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Vinicius chegou no mesmo horário de sempre na escola. Era seu último ano e ele não poderia estar mais feliz e satisfeito por finalmente se livrar de todo drama e instabilidade da vida adolescente.

Ele acreditava que se tornar um adulto, passando para uma boa faculdade - o que não seria difícil devido suas excelentes notas -, seria o suficiente para livra-lo de todos os anos de sofrimento que foi seu ensino médio, e por que não dizer, grande parte de sua vida.

O fato de ser bolsista em uma escola de alto nível social, de baixa estatura, magricela, e um tanto introvertido, sempre fizera de Vinicius alvo de agressões de meninos maiores. O que só se intensificou quando descobriu seu amor pelas matérias de exatas e se tornou o "nerd, pobre e esquisito".

Assim, o que era terror para a maioria dos seus colegas de classe, para ele, era simplesmente a única coisa que o proporcionava algum prazer no mundo acadêmico.

Ele ajeitou seu óculos que era de um modelo antiquado demais para a beleza e delicadeza de seu rosto, e de seus grandes olhos azuis, e observou quando Juliana, sua única amiga desde o primeiro ano, caminhou até ele e sentou-se ao seu lado.

A menina que tinha seus cabelos ondulados presos em um coque lhe deu um beijo na bochecha e ofereceu o seu lindo e contagioso sorriso.

Juliana, diferente do amigo, era extremamente festiva e animada em relação a quase tudo.

Animação essa que, na maioria das vezes, tentava abafar sua baixa autoestima por ser gordinha.

É claro que Vinicius a achava linda e sempre que podia, a dizia isso com a esperança de que um dia a convencesse.

- Oi, Ju! Tá tão bronzeada e linda! Como foi o fim de semana? - ele perguntou depois de retribuir seu carinho.

- Foi mais ou menos... Eu teria me divertido mais se você tivesse ido! Do que adianta estar em uma linda praia se você não pode entrar no mar?

Juliana possuía recursos financeiros em abundância e isso meio que a tornava, em parte, aceita pelos os outros alunos. Ela sempre era convidada pra todas as festinhas e sociais. Tinha todas as mordomias e podia ter tudo o que quisesse sem nenhum esforço, mas com tudo isso, ainda era a pessoa mais humilde que Vinicius ja conhecera.

- Que história é essa de não poder entrar na água? - Vinicius indagou já irritado por prever a resposta.

A escola começara a encher com toda a gente fútil e mesquinha que Vinicius desaprovava.

Ele torceu o nariz quando viu Francine, a garota mais convencida e estúpida que já tivera o desprazer de estudar.

- Você sabe... Eu não queria ser confundida com uma espécime desconhecida de baleia. - ela respondeu rindo. - Imagina o anúncio na TV? "Baleia de espécie ainda não identificada é encontrada."

Juliana esperava que Vinicius achasse graça, mas para seu desapontamento o menino não riu. Não riu porque, além de não ter graça, ele na verdade nem a ouvira.

A atenção de Vinicius havia sido desviada a pouco para o recém chegado, e nada no mundo poderia ser mais interessante.

Embora tentasse mentir todos os dias para si mesmo, Vinicius não conseguia explicar o domínio e atração que sentia por John desde a primeira vez que o vira em seu caminho, e isso era loucura, porque os dois eram homens, certo? Era errado, não era?

Bom, pelo menos era isso que seu pai lhe dizia sempre antes de lhe espancar. Seu pai nunca lhe fora carinhoso, sempre agredira verbalmente sua mãe e os fizera perder noites de sono, porém até os catorze anos, Vinicius, nunca havia apanhado.

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