Capítulo 9 - A Peça que Não se Encaixa e os Traços de DNA

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     Como em todas as outras vezes eu fiquei no fundo do elevador lotado, tentando encontrar apoio na junção das paredes frias de metal. Minha mão direita procurava o tecido do boné de Charles com frequência, pendurado no passador da minha calça jeans escura e puída. Eu quase criava um pequeno campo de atrito, sentindo a pele esquentar pelo movimento repetitivo. Enquanto subíamos, paramos em vários andares, pessoas saíam e entravam. Todos tinham expressões faciais confiantes e movimentos práticos. Estavam seguros de si de tal forma que pareciam saber o que aconteceria no futuro.

Olhei para trás e dei de cara comigo mesma no fundo espelhado. Vi as silhuetas em volta em tons de branco, cromo e azul. Todos conversavam ou olhavam apressados o marcador dos andares. Eu parecia uma mancha escura numa pintura, pequena e no canto, mas perceptível e irritante ao ponto de destoar.

Eu seria capaz de me encaixar no mundo dos normais um dia?

O que eu teria de perder de mim mesma para conseguir isso?

Meu andar chegou, e todos pareciam saber disso, pois me deram passagem. Lá estavam seus olhos tentando serem gentis, mas em vão escondendo a repulsa. Eu era a peça quebrada que a sociedade teimava em se reafirmar que aceitava e tentava encaixar. Eu devia deixar muitos deles constantemente irritados.



Todos os pacientes do dia já estavam lá, cheguei no momento em que íamos começar os exames de rotina.

Foi quando senti alguém esbarrando em mim de leve.

Vi sua enorme sombra me encobrir, e senti cinco dedos firmes pressionando minhas costas. Recuei o ombro esquerdo e quando olhei para trás vi apenas um borrão alto usando sobretudo.

Era o paciente a direita nas saletas de espera para as consultas.

O busquei entre os rostos assombrados e tristes, mas ele havia evaporado com rapidez dentro de alguma das salas.

– Alice? – Um conhecido enfermeiro me chamou – está pronta?

Esbocei um sorriso duro.

– Mais do que nunca.

Eles repetiram os mesmos testes de sempre, mas aquilo me pareceu extremamente mecânico, proforma. Como se já soubessem os resultados. Não tinham a mesma atenção de antes, e vi dois enfermeiros bocejando. Um deles pegou meu braço totalmente sem vontade ao colher sangue.

No Relógio de Vidro, a psicóloga da vez foi absolutamente sucinta comigo. Perguntou como eu estava, respondi que estava bem. Ela assentiu e passou para o próximo paciente, sem me inquerir mais nada. Fiquei pasma com a rapidez do seu diagnóstico, até que percebi que aquilo não havia sido um diagnóstico.

Era apenas o seguimento de um protocolo.

Isso alterou meu batimento cardíaco progressivamente. Não tirei mais minha mão do boné de Charles, suava e tremia. Para que fingir?

Fiquei com medo de alterar minha rotina, então comi tudo o que me foi oferecido na saleta. Eles me deram pães quentes com queijo e fatias de bolo com geleia de morango, acompanhados de chá de hortelã gelado. Tudo estava muito saboroso, e comi com prazer.

A paciente do lado esquerdo havia voltado. Dois enfermeiros a trouxeram, e um deles ficou com ela, ajudando-a se alimentar. Ela resmungava palavras incompreensíveis e não conseguiu comer tudo. Logo foi chamada, o enfermeiro a ajudou a caminhar.

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