Capitulo 75

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Acordei com a mesma enfermeira da noite anterior, colocando uma bolsa de soro, que continha no lugar um tipo de solução de aparência nojenta, ao lado do meu soro.
Eu não tinha percebido até então, mas aquilo estava preso a um cateter no meu braço. E era daquilo que eu me "alimentava".
Meu estomago deu voltas só de pensar naquilo correndo em minhas veias. Fechei os olhos e respirei fundo.
Ela notou meu desconforto e pegou em minha mão, me fazendo abrir os olhos.

— Quer que eu faça alguma coisa pra você se sentir mais a vontade? - perguntou me olhando.
Olhei pra cortina e ela entendeu.

— Quer que eu abra? - apertei sua mão uma vez e ela foi rumo a janela, abriu as persianas e olhou.
Era tão bom ver a luz entrar. Um sorriso involuntário surgiu em meu rosto.

— Um enfermeiro vai vir te levar pra fazer outros exames. Ai logo você vai poder receber visitas. - falou e saiu.

Fiquei um bom tempo esperando, olhando para a janela, e tentando agarrar com os dedos, os lençóis da cama.
Logo um enfermeiro entrou no quarto e me colocou em outra maca, me levando até uma outra sala.
Quase quatro horas depois eu estava de volta ao meu quarto, exausta. Fechei meus olhos e fiquei assim, sem pegar no sono nem nada, só de olhos fechados.
Até ouvir vozes no corredor.

— Você tem que ser paciente, querido. - disse minha mãe.

— Lembrem-se que ela não pode ficar agitada. - disse meu médico.

E então a porta se abriu.
Primeiro minha mãe entrou, e seguindo ela, um rapaz, muito bonito por sinal, sem contar a feição abatida.
Ele era alto, tinha a pele pouco bronzeada e porte atletico. Cabelos escuros e lisos que caiam sobre sua testa, lindos olhos castalhos que carregavam cílios longos e espessos, barba por fazer e entre os lábios rosados, um sorriso encantador.
Ele começou a se aproximar e eu pude notar lagrimas rolando sobre seu rosto, ele parecia tão emocionado quanto minha mãe, no outro dia.
Sentou-se na cama e ficou me observando, apenas olhando cada centímetro do meu rosto, sem desmanchar o sorriso dos lábios. Depois de alguns segundos, ele tocou meu rosto, passou os dedos sobre minha testa, depois meu nariz e então meus lábios, de forma sutil.

— Eu esperei tanto por esse momento. - ele sussurrou e limpou suas lágrimas. Sem duvida alguma, ele era a pessoa mais linda que eu já havia visto, ou pelo menos me lembrava.
Suas mãos então pegaram uma das minhas, e ele a levou até seus lábios, enchendo-a de beijos.

— Eu vou deixar vocês a sós. - disse minha mãe e completou. - Não a deixe agitada, querido.
Ele assentiu e depois voltou a olhar pra mim.

Era incrível o tamanho do carinho que aquele rapaz demonstrou por mim. Eu tive quase certeza de que eramos bem próximos, mas eu não sabia dizer o quanto, e nem conseguia perguntar.

— Você não consegue imaginar, o tamanho da minha alegria por te ver acordada. - falou e eu apertei sua mão.

Seus olhos voltaram a marejar, e um sorriso largo surgiu em seus lábios.
Ele não disse mais nada, só ficou sentado ao meu lado, me paparicando, fazendo carinho no meu rosto, cabelos e em minha mão.
Como aquilo era bom, como eu queria saber quem era ele, e me lembrar do que ele significava pra mim, mas naquele momento, eu soube que eu significava muito pra ele.

Minha mãe voltou ao quarto, e eles permaneceram ali um bom tempo, me fazendo companhia.
Ele sentado no ultimo degrau da escadinha da cama, segurando minha mão e me fazendo cafuné, e minha mãe sentada na poltrona, assistindo jornal.
Eu me senti segura, e todo aquele medo de não conseguir me expressar e me comunicar, passou, mesmo que por um curto prazo, eu me sentia bem.
Mas logo o rapaz precisou ir embora, e ficamos apenas minha mãe e eu. Ela conversava as vezes comigo, e eu tentava esboçar alguma reação, mas era difícil comandar meu corpo. As vezes eu apagava do nada e acordava com ela acariciando meu rosto e sussurrando coisas que me confortavam.

Confesso que as vezes eu me sentia desesperada, eu fechava meus olhos e quando abria, parecia que era a primeira vez que eu estava naquele lugar. Eu era tomada por pânico, e então minha mente vagarosamente reconhecia o cômodo.
No outro dia quando acordei, a mesma enfermeira simpática estava mexendo no meu soro.

— Bom dia, garotinha. - ela cantarolou e eu consegui sorrir em resposta. — Isso ai, ânimo. Tem um fisioterapeuta vindo só pra te ver. Ele é um gato. - piscou pra mim e saiu do quarto.
Em alguns minutos um homem bem bonito entrou no quarto, ele usava jaleco e tinha um sorriso bem bonito.
Seu nome era Fabiano e ele seria meu fisioterapeuta.

Depois de quatro dias, tiraram o cateter ligado a minha bexiga e o tubo de alimentação. Meu corpo teria que se virar sozinho.
Meu fisioterapeuta estava sendo bem rígido, não me deixava desistir e fazia de tudo pra me deixar em pé durante as sessões. Comecei também as sessões com a fono, que me ajudou muito a me comunicar com as pessoas, e com uma psicóloga.
Naquela semana eu havia recebido algumas visitas, eu tinha um padrasto, e uma irmã que eu só veria quando recebesse alta. Uma garota chamada Rebeca foi me ver, e jurou que seu irmão também iria aparecer. Os pais daquele rapaz bonito também foram me ver, e ele também, todos os dias, e assim acabei descobrindo seu nome.
Era noite e meu fisioterapeuta havia acabado de sair, fiquei sentada na cama, com os pés pendurados e as mãos firmes no colchão, cada uma de um lado do meu corpo.
Bateram na porta e então ela se abriu, era o Nick.

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