Capítulo 29 - Metamorfose

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POV: Ana

- O que vocês duas estão fazendo aqui até agora? – O diretor nos viu no corredor e questionou.
- Me desculpe, Senhor...
- Vocês deveriam estar na sala e... – ele começou a tossir muito e se apoiou nos armários para não cair.
- O que foi? Tá tudo bem – Elisa perguntou enquanto eu o ajudava a ficar em pé.
- Tá, é só... – ele continuou tossindo enquanto colocava a mão na frente.
- Espera, isso é sangue? – perguntei quando vi algo estranho em sua mão - Vamos, Elisa. A gente tem que leva-lo até a enfermaria.
- Tá.
Ele não conseguia andar muito bem, por isso foi apoiando em mim e na Elisa.
- Que diabos está acontecendo aqui? – pelo visto, o diretor não era o único cuspindo sangue e cambaleando. Tinham mais umas cinco pessoas no mesmo estado na enfermaria.
- Onde está a enfermeira? – Elisa questionou.
- Ela falou... – disse um garoto que quase não parava de tossir - ...que ia ao banheiro.
- Vamos, Elisa – falei, mas não obtive resposta – Elisa! – me virei para ver onde ela estava. – Elisa? O que você tá fazendo? – ela estava ajoelhada perto de uma garota.
- Ela está morta. – ela disse apontando para o corpo.
- Elisa, se não buscarmos ajuda logo, todos aqui vão estar mortos – a puxei pelo braço, mas ela se soltou.
- Inclusive nós...
- Que?
- Você não percebe? Se todas essas pessoas estão assim, não vai demorar muito pra acontecer o mesmo com a gente – ela finalmente se levantou e enxugou uma lágrima com as costas da mão.
- Você provavelmente está certa. Mas já que nós não estamos assim ainda, é melhor fazermos alguma coisa.
Saímos correndo pelo corredor em direção ao banheiro e no meio do caminho me veio uma dor insuportável no abdômen, não contive um grito.
- O que foi, Ana?
- Nada! Continua andando.
Chegamos ao banheiro. Elisa olhou pelas portas e fez sinal de não com a cabeça, não havia ninguém ali.
- O que nós vamos fazer agor... – aquela dor veio novamente.
- Meu Deus, Ana. Alguma coisa já deve estar acontecendo com você.
- E porque você tá normal?
- Sei lá. Eu vou ver se tem mais alguém lá fora.
- Eu vou com você.
- NÃO! Você não está em condições. Espera aqui.
Esperei alguns minutos e nada dela. Continuei sentindo dores e comecei a tossir sangue, assim com os outros. Me sentei apoiando as costas na parede enquanto esperava. Levantei minha blusa para ver se havia algo com meu abdômen, que por sinal estava roxo e inchado.
Olhei para o lado e pude ver pés por baixo de uma das portas do banheiro. Pelo visto, Elisa, não olhou direito. Fui me arrastando lentamente até a porta e a abri. Era a enfermeira, com a boca e a roupa sujas de sangue. Provavelmente, já estava morta. Fechei a porta novamente. Elisa ficaria muito abalada se visse aquilo.
Depois de muito tempo ouvi alguém tossindo se aproximando.
- Elisa? – ela não falou nada, apenas entrou tossindo e se sentou ao meu lado – você não vai falar nada.
- Eu não tenho nada pra falar. Fui a algumas salas, mas... – ela parou e cuspiu sangue no chão - ...parece que ninguém se safou disso. Seja lá o que isso for.
- Então é isso? A gente só vai ficar aqui? Esperando até a morte...
- Espera! Eu tô tentando escutar... – Elisa me interrompeu.
- Escutar o que?
- Shhh! Ele tá aqui? (...) Você tem que avisar que a gente tá aqui (...) – percebi que ela provavelmente estava falando com um de seus amigos fantasmas.
Depois disso ela ficou em silêncio. Já estava ficando difícil manter me manter acordada. Eu não podia dizer o mesmo para Elisa que apesar de estar tossindo, às vezes se levantava e ia até a pia. Eu não conseguia fazer aquilo.
Passamos alguns minutos ali, em silêncio. Agora nem Elisa estava aguentando. A última coisa que vi antes de apagar foi Treveli entrando com cara de assustado.

***

Abri os olhos lentamente e avistei uma das lâmpadas ridículas das salas de aula. Olhei em volta e Treveli e aquela Samanta estavam sentados próximos de mim.
- Acho que ela está acordando. – ouvi Samanta falar.
- O que eu tô fazendo aqui?! Onde está a Elisa? – Falei enquanto me levantava. Filipe e a garota trocaram olhares estranhos.
- A Elisa foi embora. – Treveli respondeu.
- Como assim foi embora?
- Não temos tempo para isso. Eu preciso te falar uma coisa.
- Falar o quê?! Espera... – percebi que não estava mais sentindo aquelas dores emuito menos tossindo o tempo todo. Levantei minha blusa novamente, mas minhabarriga estava normal – Treveli, o que significa isso?
- Ana, eu posso explicar...
- Se isso for o que eu tô pensando, é melhor você ter uma ótima explicação.
- Eu tive que fazer isso. Era o único jeito de te salvar.
- Pois eu preferia morrer a me tornar igual à você! – gritei. Saí da sala e fui andando até a saída da escola.
- Aonde você vai? – Treveli perguntou vindo atrás de mim. Não respondi.
– Você não pode sair assim. Vai acabar se...
   Senti uma dor terrível, como seestivesse me queimando, e foi justamente o que aconteceu.
- ...queimando. - completou.
Voltei pra dentro da escola com uma velocidade vampírica.
- Maravilha, agora sou inimiga do sol. Que outro bônus vem com essa transformação ridícula?
- Bom, você vai precisar de sangue – Treveli falou.
- NÃO! Nem pensar. Eu não vou atacar ninguém por sangue.
- E quem disse que você precisa atacar alguém? Mas se não se controlar, é exatamente o que vai acontecer.
- Talvez eu possa te ajudar com o sol. Você tem algum objeto que eu possa enfeitiçar? – Samanta perguntou. Peguei a única coisa que tinha no meu bolso,que estava brilhando constantemente.
- É a única coisa que tenho agora – a entreguei o colar.
- Tudo bem, mas você não vai aguentar isso brilhando com você o tempo todo. Vou fazer o feitiço – ela falou e foi andando até uma das salas, mas foi barrada por Treveli.
- Espera! Ainda não. Tem algumas coisas que eu preciso explicar a ela primeiro.


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