XXIII - Parabéns ao Animal Irracional

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Suspirei fundo antes de bater à porta. Lola avisara-me que estava doente, mas na realidade, acredito que estivesse em casa a beber leite com chocolate quente numa caneca com desenhos de um anime qualquer que comprou num site online. Creio que Lola não desconfiava que eu estivesse suspiciosa da sua desculpa para não ir ao aniversário de Walter.

Ouvi gritos do outro lado da porta de entrada branca. Por momentos, estranhei, mas ao ouvir passos apressados cada vez mais altos, esqueci-me que Walter era assim mesmo.

Quando a porta foi aberta, um Walter sorridente cumprimentou-me e gritou alto para os pais:

- A Loirinha chegou!

Walter nunca teria sido capaz de mudar o meu apelido da cor do meu cabelo para simplesmente "Vic". A minha cor de cabelo era, e para sempre seria, a melhor maneira de me caracterizar, na sua opinião.

Abanei a cabeça, um sorriso nos meus lábios. Walter guiou-me até ao que me parecia a sua sala, e dei-me de caras com duas raparigas e um rapaz pequeno a brincar.

Uma das raparigas tinha cabelo preto, e parecia ser por volta da nossa idade. Era morena, e um pouco mais alta que eu. Nunca me teria considerado de estatura alta nem de estatura baixa: sempre fui mediana.

- Deves ser a Loirinha! - Foi a primeira que me cumprimentou, alargando um sorriso nos seus lábios. Quando me viu a retribuir um sorriso, logo esclareceu a sua presença. - Sou a prima do Walter, Yasmin.

- É a minha prima preferida! - continuou Walter, vendo-me a cumprimentar com um leve aceno de mão. - Yasmin também conhece Drake, e ele está quase a chegar. - Não falhei o sorriso cúmplice que Walter fez entre mim e Yasmin.

- Quando é que ele vem? - Yasmin questionou, quase instantaneamente. Logo pôs a mão na boca. - Quero dizer, já são horas de estar aqui, não é?

- Ainda é um pouco cedo. Mas se estiveres preocupada, a Loirinha pode lhe sempre ligar. - Walter encolheu os ombros. Como se eu fosse mesmo ligar a uma pessoa com quem não falo há décadas.

- Tens o número dele? - Yasmin olhou para mim, um pouco chocada, ignorando o sorriso de Walter. Quando acenei, um pouco insegura, esta inclinou a cabeça para o lado. - Podes me dar o número dele?

Tossi, engasgando-me na própria saliva. Para não deixar ninguém preocupado, pus logo a mão na minha frente, dizendo que estava tudo bem. Reparei que tinha a prenda de Walter ainda na minha mão, e logo a entreguei. Este abriu um sorriso genuíno ao caminhar em direção do sofá para o abrir. Fiz de conta que nada tinha ouvido referindo-me a Yasmin, ou que me tinha esquecido, e apresentei-me ao resto das pessoas na sala. Estava ali um pequeno menino que era irmão de Yasmin, Ycarus, e outra rapariga que seria a irmã de Walter, Alana. Uma jovem de doze anos cujo aniversário teria sido pouco depois de eu ter conhecido Walter e Drake, e onde a sua camisola preferida fora comprada na loja da minha mãe.

- Talvez fosse melhor ligar ao Drake... - falou Yasmin, com uma expressão de pura preocupação.

- Ele não é o único que ainda não chegou. Falta também R.J., Kult, e Kelsey - respondeu Walter, e de seguida, olhou para mim. - Kult é um amigo de infância, Kelsey e R.J. são da escola.

Acenei, entendendo a sua explicação. Sentei-me ao lado de Alana, e dobrei as pernas ao mirar Yasmin.

- Conheces Drake?

Yasmin abriu a boca para falar, mas Alana soltou uma risada do meu lado, escondendo a cara, e Walter, com um sorriso aberto e plastificado, respondeu por ela.

- Oh, sim - fez questão de falar num sério, mesmo com sorriso cúmplice. - Yasmin e Drake têm uma relação um pouco...

- Cala-te, Walter! - A cara de Yasmin estava com a do mesmo tom de um tomate. Talvez fosse uma nova raça?

The Gun Shot Theory (Séries 'Foreign' #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora