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Vinicius acordou três horas depois em um quarto de hospital caro.

Ele não conseguia se mexer, parecia que cada pedacinho do seu corpo estava quebrado.

- Vini! - uma voz conhecida exclamou.

O homem o encarou com um sorriso vacilante no rosto.

- Professor! Eu consegui... - ele parou pois até seus dentes estavam doloridos. - Me libertei!

Fred limpou a garganta antes de disparar:

- Sim! Estou muito orgulho, mas você deveria ter me dito antes, Vinicius! Com todo o histórico do seu pai, ele poderia ter te matado... - Fred continuou afoito. - Se eu não tivesse entendido aquela mensagem e chegado a tempo... Aquele monstro!

- Mas eu precisava enfrentá-lo! - Fred balançou a cabeça em discórdia. - Para perder o medo, professor... Eu realmente precisava... Não tenho mais medo. Durante anos abaixei a cabeça e agora nada e nem ninguém me assusta, me sinto tão bem!

- Você foi realmente incrível! Sua mãe está a caminho, ela vai ficar desesperada quando souber.

- Não será nenhuma surpresa, não é a primeira vez... Mas foi a última. - ele sorriu com seus lábios inchados. - Espere até o John saber... Ele vai ficar orgulhoso!

- Seu pai foi preso em flagrante... Algum vizinho ouviu a barulheira e chamou a polícia. Ele vai ficar sobre custódia até você ter condições de ir prestar queixa.

- Não vou prestar queixa, professor.

- Como não, Vinicius? Com um bom advogado ele poderá até responder por tentativa de homicídio!

- Não! Jamais! Não é isso que eu quero. Por favor, não! - ele tentou se levantar um pouco e gemeu.

- Calma! Não se mexa, você quebrou ossos, uma costela... Tudo bem... Depois vemos isso.

- Prometa que não vai fazer nada contra ele? Por favor!

Fred assentiu a contra gosto e depois tornou a sorrir.

- Qualquer pessoa agora estaria no mínimo revoltada, mas você nem ao menos cogitou a possibilidade de denuncia-lo. Por quê?

Vinicius deu de ombros.

- Quero que ele enxergue por si e que a vida o puna como ele merece! Sei que um dia ele vai perceber que o filho que ele tanto desprezou e feriu é a única pessoa que ainda se importa com o mesmo. Eu retribuirei o ódio com amor.

***

No dia seguinte Vinicius acordou ansioso pela visita dos seus colegas da escola.
A essa hora Fred já havia contado para todos a injustiça que o aluno sofrera e a grande maioria se sensibilizara.

Vinicius fez questão de que o professor dissesse o real motivo da agressão, ele queria que todos soubessem.

Fred estava tão encorajado com história que propôs a diretora da escola um trabalho sobre o bullying em relação a LGBT's e os diversos tipos de preconceitos.

"Temos um aluno que pode dar seu depoimento e incentivar outros jovens que sofrem o mesmo. Seria incrível para a ética da nossa escola."

É claro que a diretora aceitou. Praticamente todos na escola agora viam Vinicius como um herói.

Todos, menos Francine.

Ela ironizou toda a história e fez questão de espalhar para toda turma que ainda existia alguém entre eles que deveria fazer o mesmo, se assumir.

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