"Você está preso em um mundo que você odeia?
Você está cansado de todos ao seu redor?
Com seus grandes sorrisos falsos e mentiras estúpidas,
Enquanto por dentro você está sangrando?
...
Você deve pensar que eu sou feliz,
Mas eu não vou ficar bem!"
(Welcome To My Life" - Simple Plan)
Na hora em que eu entro em casa, minha mãe está na janela soltando fogo e começa a abrir o berreiro.
— Olha aqui, sua moleca estupida. Tá certo que você é jovem. Mas eu não te criei para ser VADIA! VADIA! — ela grita. Fecho minhas mãos em punhos e aperto, minhas unhas se cravam e perfuram a pele. Respiro fundo. Dou mais um passo calada com esperança de ter um pouco de paz, mas ela recomeça o escândalo. — Você não tem um pingo de vergonha nessa porra de cara, sua bastarda? Traindo o Pedro na cara de pau, e ainda trazendo o desgraçado na frente de casa? Da minha casa? Na frente da minha casa! Pra piorar é um pobretão qualquer. Ah! Mas eu te deserdo.
Seguro gritos de raiva, urros de dor e lágrimas. Eu preciso de colo, na verdade, colo é tudo o que eu precisei em muito tempo. Mas não posso e nunca pude correr para meu pai. Meu irmão agora mora com a namorada em outra cidade. Corro para o quarto de meu irmão antes que essa louca possa abrir a merda da boca de novo, mas antes vejo meu pai de relance olhando para mim como se pedisse desculpas. Tranco a porta rapidamente.
O quarto de meu irmão segue do mesmo jeito de quando ele saiu. Vou até seu banheiro e lavo as mãos, diminuindo a ardência de onde eu havia cravado as unhas. Volto para o quarto e pego um CD que costumávamos ouvir. Ligo o som bem alto. Não me importo com os vizinhos, ou com meus pais... Nesse momento eu não me importo nem com o Papa. A música "Welcome To My Life" rola e eu grito e choro como na música. Eu estou irritada e resolvo mandar todos se foderem.
Me chamou de vadia? Foda-se!
Não quer saber sobre as coisas que acontece comigo? Foda-se!
Quer me bater? Foda-se!
Quer que eu obedeça uma mulher mesmo que ela esteja me fazendo mal? Foda-se!
Quer ir embora e deixar a irmã sem um pilar para se apoiar? Foda-se.
Eu estou com as luvas do meu irmão e bato com toda a minha força, descontando a raiva e frustração no saco de pancadas. Bato a cada pensamento. Ouço batidas enfurecidas na porta, mão não me importo. As lágrimas rolam. Mas eu continuo batendo até chegar exaustão, e não paro aí. Quando não me aguento mais em pé, de tão cansada, desabo no chão e apago ali mesmo. Ao acordar no dia seguinte, com o rosto pressionado contra o chão frio, me sentindo um zumbi, tomo banho no quarto do meu irmão mesmo, me enrolo na toalha que fica lá de enfeite, vou até seu guarda roupa, pego seu moletom preto de capuz (que por um acaso é meu agora). Corro para meu quarto. Visto minhas roupas intimas e um vestido preto um pouco curto com meia calça preta transparente e a bota. Coloco o moletom. O dia está muito frio, nublado. O tempo está fechado. Combinando com meu péssimo humor. Pego minha bolsa, as chaves do meu carro e saio correndo de casa, para não enfrentar nenhuma presença desagradável.
Ligo meu carro e vou para a faculdade. Desde a hora que apaguei de tanto me exercitar — no dia anterior — não me alimento. Fico de tomar café na lanchonete da universidade, mas não dá tempo, pois eu estou completamente atrasada. Vou direto para a primeira aula. Sinto-me um lixo, um saco de boxe. Eu estou com dor de cabeça e dores no corpo pelo excesso exercício na noite anterior. A aula passa arrastada como uma lesma com tamanho de um mm. No fim da aula o professor Alex, me chama.
— Vanessa, está tudo bem? Você é sempre tão alegre, tão hiperativa, está acontecendo algo?
— Está tudo bem, professor! — falo de cabeça baixa.
— Você sabe que se precisar, tanto eu quanto os outros professores podemos lhe ajudar, não sabe? — ele dá uma discreta ênfase ao 'eu'.
— Sim, professor. — mordo os lábios... Quero e preciso contar tanta coisa, tenho vontade de lhe pedir conselho, mas acabo perdendo a coragem. Viro de costas e saio. Minhas amigas me esperam do lado de fora da sala, querem saber o que eu tenho, mas eu peço silêncio, minha cabeça nesse momento é uma bomba atômica com risco de explodir.
Quase chegando à lanchonete, percebo que esqueci minha carteira na sala e peço licença para voltar e pegá-la. Antes de entrar na sala, dou de cara com o maldito do Pedro. O que é estranho.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto com esforço até para falar.
— Sua mãe me ligou ontem, Vanessa, disse que você está saindo com aquele zé ninguém. — fala e com raiva, me joga contra a parede. Bato minha cabeça. Maldita seja a minha mãe.
— Nós não temos mais nada, posso sair com que quiser. – Falo sentindo raiva e tontura.
— Ele já te comeu? É isso? — o cheiro de álcool é evidente. — Você tem dado para ele? Por isso você está tão caidinha? Ele teve que te embebedar como eu para te foder? Vadiazinha! Você gemeu como uma putinha? — minha cabeça gira, e eu sinto o tapa — Aquelas desgraçadas! Eu volto. Temos contas a acertar. Você vai me pagar caro, Vanessa. Muito, muito caro. — Caio no chão e ouço minhas amigas chegando perto. Apago de vez.
***
Quando acordo, Julia, minha amiga, está ao meu lado.
— Onde estou? — pergunto totalmente desorientada.
— Enfermaria.
— O que aconteceu?
— Eu que te pergunto. Nós te encontramos desmaiada no corredor! — penso em Pedro, elas não o viram.
— Eu treinei até a exaustão ontem e não comi nada desde então. — minto.
— Sua louca! Você não pode fazer isso!
— Eu sei. Obrigada por ter ficado comigo, Ju. Acho que vou comer alguma coisa e vou para casa.
— Jura que vai comer antes de dirigir?
— Juro, ou eu sou capaz de comer o carro! - ela sorri
— Amanhã te passo a matéria!
— Perfeito. Obrigada.
Quando saio da enfermaria, passo na lanchonete e compro biscoitos e sucos para ir comendo no carro — um Kia Soul bege. Entro no veículo e dou partida. Rodo um pouco pela cidade e acabo indo parar no cais onde Jamie me levou.
****
Então, pessoinhas, estão gostando? O Que estão achando... Aviso logo, tem algumas "coincidências" no capítulo que vem... O que vocês acham que é? Comentem ai... E já votou? Não? Então vamos lá deixar aquela estrelinha amarela....
XOXO
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Quando as Coisas São do Jeito que São [Revisão]
RomanceQuando as coisas são do jeito que são, aceitar os fatos é o método mais seguro para evitar a frustração de não conseguir mudar o rumo dos acontecimentos. James é um belo rapaz, nascido na Inglaterra, viveu altos e baixos até vir para o Brasil, ainda...