A queda

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Era quarta-feira feira, dia em que Daniel dava aula na minha turma no quinto e sexto horário.
Todos da minha sala sabiam disso. Inclusive Carla, que quando me viu deu um sorrisinho ao estilo madrasta má assim que passei pela porta de entrada da sala - apesar de que não deixei de reparar sua expressão completamente acabada, parecia cansada.

No intervalo chamei Matheus, que veio falar comigo sem hesitar. Porém, ao me ver baixou a cabeça e andou como um criminoso sendo fotografado para sair em um jornal.
"Olá Richard!" Disse ele parando na minha frente. "O que você queria conversar comigo?!"
Olhei para sua expressão. Ele mal podia olhar em meus olhos.
"Você fazia parte do plano de Carla?!" Perguntei friamente.
Ele me olhou. Seus olhos furaram minha alma ao ver que as lágrimas estavam prestes a transbordar.
"Sim!" As lágrimas caíram sobre seu rosto numa fração de segundos. "Me desculpe!" Ele baixou a cabeça e começou a soluçar.
Eu não podia chorar ali. Então virei a cabeça para o lado, piscando, tentando conter as lágrimas. Eu não sabia se a tristeza vinha por causa de Matheus estar chorando ou porque eu confiei nele achando que ele era uma pessoa à qual eu achava estar sentindo algo por mim.
"Me desculpe, por favor me desculpe!" Continuou ele ainda de cabeça baixa e soluçando. "E-eu soube do plano de Carla, mas minha única tarefa era pedir seu número".
Virei minha cabeça que estava para o lado e o encarei ainda com os olhos cheios de lágrimas, porém com a expressão dura.
E Matheus continuou:
"Eu o vi pela primeira vez, mas eu já tinha te reparado. Eu não queria..." Matheus deu uma pausa para assoar o nariz. "Eu não queria participar do plano, mas Carla disse que eu só devia fazer uma coisa: pegar seu número. Eu consegui, mas depois você o trocou e eu tive que pegá-lo mais uma vez!" Ele baixou a cabeça de novo. "Só que eu fui te conhecendo e acabei... acabei gostando de você de verdade".
As lágrimas que se acumularam ao máximo e escorreram sobre minhas bochechas antes mesmo de eu as limpá-las.
"Quando você notou que gostava de mim?!" Perguntei fechando os olhos.
"No dia em que fomos para o vestiário! Aquele beijo não fazia parte do plano. Por isso Carla ficou um tão impressionada quando viu a cena".
Por um momento lembrei da expressão de Carla. Sua boca aberta de surpresa, mas a animação estava estampada em seu rosto. Talvez ela devesse estar satisfeita pois Daniel estaria provavelmente livre.
"Não precisa falar nada além, sei que estou errado em ter participado do plano e apenas peço seu perdão!" Falou Matheus. "Você me perdoa?!"
O olhei e sua expressão parecia verdadeira.
"Sim!"
Ele me puxou para um abraço e eu o fiz. Mas antes que eu pudesse fazer algo sua boca já havia se encostado na minha e sua língua batia em meus dentes para que eles se abrissem e permitisse a entrada da mesma.
Empurrei Matheus e por impulso acabei dando um tapa em seu rosto, mas só depois do ato pude ver minha burrada. Porém não me deixei cair.
"Perdão! Mas você provocou isso!" Falei já saindo do banheiro.

A aula de sociologia havia acabado, mas ao invés de Daniel entrar na sala e dar os dois últimos horários quem entrou na sala foi a diretora.
"Bom dia alunos!" Ela parou e esperou todos darem bom dia e continuou: "O professor de inglês de vocês não poderá dar aula, por isso todos serão liberados mais cedo!"
Ouvia alguns sussurros atrás de mim do tipo "pega caralho!" Ou os mais educados "eba!"
Mas pra mim aquilo não foi nada animador, porém a surpresa veio logo depois que a Diretora chamou meu nome.
"Sim?!" Perguntei confuso.
"Você terá que comparecer à diretoria comigo, por favor!"
"Sim, senhora!"
Eu não sabia oque estava havendo.
Acompanhei a diretora até a sua sala e me assustei quando vi minha mãe sentada em uma cadeira em frente à mesa.
"Sente-se!" Ordenou a diretora.
Sentei-me do lado da mamãe enquanto ela me lançava um olhar do tipo: que seja coisa boa pois se for ruim eu te mato!
"Desculpe senhora Beatriz pelo incômodo. Mas a sua presença foi extremamente necessária para que eu pudesse lhe informar sobre certos acontecimentos envolvendo seu filho".
Meu corpo congelou.
Que seja coisa boa, que seja coisa boa!
"Bem!" Continuou a diretora. "Esse envelope veio parar na minha mesa hoje mais cedo na hora do intervalo, e realmente fiquei espantada quando vi os documentos!"
A diretora passou o envelope para mamãe e ela o abriu me olhando. Parecia que o envelope estava cheio de papel ou coisa do tipo.
Mamãe abriu o envelope e percebia pelo seu gesto o quão impressionada ela ficou quando colocou a mão na boca abafando qualquer som.
Meu coração acelerou. Que porra era aquela?!
A diretora não parava de tagarelar e eu tentando ver o que tinha e que mamãe as folheava. Mas então ouvi a diretora dizer "...O professor Daniel já foi afastado do serviço..." e meu pânico aumentou e eu arranquei as fotos da mão da mamãe e me surpreendi com as fotografias.
Era eu e Daniel tranzando em sua casa.
As fotos foram batidas da árvore logo à frente.
Levantei da cadeira deixando as fotos caírem no chão.
Eu estava borbulhando e chorando de ódio.
Saí da sala sem dizer uma palavra. Me tornei surdo e mudo, mas não cego, meus olhos funcionavam perfeitamente bem, muito bem e estavam à procura de Carla.
Onde está essa filha da puta mal comida?!
Meus pensamentos só eram voltados para os palavrões mais insanos que existia.
Eu andava em meio à multidão e lá estava ela. Sorrindo em sua roda de amigos.
Corri até ela. Percebi que Carla ao me ver fechou o sorriso que estava em seu rosto, mas antes que pudesse se mover sentiu o peso de minha mão fechada acertando aquele seu lindo rosto.
Ouvi gritos de surpresa.
Mas nada podia me deter agora, sentei em cima da desgraçada e soquei uma, duas e na terceira vez fui freiado pelo porteiro que me agarrou impedindo-me de formar Carla em bacharelado de dor na cara.
"RICHARD!" A voz de minha mãe soou pelos corredores fazendo com que eu parasse de me debater nos braços do porteiro.
"Richard! Seu comportamento é inaceitável para essa instituição de ensino!" Falava agora a diretora. "Sua única saída será a transferência."
Carla já estava de pé. E sorria.
Me soltei dos braços do porteiro e voltei para a diretoria olhando para a multidão com celulares na mão me gravando. E então olhei nos olhos de Vanessa que estava ali sem entender nada.
Todo o meu futuro foi por água abaixo.
Eu ia sair da melhor escola da cidade para ir para alguma dessas escolas em que tem certa fama de alunos perigosos e professores que não gostam do seu trabalho por causa dos alunos.
Quer saber?!
Foda-se!

Saudações Ao Professor (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora