Descrição #02 - Show, don't tell

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Para esse segundo post sobre descrições, escolhi falar sobre uma das "regras" mais conhecidas do mundo da escrita: show, don't tell, ou, em português, mostre, não diga.

Essa regra consiste em basicamente o que nome diz: você mostrar, não dizer, o que está acontecendo na sua história, principalmente na questão dos sentimentos/emoções dos seus personagens.

Mas por que fazer isso?

A resposta, ao contrário da aplicação da regra, é muito simples: você tem que fazer seu leitor se conectar com sua história.

Acho que eu já disse isso aqui em outra matéria, mas reflita um instante sobre o motivo de você ler um livro ou assistir um filme. "Para me divertir", seria a resposta mais fácil, mas então qual o motivo de tantos lerem livros ou assistirem filmes tristes? Por que continuar gostando da história mesmo depois do final não ser feliz? Mais uma vez, é simples: nós, humanos, somos curiosos por natureza e, o mais importante, queremos sempre nos conectar com outras pessoas. É parte do que nos faz "seres sociáveis". Nós queremos sentir o que outras pessoas sentem e, desse modo, interagir com elas. Por isso que dizem tanto que fazer boas ações para outras pessoas faz bem para gente; somos quase programados para isso.

Então, quando seu leitor em potencial pega sua história, o objetivo dele é se entreter sim, mas, acima de tudo, se sentir conectado aos seus personagens. E, para isso, ele tem que entrar na pele deles.

É aí que contar não funciona. Contar é fazer um relato, informar algo. Mostrar é pintar um quadro do acontecido, com todas as cores e expressões. Mostrar faz com que você sinta. Contar faz com que você tome conhecimento de um fato.

Para sacar mais a diferença, veja:

Luna olhou para Clara com raiva.


Isso é contar; fomos informados que Luna está com muita raiva da tal da Clara. Só.

Luna fechou os punhos e comprimiu os lábios em uma fina linha rígida, seu rosto vermelho e a respiração saindo em arfadas irregulares. Os olhos, agora mais escuros, não desgrudavam da figura alta que era Clara.


Exemplo meio simples, mas a ideia é essa.

Para te ajudar nisso de contar-mostrar, se faça uma pergunta simples: por que eu acho que meu personagem está [insira característica/estado de espírito/emoção aqui]?

Indo pelo exemplo ali de cima, por que eu acho que a Luna está com raiva da Clara?

Formando a imagem em minha cabeça, eu posso ver que Luna fechou os punhos e que seu rosto ficou vermelho. Sua respiração também está mais rápida e até seus olhos escureceram de raiva. Luna está completamente furiosa, e, observando-a, dá para perceber isso. Tudo o que eu tenho que fazer é passar toda essa raiva da Luna para o papel, para que o leitor também sinta isso e, provavelmente, tome seu partido (seja lá o que a pobre da Clara fez).

É claro que você não pode usar essa técnica sempre. Há momentos em que contar é melhor, ou sua descrição se torna muito densa e monótona. Novamente, o equilíbrio é a chave.

Uma boa dica é observar as pessoas à sua volta e ver como elas reagem aos mais diferentes tipos de emoção. Observação é uma das maiores armas que um escritor pode ter.

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