Uma Longa Caminhada

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   Caminhamos por horas incontáveis, frequentemente parando para descansar à beira do rio, sob a sombra das árvores, já que havia amanhecido, e o sol estava forte.

- Se não fosse essa louca nos perseguindo, e meu braço baleado, até que é um belo lugar... - Falei.

- Mas infelizmente, estamos no meio desse pesadelo. - Ana lamentou.

- Acho que deveríamos achar algum lugar para passar a noite, pois em poucas horas vai escurecer... - Sugeri.

   Depois de uma meia hora procurando, achamos uma árvore baixa com galhos bem abertos. Quebramos galhis finos de outras árvores e colocamos em suas divisões.

- Acho que é o suficiente para passarmos a noite. - Ana comentou.

   Juntamos gravetos para fazer uma fogueira, mas nao lembrávamos que o isqueiro estava molhado. Felizmente ainda gerava uma faísca, o que foi o suficiente para acender o fogo.

   Pegamos um pouco do capim que crescia perto da beira do rio, e colocamos em cima dos galhos, formando um "colchão" suficientemente macio para dormir.

-Vamos revezar para dormir, desa vez você fica com o primeiro horário.

   A beijei, deitei na cama e demorei apenas alguns segundos para dormir. Me lembro de ter sonhado com minha vida normal, meu cachorro, minha casa...

   Tudo que eu queria naquele momento era acordar, e descobrir que o que estava acontecendo era um sonho. Um pesadelo terrível, sem fim.

- Sua vez... - Ana falou, me acordando no meio da noite. Logo ela estava dormindo profundamente como sempre.

   E lá fiquei, mantendo o fogo aceso e conferindo, para ter certeza de que nada nem ninguém iria querer nos atacar. Depois de levar um tiro, que estava com mais medo que algo ferisse Ana que a mim.

   Por fim, amanheceu, e nada de ruim havia acontecido. Além, é claro, dos mosquitos infernais que não nos abandonaram a noite toda.

- Acho melhor seguirmos andando, sua tia deve ter avisado alguém de que não chegamos lá. Já passaram uns 5 dias da data marcada. - Falei.

- Espero... realmente espero. - Ana respondeu, como se quisesse tanto quanto eu acordar desse sonho.

   Caminhamos algumas horas, até que pensamos em uma coisa até então esquecida: Comida.

- Não se esqueça de ficar atento às árvores, pode ser que achemos alguma frutífera. - Ana lembrou.

   Senti algo na voz dela que nunca tinha sentido antes, como se a alegria, que até então parecia infinita, estivesse se esgotando. O humor de Ana realmente tinha mudado nos últimos dias, cada vez clm menos piadinhas, menos sarcasmo, e dando um tom mais dramático à caminhada, que parecia não ter fim.

   Pareciam ter se passado dias, mas eram apenas poucas horas. Finalmente, tive uma ideia, um pouco difícil de ser concretizada, mas ainda assim, uma ideia.

- Quando eu era menor, costumava atirar nos gatos da vizinhança com um estilingue - Eu disse - Acho que se eu conseguir um galho bom, e tirar o elástico dessa calça, devo conseguir fazer algo para caçar uns esquilos, notei que tem muitos por aqui.

- Ótima ideia! - Ana comentou, visivelmente mais animada. - Posso cozinhar eles quando montarmos acampamento novamente, pode não ser a melhor carne do mundo, mas acho que consigo fazer ficar comestível.

   Ainda não acredito que consegui fazer aquele estilingue, mas consegui. O único problema no plano foram minhas calças, que ficaram caindo o tempo todo, já que estávam sem elástico.

- Deixa elas caírem... - Disse Ana, olhando no fundo dos olhos e mordendo o lábio. Ela deve ter lido meus pensamentos, porque logo continuou... - Infelizmente, estamos no meio desse pesadelo... se não fosse isso... - Ela disse, provavelmente querendo me provocar, mas consequentemente tive que desistir.

   Passei por Ana, a beijei, e continuamos andando, em busca de alvos para minha mais nova arma. Caminhamos alguns minutos até encontrar um esquilo, em cima de um galho de uma árvore baixa, perto do rio.

   Era difícil mirar com o braço doendo, mas acabei conseguindo acertar o esquilo bem na cabeça com uma pedra pequena. O pobre animal morreu na hora.

- Até que ele é bonitinho... - Ana lamentou. - Mas a fome é maior.

   Andamos mais um pouco, e pela posiçao do sol, logo anoiteceria. Achamos uma árvore com o tronco bem grande, onde montamos acampamento e acendemos uma fogueira, e Ana cozinhou o esquilo.

   Estava sem sal e sem tempero, mas foi uma das melhores coisas que comi em dias. Revezamos a guarda novamente, dessa vez Ana dormiu antes. Mas ainda na minha guarda, os problemas começaram...

Apenas uma ViagemOnde histórias criam vida. Descubra agora