Enxergava-se apenas plantações, plantações infinitas, pela janela do carro. E tudo que eu esperava era uma cidade.
- Mal posso esperar por uma pizza... - Falei. - Uma pizza enorme!
- Concordo plenamente. - Ana disse, com um sorriso estampado no rosto.
- Precisamos passar em uma delegacia antes... - Disse eu, começando a pensar racionalmente, depois do choque de sair da floresta. - Acho que as pessoas desconfiariam de um carro baleado diversas vezes...
- É o mais racional a fazer... - Ela disse.
A ruiva se aproximou de mim e me abraçou forte, mas sem me impedir de dirigir, obviamente. Finalmente me senti seguro, senti que não precisava temer, nem por ela, nem por mim.
- Olha lá! Aquilo são casas? - A ruiva gritou. - São, muitas casas!
Finalmente, uma cidade. Nunca fiquei tão feliz por ver alguns prédios.
- Vamos seguir, se a polícia nos parar, vai ser um alívio... - Falei, rindo.
Um carro sujo de lama, com os vidros quebrados e marcas de bala por toda a traseira pode ser considerado suspeito? Bom, para esses policiais, foi.
Acabamos sendo escoltados até o departamento policial local, pelo simples fato de que nenhum dos oficiais que nos pararam falava inglês. De certa maneira, foi positivo, pois é mais facil argumentar com um delegado, dentro de sua sala, do que com um policial qualquer, apontando uma arma para mim.
Esperamos por alguns minutos na recepção do local, uma sala bem iluminada e com muitas janelas. Ali pude notar como nossas roupas estavam rasgadas e sujas, fora o fato de eu continuar sem camisa. Ana me abraçou com um sorriso fraco, mas notei que estava feliz por conseguirmos sair da floresta.
- A estrada principal estava bloqueada por causa da tempestade, nosso carro estragou na beira da estrada secundária que o desvio apontava. Fomos caçados, e ficamos tentando sobreviver sozinhos na floresta por cerca de uma semana. Então roubamos um jipe de um grupo de homens armados, que dispararam contra nós, e acabamos chegando aqui. - Relatei ao delegado, em inglês.
- Para começar isso tudo, não fiquei sabendo de nenhum desvio na floresta durante a última tempestade... - O delegado, um senhor gordo e careca, disse, com um tom despreocupado.
Ele estava duvidando da minha história? Pensando bem, eu também duvidaria.
- Meu conselho é que deixem isso de lado, esqueçam essa história, e saiam logo da minha cidade, sigam seu rumo. - Seu tom calmo e despreocupado, agora soava como uma ameaça. - Temos uma empresa que aluga carros no centro da cidade. Passem no banco, tentem conseguir algum dinheiro, e caiam fora o mais rápido que puderem...
Não faço ideia do motivo que fez com que ele fosse tão agressivo, mas ele foi. E se a intenção era nos intimidar, conseguiu.
Apertei sua mão respeitosamente e saí do prédio. Fomos até um banco, onde explicamos nossa situação para a gerente, uma moça muito simpática, de quem Ana sentiu ciúmes. A senhorita me ajudou a sacar dinheiro suficiente para seguir viagem, até a casa da tia de minha esposa.
A gerente nos explicou onde ficava a empresa de aluguel de veículos que o delegado tinha citado, então fomos até o prédio em que ela ficava, e alugamos o carro mais barato que seu catálogo oferecia.
- Eu não preciso de muito dinheiro, só quero dar uma olhada nas coisas... - Ana disse, ao passar por uma loja que eu não dei muita atenção. - Do outro lado da rua tem uma loja de celulares, compra algo barato para nos comunicarmos com a minha tia...
A ruiva foi praticamente aos pulos para dentro do estabelecimento. Atravessei a rua, e comprei um iPhone. Nada muito caro, ela disse, mas minha conta bancária não era tão pequena.
Ana saiu da lojinha com uma sacola, e disse apenas que era uma surpresa. Voltamos para o carro e fomos até um hotel, que ficava junto a uma grande praça no centro da cidade.
Alugamos um quarto para uma noite, logo cedo partiríamos. Depois de um banho, deitei na cama, a coisa mais macia que senti em dias, mas antes que eu pensasse em dormir, Ana me interrompeu.
- Não tão cedo, meu amor... - A ruiva proferiu, se aproximando.
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Apenas uma Viagem
AventuraO que acontece quando tudo que poderia dar errado, dá errado? O que acontece quando uma simples viagem de férias acaba virando uma luta pela sobrevivência?