Capítulo 10

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- Que porra de ideia foi essa? - esbravejou Douglas.

John estava sentado em frente a mesa do escritório com o semblante despreocupado, se ele fosse mulher eu diria que estava lixando as unhas mentalmente.

- Eu só garanti o seu patrimônio - disse - Carlos não ia gostar de saber que está desperdiçando dinheiro.

- Desperdiçando? - perguntou incrédulo - Carlos era um homem bom, teria ajudado de qualquer forma - defendeu.

- Não se engane, mas você está certo, Carlos ajudaria quem precisasse. - John se endireitou na cadeira. - Tem alguma cláusula especial para pôr no contrato de casamento?

- Ah tenho, e muitas, a primeira é que ela nem assine - disse sarcástico

- Não seja dramático Douglas - ralhou o advogado - eu casaria com ela sem pensar.

- Pois então case - rebateu Douglas.

John gargalhou alto jogando a cabeça para trás. Douglas não achou graça alguma. A carranca costumeira estava fixa em seu rosto.

- Falando sério agora - John sentou-se corretamente na cadeira - hoje mesmo vou fazer uma procuração com os termos de pagamento, vou fazer em parcelas fixas com um prazo maior para começar a pagar. Certo?

- Estou de acordo - resmungou Douglas.

- E quanto ao contrato de "casamento" vai ter um prazo determinado também - Douglas bufou de frustração - relaxe cara, você não vai precisar consumar o casamento, só se quiser é claro - debochou mas logo se recompôs o outro não estava para brincadeira - por isso estou te pedindo agora se você tem algum termo a acrescentar.

- Não, as regras vão ser postas aqui dentro de casa mesmo - exclamou convicto.

- Certo, mas não vá maltratar a moça - pediu John, pois conhecia a fama de Douglas.

- Não irei, só vou deixar as coisas bem claras entre nós.

- Douglas não quero que se sinta mal com esse casamento, só fiz isso porque é meu dever de advogado proteger seu patrimônio. Tente pensar no que vai acontecer como um contrato de amizade, acho que assim vai se sentir mais a vontade. Não sejam inimigos dentro da própria casa - aconselhou John - mais do que seu advogado sou seu amigo e só quero seu bem.

- Eu vou tentar - garantiu mas não estava muito confiante nisso.
- Ótimo já é um começo - disse o advogado levantando de sua cadeira - qualquer coisa me ligue - Douglas assentiu e o acompanhou até a porta - não fique pensando nesse contrato, isso não mudará em nada sua vida acredite - deu dois tapinhas nas costas de Douglas e foi embora.
Mal sabia ele que estava redondamente enganado.

Douglas ficou sozinho com seus pensamentos, era impossível não pensar no suposto casamento. Ele sabia que sua " esposa " seria Olivia, a moça que ele conheceu na estufa de sua casa na ceia de Natal.
Ela parecia tão meiga, daquelas que você tem medo de tocar e ela se quebrar, era esse seu receio. Sabia que a culpa não era dela e não deveria corrompê-la com seus pecados, mas ao mesmo tempo pensava nela como uma invasora, alguém que veio para ocupar o lugar de Kate, mas isso ele jamais iria permitir.
Sentou-se em sua cadeira giratória, fechou os olhos e tentou esquecer o mundo ao seu redor. Nunca antes teria agindo que num futuro não muito distante sua vida daria um giro de trezentos e sessenta graus.
Esfregou as têmporas e saiu de casa, se lamentar não adiantava de nada disso ele tinha certeza por experiência própria. Nem sempre a vida é justa. Infelizmente ele provava da injustiça e isso se sucederia até o dia de seu juízo final.
Douglas escolheu um cavalo de pelagem palomina para cavalgar, o animal seria entregue ao seu novo dono no dia seguinte, então nada mais justo que uma despedida. Quando se cansou guardou o animal e foi achar algo para fazer, não foi para casa almoçar, a fome tinha ido embora.
A imagem de Oliva estava nítida em sua memória, conseguia lembrar de cada detalhe de seu rosto e sua voz doce, mesmo sem querer ele havia gravado os traços dela na memória, Douglas incomodado com o pensamento tentou pensar em outras coisas como o portão quebrado do estábulo.
Ele deveria se manter longe dela!
Ela deveria se manter longe dele!
Era esse seu lema a partir de agora, seriam estranhos dentro da própria casa.

*********

Frederick dirigia de volta pra casa, tranquilo. Não iria perder sua fazenda. A felicidade era tanta que nem cabia em seu rosto. Dessa vez o rádio estava ligado, uma música qualquer preenchia a cabine da caminhonete.
Os dedos tamborilando no volante, o vento poeirento batendo no rosto, era uma sensação boa, revigorante, mas parecida com vitória.
Apesar da felicidade, estava preocupado com a reação de Olivia, sua menina não deveria ter sido medida naquilo, era pra ser só entre ele e Douglas, mas aí veio aquele advogado metido a besta e fodeu com tudo.
Ele tinha medo de Olivia se sentir usada, e se sentia impotente por não poder fazer nada, mas antes de assinar os papéis ele teria uma conversa séria com Douglas, ele que não ousasse fazer algum mal a Olivia, senão ele esqueceria a amizade e..... ele não gostava nem de pensar.
Se ela não aceitasse, sua vontade seria ouvida, preferia perder a fazenda a fazer sua única filha sofrer.
Frederick sabia que a filha nutria uma espécie de paixão platônica por Douglas e temia que ela sofresse por conta disso. Percebeu o que ela sentia depois de notar que ela se recusava a ir a casa dele ainda quando Kate era viva, ela sempre evitava ir onde ele estava. Deveria ser ruim ver a pessoa que ama feliz com outra, mas ela não parecia triste por sua posição, sendo assim ele nunca tocou no assunto.
Frederick chegou em casa mais rápido, parecia que o caminho tinha encurtado, devia ser porque a preocupação foi dissipada. Ao longe viu Olivia com seu cavalo favorito e sentiu seu coração apertar.
Entrou em casa e encontrou a esposa na cozinha.

- Tinha saído? - questionou ela - fui até a cidade e quando voltei você não estava mais nem a caminhonete.

- Fui à casa de Douglas - contou - pedir um empréstimo a ele - disse sentando-se em uma banqueta.

- Oh - exclamou Louise - e como foi?

- Ele vai pagar os empréstimos que devo e ainda vai me emprestar uma quantia para colocar a fazenda de pé novamente, mas.....

- Mas? - incentivou Louise.

- Aquele crápula do advogado dele insistiu em uma garantia que eu pagasse, ele propôs que Olivia se case com Douglas, é só um contato, mas não quero expor ela às fofocas - admitiu.

- Você acha que ela vai aceitar? - perguntou ela esfregando as mãos numa toalha.

- Acho que sim, ela ama essa fazenda, ainda tenho que escolher uma boa forma de abordar o assunto com ela.

- Tem que ser rápido querido, o tempo passa depressa, também não gostaria de expor nossa filha, mas é a única solução, tenho certeza que ela não vai entender e talvez assim ela é ele se entendam - piscou cúmplice.

- A noite eu falo - disse beijando a cabeça da esposa, antes de sair verificar o que ainda podia ser aproveitado na fazenda.

Louise ficou pensativa, sabia que as mulheres da região achariam sua filha uma interesseira, todas queria ser sogra de Douglas, ou a é mesmo se casarem com ele. Louise só queria a felicidade de Olivia a não ia deixar que a difamassem.
Kate surtaria ao saber do casamento, não tinha um que não conhecesse o tipo de pessoa que ela era, invejosa, só seus pais não sabiam ou fingiam não saber.

*********

- Papai você sabia que Richard vai embora? - perguntou se referindo ao peão.

Olivia e Frederick estavam no celeiro limpando os cascos dos cavalos.

- Sim, ele me falou já a algum tempo - ele não quis dizer que talvez o peão ficasse e os outros voltassem.

- Que pena, ele está a tanto tempo aqui - lamentou - será que quem comprar a fazenda do banco não poderá dar emprego a ele? Ele me disse que vai morar com os pais, mas como um peão vão arrumar emprego na cidade? - Olivia estava triste com a situação.

- Não se preocupe, vou falar com alguns fazendeiros ver se podem arranjar serviço pra ele. - mentiu.

- Jura? Ah que bom papai - Olivia pulou no pescoço do pai envolvendo seus braços em torno dele contente.

Frederick sentiu seu coração se encher de alegria com aquele gesto, tudo o que ele mais queria era a felicidade dela.

Enquanto ela estava feliz com um pequeno gesto, Douglas estava se remoendo de raiva por ter aceitado a idéia estúpida do advogado, agora já tinha dado sua palavra, não podia voltar atrás em sua decisão, não era homem disso.
Passou o dia todo mal humorado, mas algo lhe dizia que tudo tendia a piorar.
Arghh!

Salvo Pelo Seu AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora