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Um silêncio constrangedor preencheu o ambiente.

- Diz alguma coisa, por favor. - Vinicius implorou incapaz de aguentar a falta de palavras da amiga.

Juliana ficou em estado de completo choque por uns dois minutos antes de começar a gritar.

- VOCÊ É O QUÊ?

Ela cobria a boca com as mãos para evitar que sua mandíbula se descolasse.

- Não me faça repetir, você entendeu. - ele sussurrou em resposta, ainda sem encara-lá.

A menina começou a dar voltas circulares pelo pequeno quarto.

- Deixa eu ver se entendi... Você transou comigo todas essas vezes pensando nele? Em um homem!

- Não, eu...

- Ou não, pior... - ela gesticulava com as mãos freneticamente. - Nossa transa foi tão ruim que fiz você desgostar de mulheres! Meu Deus! - seus olhos se encheram de lágrimas e ela parou como se tudo estivesse claro. - Eu sou horrível.

Vinicius se levantou e caminhou preocupado até a menina ensandecida.

- Não! Como ousa dizer isso?! Não tem nada a ver! Que absurdo! Você é uma mulher maravilhosa. - ele respirou fundo antes de completar. - Eu nasci assim. - tentou acariciar o rosto da menina, mas foi empurrado para o lado.

- Você me enganou esse tempo todo! Me iludiu! - ela cuspiu. - Como pode preferir aquele garoto estupido?! - de repente seus olhos se arregalaram. - Vocês já...?!

Vinicius olhou para o chão se entregando.

- VOCÊ DEU PRA ELE, VINICIUS?! - ela berrou horrorizada.

- Não! - ele respondeu corando. - Meu pai pode ouvir! Não! Nós só nos beijamos... Duas vezes.

Juliana bufava como se lhe faltasse ar.

- É tão absurdo! Como você pode? Isso não é normal.

Vinicius sentiu seus olhos lacrimejarem devido as acusações da amiga.

- Você acha que as pessoas irão dizer o quê quando souberem, hein? Seus pais?

Ele balançou a cabeça e a olhou rapidamente.

- Isso é abominável! - ela finalizou.

Lágrimas caíam dos olhos dos dois. Um chorava por sentir-se traído, rejeitado. O outro chorava pela sentença proferida. Por ouvir de uma pessoa que amava, o seu maior temor.

- Você sempre disse que gays são pessoas mal compreendidas, que os apoiava. Eu não queria ser assim, Ju. - ele soluçou de volta. - Dói muito ouvir de você o que passei anos tentando me convencer de que não sou. Não quero ser uma abominação, não quero magoar a Deus, e as pessoas que amo. Não quero! - ele envolveu a cintura da amiga em um abraço, mas ela permaneceu parada e irredutível.

- Quer saber? Só consigo sentir desgosto, eu... - Juliana se afastou com grosseria. - Estou pouco me lixando para seus dramas. - ela limpou os olhos que agora estavam inchados e borrados. - Nunca mais se aproxime de mim, entendeu?! Esqueça que um dia fomos amigos. - o coração dela doeu de uma forma insuportável ao dizer essas palavras.

- A sua amizade sempre foi uma das poucas coisas que me mantiveram vivo. Já pensei em suicídio milhões de vezes, mas o meu amor por você, e a maneira como parecia me compreender, me deram forças... E agora você diz isso... Eu sei que errei, eu admito, eu tentei não ser assim, Ju, eu tentei... - ele sentou na cama para não cair.

Juliana fungou enquanto lágrimas desciam descontroladamente pelo seu rosto. Ela sabia que seria incapaz de ouvi-lo dizer qualquer outra coisa sem perdoa-lo imediatamente, doía demais saber que ela o magoara tanto com as palavras da boca pra fora que dissera. Era claro que ela não sentia nojo dele, ela o amava, mas estava enfurecida, decepcionada, frustrada.

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