Mente quebrada

136 10 0
                                    

Acordei de manhã cedo com um pouco de medo. Certifiquei-me de que o carro não havia voltado pelo menos umas vinte vezes à cada minuto que se passava.
        Estava exausto.
    Quem queria tanto Daniel a chegar à esse ponto e como essa pessoa sabia onde era minha casa?!
     As perguntas brotavam na minha cabeça como pipocas estourando na panela. Mas as respostas que eu estava precisando... nada!
     Me arrumei com os olhos ainda inchados por não terem sido pregados nessa madrugada. Desci as escadas e vi que minha mãe lia uma revista.
    E se a pessoa do carro tentasse algo contra mamãe?!
     A pergunta se alojou em meu pensamento. Mamãe ainda -ainda- não sabia do ocorrido na madrugada. Apenas Vanessa. A única pessoa que eu poderia contar, a única que eu confiava.
       Ela chegou um pouco cedo. Provavelmente estara com medo de me deixar ir de ônibus. Só a andada de casa para a parada de ônibus já podia ser um modo de ser atacado.
         Vanessa estava no carro, mas esse não era novo. Esse Vanessa havia ganhado ano passado do pai.
       "Voltou a dirigir seu camaro de segunda?!" Perguntei rindo.
       Vanessa soltou uma gargalhada seca. Ela odiava aquele carro, por isso teve que por os piores defeitos no mesmo para poder conseguir um novo.
      Apesar de que Vanessa logo, logo iria ganhar um carro novo, mas teve que ir com esse pra me proteger!

Chegamos na escola e apesar de Vanessa não poder estacionar perto da instituição teve que estacionar mais longe ainda e tivemos que dar uma grande caminhada até a escola. Tudo para não passar vergonha!
     O carro nem era tão velho, mas na cabeça de Vanessa...
     "Você vai falar com aquela garota?" Perguntou Vanessa.
     "Não sei, acho que sim!" Respondi.
     Vanessa ganhou uma espécie de raiva da cara da Carla. Ela não gostava de ninguém que fumava maconha.
       Tanto que Vanessa acabou com um relacionamento de sete meses pois descobriu que seu namorado fumava.
       
Quando as aulas acabaram eu saí da sala na companhia de Carla. Procurei Vanessa mas ela não apareceu. Talvez ela ainda não tivesse aparecido porque a minha turma saiu cedo. Ainda eram quinze para as onze e o horário normal de saída era meio dia.
    Meio dia! Ainda faltava muito pra Vanessa sair e para Pedro vir me buscar.
     Bem que eu podería mandar uma mensagem para Pedro pedindo para que ele viesse logo e depois para Vanessa dizendo que já fui.
        Peguei o celular.
    Fui até as conversas e achei a com Pedro. Ia mandar a mensagem.
     "Oi gente!" A voz de Matheus fez eu tirar os olhos do celular.
    Ele estava com Alan, Mike e Marcos.
     Sorri para ele e Carla o dava um soco no ombro.
     "E então trouxe o negócio hoje?!" Perguntou ela para Matheus.
       "Trouxe sim! aqui na minha mochila!"
        Que negócio era esse?!
     "Vamos fumar nós seis?!" Perguntou Mike.
      Pera! Fumar?! Seis?! Não eu não ia fumar!
    Todos olharam na minha direção esperando alguma resposta.
      "E-eu não fumo!" Falei.
    Eu queria ir embora dali. Ia terminar de mandar a mensagem para Pedro e ia ir embora.
      "Vamos lá, Richard! Se solta um pouco!" Falou Carla.
       E se eu só experimentasse um pouquinho? A pergunta rondou minha cabeça.
     Não! Isso era errado!
     Richard você não pode!
     "Pois é Richard!" Falou Matheus. "Se solta um pouco!"
     Ele me mandou uma piscada.
   Eu nunca experimentei isso! Talvez não fosse tão ruim assim...
    "Okay!"
    Todos riram. Mike e Alan bateram no meu ombro e fomos para o vestiário.
 
Eu não havia mandado a mensagem para Vanessa e nem para Pedro! Ainda havia tempo suficiente.
    Foi Marcos quem "bolou" a "massa" em um lenço de papel o qual eles chamavam de "seda"
    Percebi que Marcos era o mais calado, a única coisa que ouvi ele dizer foi: OI e TCHAU.
        Depois que ele terminou o serviço colocou na boca e acendeu o cigarro. As primeiras fumaças voaram pelo vestiário livremente. O cheiro era forte, mas a porta estava trancada então quem estava do lado de fora não sentiria o cheiro.
       "Bem... já que o Richard é novo nisso o primeiro trago é dele!" Falou Alan.
      Oi?! Hein?! Comassim?!
      "Eu não sei... tragar!" Legal! Acabei de pensar no verbo tragar!
  Eu trago, tu tragas... isso tá mais para o verbo trazer! Mas enfim! Gíria é gíria!
      "É simples!" Falou Mike. "Basta você colocar o cigarro no boca e puxar a fumaça! Depois a fumaça que ficar na sua boca você suga para dentro da garganta!"
      Okay! Entendi! Colocar, puxar e sugar.
     Fiz o que ele me ensinou e acabei tendo uma crise de tosse.
     Todos riam mas não falaram nada. Carla deu um sinal pra eu tentar mais uma vez. Eu tentei.
      Mas dessa vez eu não tive pena. Trouxe toda a fumaça para dentro do pulmão e depois a assoprei.
      "Olha só! Essa foi boa!" Falou Carla.
     Sorri e passei o cigarro para ela sem deixar de perceber que minha mão deu leve tremida.
      Os outros fumaram e eu fiquei ali só observando sentindo meu corpo dar uma leve cambaleada.
        Matheus estava do meu lado e eu o olhei fumar. Mas ele fez uma coisa engraçada deixando a fumaça sair de dentro da boca e subir para o nariz.
        Quando vi a cena eu sorri.
     Ele me olhou e retribuiu o sorriso.
     "Quer mais um pouco?" Disse ele me mostrando o cigarro.
     "Sim!"
     "Posso passar a fumaça pra você?!" Perguntou ele.
       Como assim passar a fumaça?
     Percebi que todos me olharam como se aquilo fosse um desafio.
      "Ah... Sim!" Respondi.
      "Fica quieto!" Disse ele sugando mais um pouco de fumaça.
      Veio até minha boca e a beijou. Porém, não colocou a língua ou algo assim, ele apenas assoprou a fumaça e eu a suguei.
       Olhei para os outros e percebi que estavam bastante animados com a cena. Até mesmo Marcos que era o mais quieto, porém quem mais parecia confusa era Carla.
     Peguei o cigarro e dei mais um trago e senti que uma onda invadiu minha mente. Passei o cigarro para Carla e encostei minha cabeça no armário que estava atrás de mim sentindo como seu meu corpo tivesse em cima de uma bóia em um mar.

Saudações Ao Professor (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora