Black and White

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A aula de teatro era aula que me deixava mais confortável, era interessante ver as pessoas interpretando textos e se expressando daquela forma.

Eu estava tentando esquecer o que tinha acontecido com o Sam, mas o professor dessa aula pediu pra que escrevêssemos um texto sobre nossos sentimentos, ou então sobre algo que estivéssemos passando, ele disse que não precisaríamos apresentar, mas mesmo assim eu fui curta em relação aos meus sentimentos.

— A festa é depois de amanhã, finalmente... – Juliet disse enquanto eu revisava o meu texto. — Não acredito que você passou dois dias escrevendo isso, ele nem vai pedir. – Ela disse enquanto se sentava no chão, ao meu lado, na rodinha na sala do teatro.

— Mas eu gosto de escrever... – Disse dando de ombros e levantei o olhar, observando o Sam entrar no auditório com o Nate e os Jacks. Abaixei a cabeça no mesmo instante em que ele me olhou, foquei no meu texto enquanto o professor começava a explicar que tínhamos que colocar nossos sentimentos pra fora se quiséssemos ser bons artistas.

Respirei fundo e analisei mais uma vez meu texto, demorei um pouco, mas logo dobrei a folha e guardei na bolsa.

— Você é intensa. – Escutei a voz do professor e levantei a cabeça, observando que todos estavam olhando pra mim.

— Oi? – Perguntei sorrindo sem entender.

— Eu chamei sua atenção para explicar o exercício que tinha passado e você continuou focada no papel que estava lendo... – Ele disse e eu arregalei os olhos.

— Então ficamos te analisando. – A Juliet disse sorrindo e eu voltei a olhar pro professor, com certeza eu estava corada.

— Você parecia hipnotizada, eu quero muito saber o que tinha naquele papel. – Ele disse e eu neguei com a cabeça enquanto sorria.

— Não é nada demais, é que eu me concentro quando leio...

— É o exercício que você passou, professor, e ela está mentindo, ela se distrai se passar uma mosca, então, pra ela ter se concentrado da forma que vimos, deve ter sido algo muito forte. – Juliet disse dando um sorriso sínico e arqueou a sobrancelha.,

— Venha aqui, Hailee, por favor. – O professor disse estendendo a mão e eu olhei pra Juliet semicerrando os olhos.

— Você me paga. – Disse trincando os dentes enquanto pegava o papel do texto na bolsa e me levantava.

— Então, Hailee, sobre o que você escreveu? – Ele perguntou quando eu fiquei ao seu lado.

— Nada demais. – Disse rindo sem jeito. – Só o que sinto.

— Só? – Ele perguntou sorrindo. – Você acha que seus sentimentos são pequenos? – Ele perguntou e umas pessoas cochicharam, eu apenas abaixei a cabeça e depois levantei, olhando pro Sam.

— Pra falar a verdade, eu acho que são grandes demais. – Voltei a olhar pro professor e respirei fundo. – Tanto que transbordam. – Dei de ombros e ele sorriu, se afastando de mim, como se desse espaço pra eu começar.

— O palco é seu. – Ele disse se sentando ao lado dos outros alunos.

Respirei fundo e fechei os olhos, logo os abrindo e olhando pro Sam, que não tirava o olhar de mim.

Olhei pro papel e comecei a ler.

— Meu coração batia a uma velocidade normal, estava tudo tranquilo quando ele voltou a aparecer na minha vida. Ele voltou do nada, sem permissão, não avisou, não esperou eu me preparar. Foi como um choque, um terremoto, meu corpo tremeu e meu coração cedeu. Droga, eu sou entregue a ele desde que eu me entendo por gente, desde que ele olhou pra mim e me ofereceu um pedaço de biscoito, eu criei uma relação de amizade enorme, eu fiquei dependente, ele era como uma droga, uma droga boa, que só me fazia bem, mas eu não sabia que essa droga tinha o seu lado ruim. A droga me deixou, e como qualquer dependente, eu sofri com a abstinência. – Respirei fundo e tentei controlar meus sentimentos, voltei a olhar pra folha e soltei o ar pela boca. – Eu sofro de abstinência, abstinência do seu toque, do seu cheiro, do seu olhar sobre mim, da sua voz, do seu abraço e da sua presença. Ele voltou e eu tenho medo de sofrer de abstinência novamente. Às vezes eu tenho medo de me apegar, medo de depender tanto dele, e assim, do nada, ele me deixar de novo. – Senti meus olhos marejarem na medida em que meu coração acelerava. – Eu tenho vontade de gritar: "Por favor, não me deixa!"... – Dei um grito não tão alto, pra interpretar bem o que eu estava lendo. – Ele é a minha lanterna, a única luz que eu conheci, mas agora, eu estou no escuro novamente. – Deixei de olhar pro papel, pois já sabia o final decorado. – Por que eu não vejo nada? Por que a escuridão não acaba? Por que eu não acho outra lanterna? – Disse enquanto levava a mão ao peito e semicerrava os olhos. – Por que eu não acendo a luz? Por que ele se foi? Era sempre e pra sempre. Era. Não mais. – Dei um suspiro e fechei os olhos, sentindo meu coração acalmar e logo escutei palmas, abri os olhos e vi todos de pé me aplaudindo. Me surpreendi com aquilo, não esperava que fossem gostar tanto.

The OrphansOnde histórias criam vida. Descubra agora