Quando a Vi Parada Lá - James

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"Bem, ela olhou para mim, e eu, eu pude entender

Que não tardaria muito para eu me apaixonar por ela

Ela não dançaria com outro

Quando a vi parada lá"

(I Saw Her Standing There - The Beatles)

Jonathan me segurou pelo braço antes que eu pudesse pensar em me atirar no precipício. Ele me aconselhou e me ajudou muito, disse que tudo bem se eu não quisesse ir trabalhar, mas eu decidi, para meu bem mental voltar ao trabalho alguns dias depois.

Trabalho como músico, ou garçom, ou porteiro, ou faxineiro ou onde eu for necessário. Tocando em aniversários, bares, ou qualquer lugar que fosse pedido. Fui para um dos bares onde toco normalmente, o meu preferido.

O bar é frequentado por playboyzinhos de alta classe. Em outras palavras, eles pagam bem, muito bem, aliás.

Hoje vou tocar com uma banda que regularmente toca no local. Eles não têm um vocalista, então de vez em quando, me chamam para tocar em aniversários, casamentos ou festas de playboys. Rende uma boa grana.

Chego cedo ao bar, preciso repassar umas músicas com a banda, mas eles ainda não chegaram, porém o palco já está arrumado. Pego a guitarra e começa a tocar "Come As You Are" do Nirvana. Não faço questão de cantar, apenas sinto o som da guitarra reverberando em meus ouvidos. Viajo junto com as notas que toco e simplesmente sou aquilo. Quando termino de tocar, ouço um pequeno aplauso. Toni, dono do bar e amigo, está em frente ao palco sorrindo.

-Toni, quanto tempo! - Cumprimento com um toque de mãos.

-Jamie, seu inglesinho metido a besta. Você some e não dá notícias. Não quer saber mais dos amigos? Você é o melhor que tenho por aqui. Aliás, eu soube do que aconteceu. Muito triste. Quero que você saiba que se quiser conversar, eu estou aqui! Não sou só o cara que te contrata. Sou seu amigo.

Olho para ele. Não havia vestígio de pena em seu rosto. Apenas de preocupação. Sinto uma enorme gratidão por isso.

-Estou bem... Quer dizer... Levando... Fica tudo pior por causa de Yan. Mas eu estou na ativa novamente, não quero falar sobre isso. Quero ignorar enquanto eu posso.

- Você sabe que quando vier à tona vai ser violento, não sabe?

- Até lá eu já estarei mais preparado.

Ele me olhou com uma expressão irônica em seu rosto.

- Mas não vá deixar seus sentimentos e frustrações virem à tona através da bebida, não é?

- Quem sabe! - brinco com ele.

- Se fizer isso eu te mato, desgraçado. - Rebateu bem humorado. Rio junto com ele.

Os meninos da banda chegaram e começamos a ensaiar.

***

Começamos a apresentação e um tempo depois, entre uma música e outra, vejo uma garota que chama minha atenção. Ela é diferente de tudo o que já vi. Ela é fogo e gelo. Ela é o dia e a noite. Ela atrai atenção sem esforço, naturalmente. Usa vestidinho listrado de preto e branco, jaqueta de couro e coturno alto. Seus cabelos são cacheados, de cor castanho acobreado. Seus traços latinos, seguramente deixam as meninas loucas de inveja e os garotos babando, como eu estou.

- Sei o quanto o público daqui curte rock, mas vamos ver quem curte o melhor do rock! - falo, chamando atenção do público. Digo aos meninos da banda para pularmos nossa ordem de apresentação, e eles me acompanham - Um pouco de rock clássico não faz mal a ninguém!

Começo a cantar "All Right Now" da banda Free. Quando chego à segunda parte da musica, encaro a linda garota. "Let me tell you now. I took her home to my place. Watchin' every move on her face, she said "look, what's your game, baby? Are you tryin' to put me to shame?". I said "Slow, don't go so fast, don't you think love can last?". She said "Love, Lord above! Now you're tryin' to trick me in love." All right now, baby, It's all right now."¹ Acho que ela entende o flerte. Eu torço para que sim. Toco mais algumas músicas antes de sair do palco. Desço e vou ao bar, peço uma dose de uísque. Não vou beber muito. Bebo um gole e olho em volta, procurando por ela. Eu a localizo, discutindo com um homem que a segura firme pelo braço.

- Marcos-, falo para o barman - anota meu pedido ai que depois eu me acerto com Toni.

Termino o minha bebida de uma só vez e caminho até a garota.

- Me larga, Pedro. Você está me machucando! - ela reclama.

- Ele está te incomodando? - cheguei por trás dela, tocando levemente a sua cintura. Ela me olho com seus pequenos olhos castanhos e diz.

- Sim, ele é meu ex-namorado...

- Ex nada! - o cara rebate.

- Ex sim! Pode me largar? Você está me machucando. - pedi novamente.

- Cara, solta ela. Agora! - falo em tom contido, mas ameaçador. Ele se intimida, mas não a solta. Reforço - Eu disse AGORA!

- Se não? O que você vai fazer? Me bater com sua guitarra?

- Não, mas a habilidade que tenho para tocar é a mesma que eu para brigar. Larga ela! AGORA! - ele a larga e logo tenta me socar. Já esperando por isso, seguro o braço dele e torço para trás, o empurrando para frente. Quando ele se vira eu o soco no nariz. Os seguranças chegam quando o cara parte para cima de mim, mas eu o imobilizo, esperando os seguranças o pegarem e o levar para fora.

Olho para ela, que não tinha gritado para eu parar ou para alguém separar a briga. Parece mais satisfeita que outra coisa.


¹"Agora deixa eu te dizer. Eu aceito sua casa como meu lugar, atento a todo movimento do rosto dela, ela disse "olha, qual é seu jogo, querido? Você está tentando me envergonhar?". Eu disse "devagar, não vá tão rápido, você não acha que esse amor pode durar?". Ela disse "amor, deus do céu! Agora você está tentando me seduzir." Tudo bem, querida. Está tudo bem agora."





Quando as Coisas São do Jeito que São [Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora