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O dia do baile de formatura chegara depois de uma longa e sofrida semana para Vinicius.

Sua mãe tentava a todo custo convencê-lo a se alimentar depois de dias de jejum.

- Você já emagreceu uns quatro quilos nessa brincadeira, Vinicius! Você precisa comer! - a mulher insistia chorosa.

- Soube que ele já está consciente há três dias e diferente do que eu pensava, não são seus pais que não me querem por perto. - ele declarou perdido.

Em seus olhos haviam enormes olheiras, quase tão profundas quanto o buraco em seu peito.

Não havia um noite em que pesadelos envolvendo sangue e cortes profundos não o assombrassem.

Desde aquele horrível acidente, que por um milagre, apenas por um milagre, não matara John, Vinicius se sentia mais triste do que jamais estivera em toda sua vida.

- Não vai sair pra beber de novo! - sua mãe falou firme. - Você precisa se alimentar!

- Eu não vou comer e não vou dormir, então só me resta beber. E é isso que farei!

- Por que está falando assim?

- POR QUE VOCÊ NÃO ME DEIXA EM PAZ?

Marta olhou o menino com incredulidade.

- Quem é você? Meu filho nunca falaria assim comigo! Ele lidaria com isso, e saber...

- É esse o problema, mamãe! - ele começou a chorar descontroladamente. - Estou cansado de ter que lidar com tanto drama, tanta dor. E não sei porque ele não quer me ver! Ele quase morreu, eu vi o corpo dele cheio de sangue! Fiquei dois dias inteiros na porta daquele hospital sem poder entrar, esperando notícias!

- Mas os pais dele têm o controle da situação, vai ver...

- Não! O Ricardo me contou que ele proibiu expressamente a todos os funcionários de me deixarem se aproximar. Só faltou colar cartazes com os dizeres: Indesejável número 1. - ele riu da sua desgraça. - Me perdoa, não quis ser rude com a senhora.

- Tudo bem, meu filho, mas escute, bebidas e drogas não vão te fazer superar isso!

- Não usei drogas, só vodka, whisky, tequila e rum.

- Meu Deus, e você acha pouco? Você viaja daqui há um mês pra começar uma nova etapa da sua vida, não comprometa todo seu esforço de anos... Por favor.

Vinicius anuiu, mas seu pensamento estava longe.

- Ele prometeu que dançaria comigo hoje, no baile. Quando estávamos aqui. - ele apertou o travesseiro que continha preservado o cheiro do outro.

Sua mãe o abraçou para esconder as lágrimas em seus próprios olhos.

- Então acho que você deveria se arrumar bem bonito para ir, como um galã. - ela disse afável.

- Você acha que devo ir? - ele perguntou ansioso.

- Sim! De qualquer maneira, é melhor estar com seus amigos, você ficará um bom tempo sem vê-los.

- É, talvez seja um pouco melhor do que a colação de grau! Jesus, aquilo foi quase um velório sem meu bolin... - ele se calou.

- Vá! - sua mãe o encorajou. - Por que não passa o dia com a Juliana? Você precisa ficar perto da sua maior e verdadeira amizade. Passem o dia, fofoquem, se arrumem juntos para o baile... Se divirtam!

Uma hora depois Vinicius batia na porta de Juliana com seu traje dobrado sobre seu braço.

- Vini! - a menina disse com os olhos ainda inchados de sono.

Metamorfose.Onde histórias criam vida. Descubra agora