Bónus II - Auto-Destruição (Drake)

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Perspectiva de Drake

Atirei as chaves do carro para um bolso aleatório das minhas calças. Ao andar a passos largos e apressados, o meu casaco preto e longo agitava as suas bordas em ambos dos meus lados.

Olhei de relance para a secretária da recepção, sentindo o seu olhar em mim. Estava na casa dos quarenta, sem margens de dúvidas. O cheiro do hospital já me parecia familiar.

- Onde é que pensa que...?

Prevendo a fala da mesma, acelerei o meu passo propositadamente. Não queria a ouvir, por hoje, falar de como é mal-educado não cumprimentar as pessoas quando chegam a algum lugar, ou até mesmo dizer que eu devia lhe dizer para onde ia. A função dela não era essa.

Para evitar confusões, optei por andar pelas escadas até ao quinto andar. Não me senti cansado pela vontade de simplesmente querer chegar ao quarto de Dina.

Abri o quarto da minha mãe bruscamente, mas não formei qualquer som. Uma das luzes do quarto estava acesa, tal e qual como a televisão, cujo som estava baixo. Dina encontrava-se deitada na cama de hospital, com uma expressão pacífica com os olhos fechados.

Fechei a porta devagar, com medo de acordar Dina. Ainda a passos lentos e cautelosos, sentei-me na cadeira ao lado dela, virada para a cama da mesma e para a porta por onde entrei. Suspirei ao relaxar-me. Tinha sido um semestre complicado. Ainda não tinha decidido para que universidade ia, ou que curso exato queria seguir. Ainda tinha exames para realizar que iam permitir ou impedir de seguir o que eu decidia. Estava na fase da minha vida que mais colocava o meu futuro em jogo. Interpretava como algo de largar, ou agarrar, e não era uma opção para mim largar algo que me podia fazer alguém na vida.

Senti o meu telemóvel a vibrar, e logo o agarrei, vendo a mensagem. Walter queria saber se estava tudo bem comigo. Não devo ter conseguido omitir a minha expressão de raiva ao ouvir a ameaça inócua do conhecido perseguidor de Victoria. Cansado, decidi responder mais tarde a Walter, ignorando a sua mensagem, não me dando ao trabalho de sequer clicar nas suas mensagens. Raras eram as vezes que falava no telemóvel, era já um hábito pesquisar o que não sabia frequentemente no telemóvel, em vez de o usar para a comunicação.

- Drake. - Ouvi a pessoa a que tenho o direito de chamar mãe, falar o meu nome.

Sobressaltado, subi a cabeça na sua direção, largando o telemóvel e colocando-o no meu bolso. Dina estava com os olhos semi-fechados, ajustando-os à pequena claridade do quarto.

- Não queria provocar barulho, lamento - admiti, aproximando a minha cadeira da cama dela. Esta sorriu ao me ver aproximar dela.

- Eu sei. - Acenou a cabeça, mesmo estando com a cabeça deitada na cama. De novo, relaxei na cadeira, endireitando as minhas costas. - É típico das mulheres, depois de... - Parou de falar. Mexi-me na cadeira, desconfortável.

- Estás a falar do teu filho? - questionei, olhando para a porta.

Dina e eu raramente falávamos sobre o seu passado. Era um assunto sensível para ela, e eu compreendia. Ao longo do tempo, fui percebendo que o motivo ao qual Dina me ter adotado, foi pelo facto de ter perdido uma criança que nasceu com problemas por ter sido "facturado" num laboratório, devido ao facto de Dina ter problemas nos ovários. Se a criança tivesse vivido durante mais anos, ou se tivesse sido saudável, eu nunca estaria na posição onde estava. Seria sempre a segunda opção.

- És o meu filho, Drake - Dina falou, autoritária. A expressão calma e serena teria sido substituída para uma expressão mais séria. - Não tenho histórias para te contar de quando eras pequeno, mas posso-te garantir que não tens conhecimento de quem és agora. Não te valorizas. - Cruzei as pernas, já frustrado. Aquela conversa não me agradava. - Não é modéstia da tua parte. É auto-destruição - afirmou séria. Quando reparou no meu desconforto, mudou de assunto. - Pareces cansado. O que se passa?

The Gun Shot Theory (Séries 'Foreign' #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora