Faz um silêncio tão grande nessa imensa escuridão. Acho que estou em um lugar pequeno, um quarto talvez.
Não ouço um som se quer... Estou começando a ficar apavorado, esse silêncio é ensurdecedor.
Um flash de luz ascendeu o lugar mas está se apagando aos poucos. Estou enxergando ela...
Ela me olha com um parecer de tristeza, eu não sei o que está acontecendo aqui, meus pensamentos estão me matando...
Coloco minhas mãos na cabeça, ela caminha em minha direção chorando, está usando uma camisola larga prata apenas, nem ao menos um calçado...
Não consigo me mexer, estou paralisado. Apesar de haver luz, não há nada no lugar, não vejo nada, está tudo branco, nem um detalhe a mais...
Ela continua á caminhar por mais um breve tempo, então finalmente está parada em minha frente. Sussurra em meus ouvidos algo longo e começa a chorar mais, vejo tanta dor em suas expressões e simplesmente não consigo ouvi-la.
Ela se afasta e apenas acaricia meu rosto, está suando como despedida, eu não sei, só quero sair daqui. Ela de repente some desenhando todo o lugar de uma vez só...
Estou em uma estrada vazia, o céu está em um tom bege, a luz continua a se apagar aos poucos e não sei para onde ir, mas só há um caminho, ainda não consigo me mover. Olho para o lado e vejo mulheres nuas usando máscaras de ferro enferrujado cobrindo todo o rosto, elas caminham em minha direção mancando, seus pés são tortos, parece que foram torturadas por anos, eu só queria sair daqui, mas continuo imóvel.
Elas estão cambaleando, aceleram o ritmo como se eu a estivessem incomodando, mas eu consigo ouvir elas sussurrarem alto, minha vista está escurecendo e apenas vejo dois homens me colocando dentro de uma carroça, me salvando, eu acho.
Eu abria os olhos lentamente e escutava eles conversando num tom de insegurança, eles devem ser daqui. Ao me verem acordado me abateram com a coronha de uma espingarda.
Acordei no asfalto vendo eles subindo na carroça e indo embora as pressas.Pelo menos agora, enfim, consigo me mexer. Isso é um alívio.
As luzes se apagam de vez, e tudo volta á ser um escuro abismal. Andar parece não fazer diferença nenhuma, não há nada novamente. Ela surge da amarga escuridão, está com seu belo sorriso novamente, respectivamente também começo a sorrir, esse pesadelo acabou...
Corro em direção á ela como quem está assustado, só quero sair daqui com ela. Estou correndo o mais rápido que posso, mas ela só aparenta estar mais longe, o sorriso dela se desfaz aos poucos, choro desesperadamente enquanto ela vira de costas para mim. Minhas lágrimas deslizam em meu rosto cortando o mais profundo possível, as que ficam nos olhos, queimam como álcool puro. Tropeço no meu próprio pé e caio violentamente no chão, sou engolido pela escuridão e despenco em memórias vivas delas. Todos os desgostos, choros, medo, consigo ouvir ela gritando de prazer, tudo está passando como um filme ao meu redor, meu peito dói muito, estou com a sensação de que vai explodir a qualquer momento. A dor está se tornando insuportável, desmaio.
Acordei atordoado, eu simplesmente não estou mais aguentando tudo isso, já ví coisas que não eram para ser vistas, meu rosto sangra pelo rasgo das lágrimas, meus olhos vermelhos ainda ardem muito. Eu só queria acordar.
O chão treme forte, não consigo me manter de pé, a luz está se apagando mais rápido, ouço sons de tiros, mas não consigo olhar para os lados agora. No céu se passa minhas memórias sobre você. Consigo ver as mulheres correndo atrás de mim e sendo baleadas, elas gritam todos os meus planos que eu tanto imaginava sobre nós, isso só aumenta a dor.
Cuspo sangue na estrada, nele está todas as esperanças. Pedaço da estrada se desmorona em direção ao mar, justo o pedaço onde eu estava.
Os dois homens lutavam por mim. Em vista, apenas o azul do mar crescendo. O vendo forte me vira e consigo enxergar a estrada caindo dramaticamente junto comigo. No céu, ela chorando acaba com toda luz, nenhuma cor sobrou por lá.
Caio na água com um impacto tão enorme que senti meu corpo por dentro estourar. O céu está caindo e não consigo nem fechar os olhos.
O céu cai me afundando até o fundo do mar. Estou novamente imóvel, tudo escuro, mas ainda sinto o mar me chacoalhar, a água dele tem o mesmo gosto que minhas lágrimas.
Vejo ela imóvel á minha frente, está afundando aos poucos, os olhos dela estão abertos, olham para mim como quem nunca desejou isso um dia.
Eu só queria acordar.
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O Mais Clichê
Roman d'amourTudo que vivi, foi porque a previa. Textos do encantamento de tê-la visto até a desesperança de a ter perdido. Os textos vão gradualmente ficando maduros, pois não foram feitos de uma vez, mas, sim, eventualmente, num período de dois anos do primei...