Acordei em meio ao desespero, achei que tinha perdido a hora, mas ainda era cedo... Vou ficar acordado, pensei, não posso me atrasar...Vou me encontrar com ela...
Me aprontei, tomei meu café e fui em direção à porta... Ao fechar, um último suspiro me restou para o nervosismo tomar conta do meu corpo, parecia que eu estava a pegar fogo, o ar que eu inspirava parecia não entrar em meus pulmões...
Ao caminhar pela rua, o sol parecia me renovar, tirando de mim toda mágoa que passei... O frio que eu guardava passa a virar esperanças novamente...
Enfim, subi no ônibus... Fui para o fundo onde parecia haver paz para meus pensamentos... Sentei próximo a janela e uma moça veio em direção a mim, parou sobre minha frente e lá ficou... Claramente queria minha atenção, mas eu apenas dei de ombros...
Chegando ao ponto de encontro, me encostei em um muro, ela disse que iria chegar atrasada, mas tudo bem, esperar uns instantes não será nada demais... Olhando para frente logo vi ela sentada no banco me aguardando, meu problema na vista e o forte calor deixava tudo embaçado, mas eu poderia reconhecer aquela pontinha de cabelo em qualquer lugar...
Fui em direção a ela, quando ela me viu fez caras e bocas como de costume e eu correspondi... Ela já me avisa que o caminho vai ser longo e reclama do quanto o calor está insuportável... Pegamos então o primeiro ônibus, nele eu ainda mantinha meu nervosismo, para ela poderia não parecer, mas eu ainda me sentia limitado, o olhar dela ainda me intimidava... Após mais dois ônibus, tantas histórias do passado contadas e visto uma feira de primavera, decidimos comprar algumas coisas para comer e enquanto andávamos sobre os corredores do mercado, ela pegou em minha mão e segurou... Eu não conseguia sentir minha mão, apenas os dedos dela entrelaçados com os meus, a palma da mão dela deixava um pequeno espaço para o vento passar, deixando apenas calafrios...
Ao voltarmos, ainda me sobrava um pouco de nervosismo e ela... Ah ela continuava do mesmo jeito de sempre, o mesmo jeito que tempos atrás me despertava curiosidade. Ela passou a mão sobre meus cabelos e então apenas fechei meus olhos, geralmente eu sempre lembrava de outro alguém fazendo o mesmo, mas, com ela só conseguia sentir o momento...
Chegamos onde tínhamos se encontrado, embora só nos restavam uma despedida, ainda conversamos como se ainda tivéssemos a noite toda, irritamos um ao outro como quem quer dizer algo mas não consegue através de palavras... Sendo assim ela coloca suas mãos sobre meus olhos, enquanto apenas fico estável... Em um breve tempo nós ficamos calados e então de repente sinto sua boca sob a minha... Nesse instante o mundo nos deixou a sós e o tempo parou... Era o momento que eu passava grande parte do meu tempo sonhando e alí estava eu vivendo ele... Sua boca macia passava sobre a minha num deslize rápido, seu beijo tímido só me fazia continuar a não conseguir pensar em nada... Num contratempo ela me abraçava e colocava seu rosto em meus ombros e eu alí ficava como quem vive um grande sonho...
Em um dos abraços que nos encaixavam perfeitamente, olho para a lua, lá estava ela para nos assistir novamente, ela assim como eu esperava por esse momento, todas as noites ela vinha para brilhar para nós...
Sobre tantos beijos sonhados, me afasto para te olhar... Ela ainda mantinha os olhos fechados, sua franja estava sobre seus olhos, a pontinha de seus cabelos era como a mais bela moldura de um quadro e seu olhar não mais me intimidava, apenas me guardava...
Já se passou horas desde então, decidimos ir embora para não chegarmos tarde em casa, afinal, ainda poderemos ter mais dias como esse, ainda somos imortais nesse mundo onde as pessoas morrem aos poucos...
Deitei em minha cama... Eu ainda posso sentir sua boca... Minhas mãos ainda sentem seu cabelo... Meus olhos ainda te vêem... E meus pensamentos tentam gravar tudo... Eu quero lembrar dessa vez...
Fechos os olhos para o passado e acordo no tão esperado futuro que hoje se tornou meu presente... Ainda não sei ao certo se tudo isso realmente aconteceu...
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O Mais Clichê
RomansaTudo que vivi, foi porque a previa. Textos do encantamento de tê-la visto até a desesperança de a ter perdido. Os textos vão gradualmente ficando maduros, pois não foram feitos de uma vez, mas, sim, eventualmente, num período de dois anos do primei...