Uma Surpresa Noturna

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   Quando amanheceu, acordei Ana, que estava em um sono muito profundo. Comemos algumas maçãs e continuamos indo para o Oeste.

- Você já parou para analisar os fatos? - Perguntei a Ana, quebrando o silêncio que já durava alguns minutos. - Ninguém veio nos ajudar, mas três pessoas já tentaram nos matar.

- Eu não consigo entender... - Ela disse, e soltou um suspiro.

- Nos resta voltar à sociedade humana, e só depois tentar entender... - Prossegui meu pensamento.

   Passamos por um pequeno riacho, e arriscamos, bebendo um pouco de sua água cristalina. Abri a sacola das maçãs, e contei quantas restavam.

- Ainda temos dezesseis maçãs... - Comentei. - Apostando que a viagem dure mais quatro dias, temos duas para cada um de nós a cada dia.

- Não é o suficiente... vamos ter que encontrar mais alguma coisa. - Ana disse.

   Abri o mapa e procurei por rios no nosso caminho. Eu nem tinha pensado nisso, e quando procurei, descobri que teríamos que atravessar dois rios.

   Pensando positivamente, poderíamos pescar alguma coisa ali. Pensando negativamente, o caminho poderia ser intransponível.

- Vamos ter que atravessar dois rios... - Avisei.

- São grandes demais? - Ana perguntou, despreocupadamente.

- Se o mapa estiver correto, o primeiro é do tamanho do que estávamos seguindo, e o segundo um pouco maior. - Respondi. - Nada muito difícil.

   Aquele estava sendo o segundo dia de caminhada, e parávamos frequentemente para observar os coelhos, que corriam felizes pela floresta.

- Será que conseguiríamos pegar um? - Perguntei.

- Já que não podemos usar as armas, pelo risco de sermos descoberto, principalmente agora que vimos uma pessoa na floresta, acho difícil que consigamos pegar um animal tão rápido... - Ana falou, com um leve desânimo na voz. - Já comi carne de coelho, e é muito bom.

   Peguei o mapa novamente, e vi que demoraríamos no mínimo mais um dia até chegar no primeiro rio qie teria que ser atravessado. Teríamos que passar a noite sem comer nada além das maçãs que eu ainda carregava no ombro.

   Andamos até começar a escurecer, mas não achamos nenhuma clareira. Dessa vez, teríamos que dormir no meio da sombria floresta.

- Deixa que eu faço a fogueira dessa vez... - Falei, pegando alguns galhos e levando até perto de um lugar onde duas árvores se encostavam, formando um arco.

   Me sentei em frente à fogueira e peguei uma maçã, já que havia anoitecido. Ana sentou ao meu lado e encostou sua cabeça em meu ombro.

- Você realmente acha que vamos conseguir sair daqui? - Ana perguntou, com seus lindos olhos castanhos brilhando à luz do fogo.

- Claro que sim... nós vamos sair daqui, chegar na estrada, pegar carona até a cidade mais próxima e tentar voltar... - Respondi.

- Espero que você esteja certo... - Ela disse levantando. - Agora vou tentar dormir, boa noite...

- Boa noite. - Falei, ficando de pé, e a beijando.

   Voltei a meu posto em frente ao fogo crepitante. Cerca de uma hora depois, ouvi algo caminhando por perto.

- Ana... acho que tem alguma coisa se aproximando. - Falei, a acordando.

   Peguei o facão e me aproximei da árvore, ficando de frente para o fogo, para não ser pego de surpresa. De repente, um lobo cinzento enorme surgiu da escuridão.

   Torci para que estivesse sozinho, caso contrário, não teríamos chance alguma. O animal rosnou e partiu para cima de mim. Rapidamente, troquei o facão de mão, e antes que ele me alcançasse, enfiei a lâmina até a metade entre suas costelas.

   O grande lobo tentou uivar, sru corpo tremeu, e sua respiração parou. Tinha atingido o coração.

- Quando esse pesadelo vai acabar? - perguntei atônito, olhando para o fogo.

   Ana se aproximou e me abraçou por trás.

- Tudo vai ficar bem... - Falou baixo em meu ouvido. - Eu estou aqui...

Apenas uma ViagemOnde histórias criam vida. Descubra agora