What the hell?

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Quando chegamos ao dormitório, percebi que a Juliet parecia apreensiva.

— Ju, tá tudo bem com você? – Disse enquanto me sentava na cama e pegava a caixinha de remédios na gaveta da cômoda.

— Está sim, Hails, por que não estaria? – Ela respondeu enquanto tirava a blusa que estava e colocava um moletom.

— Você estava tensa hoje mais cedo... – Disse colocando os comprimidos na boca e tomando um gole da garrafa de água que eu sempre deixava ao lado da cama.

— Claro, né? – Ela disse olhando pra mim enquanto se sentava ao meu lado. – Eu estava preocupada com você, eu pedi pra Alana...

— Juliet, qual é? Sou eu, a Hailee. – Disse sorrindo e ela rolou os olhos. – Eu te conheço, a vida que eu tive fora do orfanato foi com você, não adianta negar, eu sei quando tem algo te perturbando. – Disse me ajeitando na cama e ela olhou pra mim, respirando fundo.

— Lembra daquela vez que eu te contei sobre minha crush hétero? – Ela perguntou e eu logo lembrei. – Então, eu só te contei a história por cima... – Ela disse torcendo a boca.

— Você não me contou nenhuma história. – Disse rindo. – Só me disse que tinha um crush numa garota que era hétero e que iria superar.

— Sim, então... – Ela olhou pra mim. – Vai ter paciência pra escutar? – Ela perguntou sorrindo e eu cruzei as pernas em cima da cama, me encostando no travesseiro que estava encostado na cabeceira.

— Sou toda ouvidos. – Disse sorrindo e ela sorriu.

— Você deve me amar muito pra me escutar falando da minha vida amorosa na sua primeira ressaca. – Ela riu e eu também.

— Você não faz ideia do quanto. – Ela sorriu com isso e respirou fundo.

— Ok... Quando eu entrei no colégio eu não conhecia ninguém, eu era toda estranha, usava umas roupas tão ridículas que as pessoas zoavam de mim constantemente. Eu passei um ano desse jeito, sem amigos, com meus pais me pressionando em casa por conta dos estudos, com minha mãe doente, tudo ao mesmo tempo. Quando eu estava no sétimo ano, entrou uma garota novata, e Hailee... Ela era linda! Eu já te contei que desde os doze anos percebi que gostava de garotas, e quando a vi, eu tive certeza disso. Os olhos dela eram de um verde tão claro que eu ficava que nem boba olhando, e como se já não bastasse ter a cor do olho bonito, o olhar dela destruía qualquer um. – Ela disse sorrindo. – Por incrível que pareça, ela falava comigo, ela era a única da sala que não zoava do meu jeito estranho, das minhas roupas etc. Pra falar a verdade, eu usei roupas ridículas até ela chegar, e sendo sincera, eu pedia pra ser zoada. Como que eu usava aquilo? – Ela disse rindo e eu ri. – Enfim, nós ficamos muito chegadas, vivíamos juntas, e eu não sabia como separar aquilo do sentimento que estava crescendo dentro de mim, do sentimento que eu só fui descobrir que sentia aos quinze anos, pouco tempo antes de você entrar no colégio. O nome dela é Nina, ela começou a namorar com um garoto e vivia me falando dele, falava das declarações de amor, dos momentos fofos juntos, e... Aquilo me destruía, Hails. Por uns momentos eu pensava que ela podia gostar de mim, eu achei que pudesse acontecer algo entre nós, o jeito que ela me olhava era tão lindo, tão puro, parecia com o jeito que eu olhava pra ela, admirando-a. Como nós éramos coladas, eu acabei contando pra ela que era lésbica, e em nenhum momento ela foi preconceituosa, muito pelo contrário, ela agiu tão naturalmente que eu desconfio até hoje que ela já sabia há muito tempo... – Ela parou de falar e ficou olhando pra um canto fixo.

— E aí? – Perguntei incentivando-a a continuar.

— Quando o ano estava terminando, ela acabou com o namorado e não falou comigo por semanas, ela manteve uma distância que me assustou, e por um momento eu me perguntei se ficaria sozinha de novo, se a única pessoa que um dia esteve comigo iria me deixar. Ela voltou a falar comigo depois de um tempo, mas foi pra se despedir, ela mudou de colégio pouco antes de você entrar. Ela disse que era porque os pais dela eram muito religiosos e queriam mantê-la em segurança, umas pessoas disseram que ela foi pra um internato, mas eu na verdade não sei. – Ela suspirou e olhou pra mim, notei que Juliet estava se controlando pra não demonstrar que estava emocionada, sua voz estava trêmula e ela mordia o lábio inferior constantemente. Ela respirou fundo e deu uma risada. – Eu me apaixonei por ela quando nem sabia o significado de amor, e eu fui construindo esse sentimento sem nem saber. – Ela deu de ombros enquanto mexia em suas unhas. – Ela foi a única garota que despertou isso em mim, que fez com que eu me apegasse tão rapidamente que até eu estranhei. – Ela parou de falar e abaixou a cabeça.

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