Capítulo 32 - Sozinha

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POV: Ana Campbell
Treveli puxou Sam para um canto e cochichou algumas coisas, que graças ao que ele fez, eu podia escutar.
— Eu posso escuta-los agora. Esqueceu Treveli? - Ironizei.
—Dá um tempo - Depois disso não consegui escutar mais, provavelmente porque ele fez algum feitiço que me impedisse.
Quando terminam, Sam entregou o colar na minha mão.
— Mas e o feitiço? - perguntei.
— Eu não posso... – fiz cara de desentendida. Ela saiu e Treveli olhou pra mim furioso.
— Olha aqui, Ana Campbell. Eu transformei você porque não achei que era a hora certa de você morrer, tá?
— E quem é você para decidir? - partindo do ponto de que agora eu não tenho mais hora pra morrer.
— Meu Deus, você poderia ser menos ingrata?
— Como assim? Você arruinou minha vida!
— Nossa! Se você não está feliz é só se matar! Vai ali para o pátio e fica mais um minuto... - por um momento pensei em fazer isso, mas lembrei da minha família. Talvez eu ainda tivesse tempo de alerta-los.
— Eu não posso fazer isso.
— Porque não? Você não estava se recusando a ser uma Vampira. Sua vida estava arruinada... – ironizou – Primeiro não mate ninguém da cidade e deixe rastros. Compulsão nem sempre é permanente. O sol não te mata em poucos segundos, você pode cruzar uma rua e ir até um lugar se recuperar. E por último, mas não menos importante, não transforme ninguém, já que você não tem instrução nenhuma para lidar com recém-criados - depois de mais algumas palavras, ele se retirou.
Eu não tinha mais nada a fazer, a não ser esperar o sol se por. Espero que ainda dê tempo de alertar meus pais e explicar tudo que aconteceu, isso se eles já não foram infectados com essa doença.
Sam e Filipe já tinham ido embora. Sai da sala e fui procurar por mais sobreviventes em outros lugares, mas não encontrei ninguém.
Tentei ligar para meus pais e para Julie, mas nenhum deles atendia. Só consegui pensar o pior e sentir mais vontade ainda de sair logo desse lugar.
Esperei, esperei, esperei...  Um pouco antes de sair, Samantha veio correndo em minha direção.
— Que bom que você ainda está aqui – ela disse quase sem fôlego — Você sabe onde está o Filipe?
— Não! Ele não me disse. Porque?
— Nada, nada. Eu vou continuar procurando. — Ela terminou e se foi.
Quando finalmente o sol se pôs, fui correndo em direção à minha casa. Demorei bem menos que o usual, já que agora tinha essas novas habilidades.
  Vi que as luzes estavam acesas e consegui ouvir alguns barulhos. Por um segundo me senti aliviada por eles estarem vivos, mas assim que entrei, mudei totalmente meu pensamento.
Sangue, tudo que eu conseguia ver era sangue. Espalhado por todo lugar.
— Surpresinha!! - ouvi uma voz vindo da cozinha.
— Sofia? — indaguei assim que me virei pra ver quem era. Ela estava com as roupas e a boca completamente sujas de sangue. Escorria sangue de suas mãos também — O que tá acontecendo? O que você fez?
— Gostou? – ela disse dando risadinhas.
— Onde estão meus pais? E... Minha irmã?
— Quer mesmo que eu responda? – ela respondeu fazendo carinha de dó.
— O que você fez? — falei enfurecida, apertando minha mãos de raiva.
— Mas não é óbvio? — ela olhou em volta e se virou pra mim novamente — Eu só quis que você sentisse o mesmo que eu senti.
— O quê? Porque?
— Ah, você realmente não sabe do que eu estou falando não é mesmo? — olhei com cara de desentendida e não respondi. Ela se sentou em uma cadeira e apoiou os pés em cima da mesa de jantar — Tudo bem! Por onde eu começo... Que tal pela parte que você mata todo o meu bando? Tá bom pra você?
— Espera, do que você tá falando? Você tá querendo dizer que...
— Que eu fazia parte daquela alcateia que VOCÊ ajudou a matar. Sim, é exatamente o que eu quero dizer — ela me interrompeu e completou. Não consegui responder. Fiquei apenas olhando para um ponto fixo na parede, sem chão — Eu só fiz com você o mesmo que você fez comigo.
— Mas porque? Justo com a minha família... Eles não tem nada a ver com isso... Você matou todos eles por vingança?  — me afastei e comecei a chorar, automaticamente coloquei a mão na frente da boca. 
— Minha alcateia também não merecia morrer. E foi exatamente o que você fez com eles. Bem, tem mais alguém que fazia parte disso, mas não sei se você liga mais pra ele. Seu namoradinho não está mais entre nós.
—Matt! — sussurrei seu nome.
— Só que... A minha vingança...  — ela disse se aproximando — Vai ser um pouquinho diferente.
Ela mostrou a mão, que carregava uma faca e segundos depois fincou bem na minha barriga. Me afastei, ainda com a faca em mim e fui a retirando devagar. Sofia me olhou espantada.
— O que você tá fazendo? Espera aí... Você...
— Sim, é exatamente isso que você pensou. Não vai ser tão fácil assim me matar.
— E o que você vai fazer? ME matar? – era possível perceber o nervosismo em sua voz, a medida que ela ia para trás.
— Eu estou com um pouco de fome mesmo — fui com velocidade
pra cima dela, empurrando a com força contra a parede. Cheguei mais perto e a puxei pela gola da blusa — Vamos ver como é o gosto disso! — mordi o seu pescoço. Não parei, até que percebi que ela estava ficando fraca e quase caindo no chão. Soltei e a deixei cair, limpando a boca com as costas da mão.
Subi as escadas e fui até o quarto dos meus pais. Lá estavam eles, com diversas mordidas e arranhões pelo corpo. Cobri a boca para não chorar novamente. Pensei em enterrar seus corpos, mas tinha algo que eu precisava fazer antes. Cobri seus corpos com lençóis, fiz o mesmo com o de Julie.
Voltei para o andar de baixo. Não sei como limparia aquele lugar. Não sei nem por onde começar. Tinham marcas de sangue em todos os lugares. Eles provavelmente foram atacados aqui em baixo e subiram as escadas até o quarto para se proteger. Pelos arranhões na porta e marcas de mãos no corrimão, deu pra perceber isso.
Resolvi fazer logo o que precisava antes que não tivesse mais tempo. Para isso, fui correndo até à agência. Quando cheguei mais perto, vi Chris saindo de lá. Me virei para que ele não me visse, mas foi tarde de mais.
— Ana! — me virei novamente. Ele finalmente viu que estava coberta de sangue e me olhou de cima a baixo, assustado. Imaginei que ele fosse perguntar o que aconteceu ou se eu estava bem, mas ele simplesmente disse: - Você está... Viva?!
— Como assim "você está viva?". Não era pra eu estar? Ah, claro. A tal doença da bruxa... É uma longa história, mas...
— Não, não é disso que eu tô falando. Até porque, o colar nos dá imunidade a esse tipo de coisa.
— Mas, eu não entendo... Eu estava morrendo...
— Eu posso te explicar. Mas não aqui, vamos até meu apartamento.
— Não! Me explica aqui mesmo, eu não tenho tempo pra isso — cruzei os braços e esperei pelo que ele tinha pra falar.
— Eu tô surpreso por você estar viva — ele disse e sorriu.
— Fala logo! — pedi, irritada.
— Tá! Er... Por onde eu começo... — ele  andava de um lado pro outro, olhando pro chão — Bem, a agência achou errado tudo aquilo que você fez, eles se sentiram traídos e... Eles acharam que você merecia uma punição. Ouve um julgamento e... Enfim, isso não vem ao caso. Mas eles acharam certo... Te matar.
— Me matar? Porque eu disse a verdade? Então eu não fui atingida por aquela doença? Aquilo na minha barriga... Foram vocês?
— Eu nunca quis que isso acontecesse, eu juro. Não tinha nada que eu podia fazer. Mas o que importa é que você está viva — ele ia me dar um abraço, mas eu me afastei.
— Tecnicamente, eu não estou "viva".
— O quer você quer dizer com isso? — não precisei falar nada, ele olhou para as minhas roupas novamente e percebi que ele já havia entendido.
— Treveli estava lá quando tudo aconteceu. E ele resolveu me transformar para evitar a minha "morte". E agora... Eu nem sei o que vai ser de mim. Minha vida acabou.
— Não fala isso. Não é verdade.
— Não? Minha família está morta. Matt está morto. Metade da cidade está morta e a outra metade está indo embora. Minha própria agência tentou me matar. Eu não posso andar no sol por mais de poucos segundos sem me queimar.  Eu estou presa nesse lugar. Só consigo pensar em sangue. Me diz, que tipo de vida é essa?
  Ele não disse nada. Simplesmente fez a pior coisa que alguém podia fazer naquele momento: me olhou com cara de pena.

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