Capítulo 35 - Retrocesso

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POV: Ana
— Queria poder te ajudar de alguma maneira - Chris disse.
— Não há nada que você possa fazer — dei de ombros e saí andando. O ouvi gritar meu nome, mas ignorei. Eu tinha que terminar o que havia começado.
Voltei rapidamente pra casa. Subi as escadas e desci com os três corpos. Imaginei que fosse ter muito trabalho, mas não foi tão difícil assim, já que agora eu estava bem mais forte.
Assim que fui até os fundos da casa pegar uma pá, começou uma tempestade.
— Maravilha! — falei comigo mesma.
Continuei o que estava fazendo, sem me preocupar com a chuva. De fato, ela dificultou um pouco o trabalho, mas achei melhor me livrar logo disso.
Já tinha começado a cavar, quando escutei alguém chamando pelo meu nome e logo em seguida batendo a campainha.
Voltei pra frente da casa e vi Chris parado em frente à porta.
— O que você tá fazendo aqui? — perguntei.
— Eu preciso te explicar uma cois... — ele parou de falar assim que viu que eu estava ensopada e suja de lama — Porque você está assim?
— Não é nada... — sem que eu nem terminasse de falar, Chris foi andando até os fundos. Pensei em o impedir, mas talvez ele pudesse me ajudar.
— Foi v-você que fez isso? — ele disse apontando para os meus pais, quer dizer, pros corpos deles.
— Não! Claro, que não! É uma longa história... Que eu adoraria poder te contar, mas tenho mais o que fazer — ironizei, pegando a pá novamente e voltando a cavar.
— Não! — ele puxou a pá da minha mão — Você não pode fazer isso agora. Você tá correndo perigo. Eu tenho um plano pra te ajudar. Vem comigo! – ele segurou minha mão e foi me guiando até a frente de casa — É o seguinte...
— Ana, o que você faz aqui, na tempestade? — Samanta apareceu interrompendo Chris.
— Eu moro aqui — respondi — E você? Não está procurando Treveli?
— Eu acho que ele está em perigo. Na verdade, todos nós estamos.
— Quem é essa, Ana? — Chris perguntou.
— Essa é Samanta.
— Ela é... Igual a você? — perguntou novamente.
— Não, ela é...
— Ana, você tem certeza que pode confiar nesse cara? — ela me interrompeu.
— Mas é claro!
— Então o que são aqueles dois homens de preto vindo logo ali? — ela apontou pra trás de mim e me virei pra ver. Reconheci que eram da agência e fui logo questionando Chris.
— Mas que diabos, Chris?
— Ana... Eu posso explicar!
— Explicar o quê? — um dos agentes acertou um tiro na minha barriga, coisa que mal senti. Os quatro olharam pra mim com cara de espanto. Irada, fui andando em sua direção. Um deles insistiu em dar tiros, me atingindo no ombro e na cocha, o que não me impediu de continuar andando.
Assim que me aproximei o suficiente, comecei a desferir golpes. Eles tentavam reagir como podiam. Depois de um tempo numa "guerrinha", mordi com vontade o pescoço de um deles que logo caiu no chão. Dois agentes saíram correndo e o outro continuou tentando me ferir, mas rapidamente quebrei seu pescoço.
Voltei até Samanta, que estava sozinha. Limpei a boca com a barra da blusa.
— O que faremos agora? — perguntei.
— Nós vamos salvar Filipe.
— Sabe por onde começar?
— Não sei! Já tentei todo tipo de feitiço localizador e...
— Já tentou a casa dele? — perguntei, sem conter uma risadinha. Ela segurou minha mãe, disse algumas palavras e em poucos segundos estávamos em outro cenário.
— Aqui — ela disse — essa é a casa de Filipe – nos entreolhamos — Porque você não usa um pouco da sua força pra arrombar isso logo de um vez?
Assim que ela terminou, chutei a porta com força.
— Hugh? — disse espantada.
— Onde está Filipe? — Samanta perguntou, furiosa.
— Haha! Vai sonhando com essa informação! Já dei conta do seu amiguinho Treveli, agora vou me livrar de vocês — Hugh veio correndo em minha direção e me jogou com força contra a parede, sem que nem desse tempo de eu reagir. Fiquei um tempo parada ali no chão, até que comecei a ouvir Sam dizendo algo.
— Ana! Eu sei que você pode me ouvir... Filipe está no porão, eu consigo sentir isso. Arranja um jeito de chegar lá.
Levantei desnorteada e vi Sam e Hugh lutando num canto da sala.
Comecei a dar socos do chão, era o jeito mais rápido de chegar no porão. Depois de algumas tentativas, finalmente um buraco se abriu e eu pulei.
Vi Treveli e sua Irmã, os dois envoltos por um círculo.
— Como eu tiro vocês daí? - perguntei. Ele tentava me dizer alguma coisa, mas eu não consegui escutar. Tive que ler seus lábios e consegui entender boa parte do que ele disse. Mas eu basicamente tinha que tira los de lá o mais rápido possível. E foi o que fiz.
Os dois começaram a se abraçar, mas eu tive que interromper.
— Eu não queria quebrar o momento, mas Samanta está ali em cima aguentando o Hugh.
Rapidamente Filipe pulou pelo buraco e foi ajudar Sam.
— Eu posso te ajudar a subir se quiser - falei com Lúcia, mas ela me ignorou. A expressão dela tinha mudado. Agora ela aparentava estar com raiva. Ela disse umas palavras semelhantes às que Samanta falou e sumiu em segundos. Pulei do mesmo jeito que Filipe para voltar pra cima.
Assim que voltei, vi Lúcia caída no chão e chamei para Treveli para ver. Ela levantou com os olhos vermelhos.
— Filipe, você tem que morrer — ela foi até Filipe e os dois começaram a discutir. Meus olhos voltaram para a porta e percebi que tinha alguém entrando por ela.
— Chris? — perguntei correndo até ele.
— Ana? Eu tenho que te explicar... Eu estou com a doença.
— Filipe! Seu sangue! — gritei em vão. Já que ele estava ocupado demais com a irmã.
Olhei para a porta novamente e desse vez Sofia entrou, com os mesmo olhos vermelhos de Lúcia. Estávamos cercados. Fiquei por conta de Sofia, Sam com Lúcia e Filipe com Hugh.
— Espera aqui — falei com Chris, que sentou no chão sem aguentar ficar em pé.
Me dirigi até Sofia e começamos a lutar.
— Nós duas aqui novamente, hein? Finalmente vou conseguir terminar minha vingança! — ela falava, mas eu ignorei.
De repente, ela parou. E caiu de uma vez no chão. Lúcia fez o mesmo. Apenas Hugh e Filipe continuaram a brigar fora dos limites da casa.
Ajudei Chris a se levantar e nós fomos até a rua. Vi Elisa vindo em nossa direção e assim que Samanta viu, gritou por Treveli para que ele percebesse.
Elisa começou a explicar que sabia como salvar todos nós. Ela havia encontrado a mãe de Hugh e o pai de Sam e permitiu que todos nós os víssemos.
— Isso é só uma distração! — ela continuou dizendo — Vocês precisam fugir, o pai de Sam sabe o que fazer.
— Escutem garotos, não conheço ninguém que já fez isso na vida. Mas há uma lenda sobre um feitiço de retrocesso. Isso quebra as leis da magia e do universo. Mas vocês precisam tentar, cada vez mais o mundo espiritual está se enchendo, a doença de bruxa está se espalhando para outras cidades. Não vai sobrar mais nada — o senhor disse.
Depois de discutirmos o assunto, decidimos que era nossa melhor chance. Sam, Lúcia e Filipe sentaram em círculo e fizerem o que o pai de Sam disse.
— Ana. Eu não tenho muito tempo — Chris começou a falar enquanto tossia — eu fui até a sua casa para te alertar sobre a agência. Eu tinha um plano para te salvar, mas aquela Samanta chegou e atrapalhou tudo. Não era pra ser assim...
— Não precisa se preocupar com isso. Eu sei que você tinha a melhor das intenções — falei.
— Ana! Vem aqui, nós vamos canalizar seu sangue.
Me juntei a eles na roda e logo em seguida Elisa fez o mesmo. Começamos a repetir as palavras juntos.
— Horologium quod nunc temporis eripit penetrarunt non potest manere in praesens!!!
Depois de um tempo tentando. Pude ver uma pequena esfera branca surgindo no centro e crescendo. Era de uma estrema luz que nem permitia que mantivéssemos os olhos abertos. E em um segundo, tudo mudou.

***
— Ana... Acorda! Vai se atrasar pra escola! — ouvi a voz da minha mãe me chamando. Mas isso não era possível.
— O quê? — abri os olhos e vi minha mãe indo em direção à janela abrir as cortinas - NÃO! Mãe não abra esse cortina — falei, mas não impedi que ela fizesse. Rapidamente cobri o rosto com as mãos, imaginando que eu estava sendo queimada pelo sol naquele momento, mas nada aconteceu. Olhei para as minhas mãos e elas estavam completamente normais.
— Que foi? Tem medo do sol agora? Vamos! Vai se levantando!
— Mãe!!! — gritei e fui correndo abraçá-la.
— Mas o que foi isso? — ela perguntou rindo — O que aconteceu? Tá tudo bem?
— Tá tudo ótimo!

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