Liberdade forçada

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A ida para casa naquele dia foi tensa.
     Mamãe não falara comigo desde a escola, apenas chorava em silêncio deixando que as lágrimas escorressem por suas bochechas chegando ao queixo e caindo sobre seu colo.
      As mãos com dedos finos e elegantes estavam firmes sobre o volante do carro.
       Ela não dizia nada. Parecia uma estátua que de vez em quando piscava.
    E lá estava minha casa. Vê-la me casou arrepios na espinha.
      Não sabia oque iria acontecer ali dentro. Talvez um castigo, uma surra ou até mesmo um homicídio pelo jeito que as coisas estavam.
       Eu saí primeiro do carro passando pela pequena varanda e entrando na casa. Mamãe apenas me seguia.
    Cheguei na escada subindo dois degraus, mas ouvi mamãe chamar meu nome e eu me virei.
      Sua expressão era fria, ela parecia decepcionada.
        Desci os degraus e a olhei.
      "Dê-me esse celular!" Sua voz era rouca e severa.
       Peguei o celular do meu bolso e coloquei sobre sua mão que estava estendida.
       "É tudo culpa dela!" Continuou mamãe olhando para o celular com frieza. "É tudo culpa de Vanessa, foi ela quem te levou para esse caminho..."
         Sua voz agora começou a se alterar. Mamãe pegou o celular e jogou na parede sem nem um pingo de dó.
         "Eu devia ter prestado mais atenção nas suas amizades, Richard! Mas não, deixei você sair com uma pessoa que achava que tudo era certo!" Ela gritava enquanto eu tentava defender Vanessa de todos os modos.
         "A senhora NUNCA pode culpar Vanessa de um erro SEU! A senhora é quem era a mãe aqui! Porém uma mãe ausente, que NUNCA teve coragem de chegar para o filho e perguntar sobre oque ele gostava!"
     Nossas vozes se misturavam em berros e gritos. Eu falava, falava tudo que estava inalado na minha garganta desde que me entendia por gente.
      Mamãe sabia que eu estava certo, mas a verdade dói demais.
     Dói tanto que mamãe tentou passar essa dor para mim com um tapa no meu rosto que veio de surpresa deixando ela e eu perplexos.
     Virei meu rosto enquanto ela estava à minha frente com as mãos na boca e os olhos arregalados e as lágrimas se acumulando.
      Eu simplesmente me virei e subi para meu quarto me trancando, mas não deitei para chorar ou algo assim. Eu precisava fugir.
       Retirei o chip do meu bolso e logo corri atrás do meu besourinho.
         Eu meio que sabia que mamãe não iria me aceitar como sou. Então planejei tudo: dentro do carro, eu retirei o chip do celular que agora havia virado paçoca e botei no bolso. Ia ligar para Daniel e pedir que fosse me buscar em casa.
       Ele provavelmente já deveria ter lido a mensagem que o mandei onde estava escrito: DEI UMA LIÇÃO NA C. MAS AINDA VOU RECEBER A MINHA EM KSA! PORÉM Ñ QUERO MORAR MAIS LÁ, VAMOS FUGIR! QUANDO EU TE LIGAR VEM DE MOTO O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL ME BUSCAR!
      Arrumei minhas coisas e liguei para Daniel.

Fiquei esperando por pelo menos quarenta e cinco minutos então Daniel chegou.
     Ele parou na frente de casa sem desligar a moto e então eu desci pela janela de mansinho para não cair.
       "RICHARD!" A voz de mamãe soava alto do outro lado do quarto e um barulho dela batendo na porta também. "ABRE ESSA PORTA, RICHARD!"
        Eu tentei não cair da janela pois se não adeus ossos inteiros.
     Mas tive que me jogar quando mamãe entrou no quarto provavelmente achando que eu estava na cama e se surpreendendo ao ver eu me jogando da janela feito uma largatixa suicida.
       "NÃO!" Ela gritou.
     Olhou pela janela e eu levantei rapidamente correndo para a moto de Daniel com uma dor horrível no tornozelo.
      Subi na moto colocando o capacete de mal jeito na cabeça vendo mamãe saindo pela porta de entrada. Daniel acelerou correndo pelas ruas, mas antes de nós dobramos eu olhei para trás vendo mamãe no meio da rua me chamando.
      Porém, olhei para frente e abracei a cintura de Daniel. Seu calor me acalmava.

Percorremos por um longo caminho até chegar no nosso primeiro ponto.
     Daniel parou a moto e eu desci, andei até o carro de Pedro onde ele estava apoiado relaxado.
       Cheguei perto dele e o abracei.
      "Obrigado por ter me entendido e me ajudado!" Agradeci.
      Meu primo amado nunca me deixou na mão. Nem mesmo agora.
      "Eu sempre vou te ajudar!" Falou ele. "Agora vão! Vocês tem que ir, o caminho é longo."
      Disse ele à nós entregando a chave do carro para Daniel e recebendo a da moto.
    Sentei no banco do carro que era bem mais confortável que estar na moto e uma mensagem de Vanessa caiu no meu celular:
       BOUA SORT FRIEND! PROCURE A FELICIDADE QUE VC A ACHA! BJS!
     Olhei para Daniel e ele deu mais um daqueles lindos sorrisos e segurou minha mão.
       Estávamos indo para uma casa da avó de Daniel.
     Mas era no Mato Grosso e o caminho à noite era perigoso, então ele preferiu passar a noite em um hotel.

Quando chegamos no hotel vi que era um lugar aconchegante.
     "Isso tudo não foi caro?!" Perguntei olhando o espaço.
     "Não muito!" Respondeu ele. "Mas vou ter que economizar pois meus cartões de crédito foram cancelados."
     Meu coração parou. Daniel estava sem trabalho e sem dinheiro. Me sentia mal por isso.
     Dei uns passos na sua direção e dei um beijo e em seu rosto e depois na sua boca.
        "Vai dar tudo certo!" Falei tentando encorajá-lo. "Mas... qual é seu plano?"
          "Bem... não sei direito sobre leis. Mas já ouvi dizer que aos dezesseis anos de um jovem ele tem a liberdade de escolher qual rumo seguir".
           Franzi a testa sem entender muita coisa.
         "Tá, mas quando você diz: segui um rumo. O que isso significa?"
        "Isso significa que eu vou poder estar com você sem que a lei nos impeça de continuarmos juntos! Eu não serei culpado de estrupo de vulnerável, pois a decisão da sua vida você pode tomar".
        Meus olhos brilharam. Aquela era nossa saída. Provavelmente Daniel iria ter que responder algum processo por ter tranzado comigo pois ainda tenho quinze anos, mas depois de ele pagar pelo crime eu e ele poderíamos viver juntos!
       "Eu faço aniversário daqui a um mês e meio!" Falei.
          "Eu sei! É por isso que temos que ir para a casa de minha avó. Pois lá vamos ficar um tempo fora e quando você fizer aniversário nós voltamos!"
          Ele passou a mão pela minha coxa e me olhou com aqueles olhos brilhantes e cheios de vida.
        "Te amo!" Disse ele.

Saudações Ao Professor (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora