Paraíso sombrio

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Após quatro meses sob cuidados médicos eu tive alta.
     Eu conseguia andar, mas sempre com a ajuda de Pedro ou de minha mãe.
    Após o acidente, mamãe não tocou no assunto. Então quem me contou sobre a morte de Daniel foi Pedro.
      Pra falar a verdade eu não falei com mamãe durante três meses após eu acordar. Mas uma semana antes de eu receber alta, quando mamãe estava saindo do banheiro eu soltei um breve comentário sobre como o dia estava lindo.
        Para ela dias nublados eram dias tristes, mas eu via algo além disso. Minha vida inteira havia sido trevas, talvez por isso eu via algo belo no obscuro.
        Mamãe se sentou do meu lado e olhou para o céu. Eu baixei a cabeça por um momento e quando a olhei de novo vi que ela estava chorando.
      Mamãe me pediu desculpas, alegando que tudo foi culpa dela por não ter aceitado a sexualidade do filho, e quando me dei conta eu também estava chorando.
     Aceitei suas desculpas, aliás, não é fácil pra nenhuma mãe aceitar de cara algo como isto, porém, nenhum filho deve fazer oque eu fiz.
   Portanto, eu não joguei a culpa toda em minha mãe.

Quando cheguei em casa tudo parecia silencioso.
     Subi as escadas e cheguei ao meu quarto.
    Deitei lentamente em minha cama tomando cuidado com minhas costelas que ainda doíam por causa da fratura durante o acidente.
       Olhei para o teto lembrando da minha primeira vez com Daniel e isso me fez chorar.
    Abracei meu travesseiro e fiquei ali em meu mundo cruel.
       Acordei depois de um tempo sentindo as carícias em meu cabelo pelos finos e elegantes dedos da mamãe me sentindo como se tivesse seis anos.
         "Eu não sou mais uma criança mãe!"
        "E eu não sou sua mãe!"
      A voz me despertou como se eu estivesse levado um enorme choque.
         Pulei da cama rapidamente e coloquei a mão sobre as costelas sentindo uma enorme pontada.
           "O que você faz aqui?!" Perguntei em um elevado tom de voz.
         Carla me olhava de um jeito severo.
       Sua expressão estava cansada.
   Em seu rosto mostrava-se enormes olheiras, seu cabelo estava mal arrumado e suas unhas estavas sujas.
       "Eu vim me vingar!" Ela sorriu e deu uma cutucada na cabeça rapidamente como se estivesse algo lá dentro.
     Eu sorri ironicamente.
        "Vingar?! De que?! O homem que eu amava não está mais nesse mundo, e tudo é por sua culpa e você ainda quer se vingar?!" Falei secamente.
          Carla arranhou a cabeça e a bateu com a mão.
       "CALA A BOCA!" Ela retirou uma arma da cintura e apontou na minha direção. "FOI VOCÊ O CULPADO DA MORTE DELE!"
         Eu tinha que arrumar um jeito de desarmar Carla e chamar alguém para me ajudar.
      Olhei para a porta e percebi que a mesma estava aberta.
         Foi então que lembrei da minha mãe e ela falou que não ia sair de casa.
           Carla estava com uma arma e uma onda de pânico invadiu meu corpo. Oque ela havia feito para minha mãe.
        "Onde está minha mãe?" Perguntei.
       "Ela está bem... só um pouquinho inconsciente no andar debaixo. Calma! Ela não está morta, quero que ela veja a sua morte antes!" Disse ela segurando a arma com as duas mãos e preparando para atirar.
       Meu corpo estremeceu com o medo de morrer, mas logo depois percebi que a morte não era uma preocupação.
      Olhei  para Carla.
        "Vá em frente! Eu não tô nem aí! Só queto estar mais perto de Daniel".
       Aquilo pareceu uma ofensa a Carla que atirou no espelho que estava logo atrás de mim.
       Eu ri enquanto olhava sua cara.
          Ela pegou a arma e quando ia puxar o gatilho um garoto entrou pela porta do quarto se atirando em cima de Carla.
     Eu prendia o ar enquanto olhava para o garoto lutando com Carla.
       "Corre!" Ordenou Matheus.
     Mas antes que eu pudesse fazer algo ouvi o barulho do tiro.
      Carla arregalou os olhos e fez uma cara de assustada para Matheus que estava em cima dela.
         Matheus se levantou um pouco retirando os peso do corpo dele de cima de Carla, mas depois caiu para o lado com seu peito inundando em sangue.
       Carla se levantou rapidamente e encarou o amigo.
      Corri até ele e segurei sua cabeça.
        "Matheus, Matheus fala comigo por favor!"
           Ele sorriu.
       "Eu só queria... te pedir desculpas por ter... por ter feito aquilo com você. Eu sabia que Carla iria vir tentar algo contra você e tive que vir te salvar. Me desculpa!"
          Balancei a cabeça positivamente enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto sem cessar.
       O peito de Matheus subia e descia segundo a sua respiração.
   Até que parou.
      Seus olhos se esvaziaram e sua cabeça tombou para o lado.
    Olhei para Carla e ela apontou a arma para mim.
       "Viu oque você fez?! Você matou até mesmo seu amigo, seu monstro!"
        Ela chorava enquanto eu fechava os olhos de Matheus e o deixei no chão.
       Levantei e abri os braços.
         "Vá em frente a acabei logo com isso!" Disse determinado.
          "Sim!" Revidou Carla.
         Fechei os olhos e esperei o tiro, que foi disparado logo depois.
          Abri os olhos para olhar onde o tiro havia pego, mas apenas vi Carla caindo pela janela do quarto para o lado de fora.
          Corri até o local e vi ela, estarrecida no lado de fora e com a boca estourada pela bala que ela havia atirado em si.
       Mamãe chegou ao quarto meio zonza e me encarou assustada com os olhos cheios de lágrima.
         Ela passou pelo corpo de Matheus e me abraçou chorando.
      E nós ficamos ali... abraçados querendo que tudo aquilo passasse o mais rápido possível.

Saudações Ao Professor (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora