criança minha mãe me ensinou a orar e a confiar no que o senhor tem de melhor para nós. Ela sempre dizia que nós só conseguimos ver metros a nossa frente mais o Senhor vê muito mais. Então eu confio.

--- Pai.

Ele estava de cabeça baixa com os cotovelos apoiados aos joelhos e assim permaneceu.

--- Pai... Precisa ao menos ir em casa, tomar um banho e descansar. Eu...

--- Não. – Ele foi ríspido em sua resposta. --- Já disse milhares de vezes e continuarei repetindo quantas forem necessárias que não sairei daqui.

--- Mas pai, se o senhor ficar doente...

--- Você não entende George? – Ele saiu do seu estado anterior e me olhou com uma expressão única. Pela primeira vez na vida pensei que ele pudesse até bater em mim... Coisa que nunca fez em sua vida. --- Nós cuidamos um do outro desde criança. Sempre fomos nós.

Meu pai estava destruído emocionalmente... Que Deus nos ajudasse nesta hora de dor. – Ele se virou novamente e sentou-se no mesmo lugar.

--- George. – Minha mãe veio e me abraçou. --- Não adianta filho. Nenhum deles... – Olhei para a tia May e o tio Ben, também sentados ali perto. --- Nenhum deles sairá daqui enquanto o David não estiver melhor.

--- Mãe e se... – Ela levou a mão até meus lábios, como se adivinhasse meus pensamentos negativos sobre o momento e impediu que eu terminasse de pronunciar o resto. Mas depois de dias ouvindo os médicos dizerem que agora precisávamos ter fé, ter fé... Eu estava descrente sem nenhuma esperança mais concreta.

--- Não deixe que nenhum deles sequer leia seus pensamentos... Principalmente sua tia Gaby... Olhe para ela filho. – Meus primos estavam abraçados à mãe e ela parecia vinte anos mais velha.

Leva-me com você. - A história de George e Valentina.Onde histórias criam vida. Descubra agora