Desde que eu tinha sido baleado, temia que Ana passasse por algo parecido, e naquele momento, senti mais medo ainda por ela. Algumas horas depois de Ana ir dormir, comecei a ver luzes pela floresta. Poderíamos estar salvos, ou mortos.
- Ana! - Falei apenas alto suficiente para que acordasse. - Acho que tem alguém na floresta.
- Não acha melhor apagar o fogo? - Perguntou.
Ana estava certa, e fui o que fiz. Como estávamos perto do rio, peguei um pouco de água e joguei na fogueira, apagando-a. Mas as luzes continuavam se aproximando, então peguei o canivete, que estava praticamente cego, depois de tanto uso com madeira, e fui lentamente mais para dentro da floresta.
Observei bem o lugar, e descobri que haviam duas luzes, duas lanternas, iluminando a área. Nunca fui a pessoa mais agressiva do mundo, aliás, evitava muito a violência, mas era uma questão de vida ou morte. Tanto um risco a mim, quanto à mulher da minha vida. Eu teria que fazer alguma coisa.
Em alguns instantes, eles estavam perto demais.
- Fique escondida aí. - Pedi a Ana. - Eu vou tentar resolver isso.
Ela tentou contrariar, mas coloquei minha mão em sua boca, a impedindo de falar.
- Eu te amo. - A disse, e fui em direção à entidade que estava mais perto.
Fiquei esperando atrás de uma árvore no caminho que a luz seguia, e esperei até que passasse por mim. A primeira coisa que notei foi que era um homem alto, com uma barba grossa. Tinha uma pistola na mão esquerda e a lanterna era segurada com a direita, logo abaixo da arma. Era canhoto.
Acho que foi apenas instinto, mas abracei o homem por trás, colocando a ponta do canivete logo abaixo de sua espessa barba.
- Silent. - Falei, lembrando do que a moça tinha me dito alguns dias antes, e que entendi.
Senti que o grandalhão entendeu o recado. Ele largou a arma no chão, e a lanterna caiu, quebrando a fonte da luz. Por alguns segundos, me senti seguro, até que o brutamontes se virou rápido demais para uma reação, e derrubou o canivete da minha mão.
Rapidamente, ele pegou a arma, mas sem a ajuda da lanterna, não conseguiu me achar. O grandão nem tinha percebido que caí no chão, e quando o mesmo empunhou a arma, me levantei, pegando em seu pulso com as duas mãos, e levantando a arma o máximo que consegui.
Alguma força maior me ajudou, pois com um reflexo ivoluntário, dei uma joelhada no saco do desgraçado. Na mesma hora, ele caiu, deixando a arma na minha mão.
Apontei a pistola para seu rosto, e fui empurrando ele em direção ao lugar onde Ana tinha ficado. No meio da confusão, acabei esquecendo que havia outra pessoa na floresta, e que podia ter achado minha esposa antes de mim.
Logo vi a luz que a segunda lanterna emanava, e fui em direção a ela. Quando me aproximei mais, coloquei o grandalhão na minha frente, o usando como escudo, caso levasse um tiro.
Coloquei a arma em baixo da costela do homem, e fomos mais lentamente andando em direção à lanterna ligada. Quando me aproximei demais, a luz foi em meu rosto, e logo a lanterna caiu, iluminando apenas os pés das duas pessoas que estavam na minha frente. Um par de botas pequenas e desconhecidas, e os tênis de Ana.
Minhas pernas tremeram. a pior situação possivel tinha acontecido. O grandão tentou reagir, pisou em meu pé, e por instinto, disparei.
Acho que Ana se assustou com o barulho, mas não tenho certeza do que aconteceu ali. A tensão era tão grande que ela empurrou a mulher para trás, a derrubando, e fazendo com que a mesma disparasse duas vezes enquanto caiam. Dois tiros acertaram seu ombro.
Ana rolou para o lado, sob a luz da lanterna caída, e sem ao menos saber o que estava fazendo, disparei uma, duas, seis vezes no peito da mulher que estava sob a luz. Era uma mulher alta, morena e um pouco acima do oeso, com a pele muito clara.
Acho que foi minha consciência que pesou. Caí de joelhos no chão e comecei a chorar. Tinha matado duas pessoas... nunca tinha feito isso antes.
Alguns segundos depois, quando voltei a pensar racionalmente, lembrei que Ana estava baleada. Peguei a lanterna que iluminava o corpo desacordado da mulher, e fui em direção à ruiva que se contorcia de dor.
- Ana, calma, estou aqui. - Falei, tentando acalmá-la. - A bala entrou e saiu, não se preocupe, tudo vai ficar bem...
- Pega meu cinto e... droga, não tem o que fazer, foi bem no ombro. Vamos torcer para não ter acertado nenhuma artéria, posso ter problemas se isso acontecer.
Ana fez um semestre de Medicina, mas acabou trancando a faculdade porque achou que não fosse o caminho certo. Felizmente, ela podia resolver a maioria dos problemas que podiam nos acontecer naquela floresta.
Ajudei Ana a levantar, peguei a lanterna e fiz a coisa mais fria da miha vida. Revistei os dois corpos sem vida, em busca das armas. Peguei as duas pistolas, dando uma a Ana. Encontrei alguns pentes para as armas, que guardei no meu bolso, mais um isqueiro, que estava no bolso da jaqueta de couro da mulher, e um facão, que estava em seu cinto. Ela deveria ser a líder, pensei.
Pegamos a lanterna e voltamos até o acampamento, mas eu estava me sentindo culpado demais. Tinha matado duas pessoas que nem ao menos conhecia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Apenas uma Viagem
AventuraO que acontece quando tudo que poderia dar errado, dá errado? O que acontece quando uma simples viagem de férias acaba virando uma luta pela sobrevivência?