Acordei com uma pressão na cabeça. Alguém havia feito uma trança em meu cabelo, ela era embutida, muito apertada, sem deixar escapar um fio. Sentia que estava numa cama muito confortável, quase derretia meus ossos, embora, eu tivesse certeza que o colchão do hospital era bem mais fino, e o outono deixava aquela sala gelada.
Essa não. Tinha uma temperatura agradável e ótimos travesseiros. Mas não eram tão bons para aliviar o aperto na minha cabeça.
Incomodada ao máximo de mim, finalmente abri os olhos, sonolenta. Ergui o braço para desfazer a trança, mas ele só foi até a metade: uma bandagem elástica e firme o prendia na cama. Fiz força para erguer o braço e ela se tornou ainda mais rígida, ficando curta e me obrigando a ceder e a manter o braço no lugar. Ao tentar erguer o outro, outra bandagem o segurou. Antes que eu pensasse, cinco voltas dela prenderam o meu tronco e pernas. Ao tentar erguer a cabeça, uma prendeu minha testa e outra meu pescoço.
Lutar era inútil, mas eu teimava. Meus músculos tremiam por conta do esforço, os elásticos apertavam minha carne, firmando hematomas. Só parei de tentar quando comecei a sufocar.
Estava suando e respirando com dificuldade no curto espaço, enquanto meus pulmões imploravam por mais. Parei totalmente de me mexer, tentando relaxar de novo. Meu cabelo parecia me ferroar, a dor me preenchendo, latejante. Aos poucos senti as bandagens relaxarem, até deixarem de existir.
Então, estas são as regras: permaneça deitada.
Aos poucos a dor de cabeça foi cedendo, enquanto eu tentava perceber o ambiente ao meu redor. Eu estava numa sala branca sem fim, com paredes tão distantes que não as conseguia ver. A cama era do mesmo branco, assim como a camisola de hospital. Eu não vesti uma antes de apagar, ou vesti?
Voltei a dormir assim que a dor de cabeça me abandonou por completo.
Horas ou dias depois acordei, incomodada com o barulho de descargas elétricas. O teto da sala agora era escuro como a noite, de dentro dele saíam trovões e raios, relâmpagos que me deixavam parcialmente cega. O que o primeiro fluído iria fazer mesmo?
- Fluído de detecção - disse em voz alta.
A tempestade em cima de mim piorou. Sem pensar afastei o cobertor e me levantei, caminhando para longe do epicentro. Algumas mechas do meu cabelo escaparam no vento forte. Depois de vários minutos percebi que havia conseguido me levantar sem ser impedida.
Quanto mais eu caminhava, mais voltava à sala branca de antes. Aos poucos o vento ficou para trás, assim como a tempestade. Muito depois olhei para trás e notei que havia subido terreno, mesmo pensando estar em terra plana. Lá embaixo um mar revolto lutava contra a tempestade. Tudo lá estava escuro, e conseguia ver a minha cama flutuar nas águas violentas, como se fosse um único e perdido barco.
Voltei a caminhar, vendo como as marcas em meus braços haviam começado a ficar roxas. Comecei a ter percepção do terreno, subia e descia entre colinas imaculadas, enquanto via montanhas escandalosamente altas no horizonte.
Ao vencer o próximo declive, encontrei os irmãos Malckin. Eles estavam na mesma cama, todos sentados de costas para mim, conversavam por seus sinais.
- Meninos! - Chamei, e os três se viraram. Os olhos brancos de antes voltaram a ornar seu rosto. Engoli seco e fui até eles, sentando numa pontinha da cama.
- Vocês estão bem?
Eles afirmaram com a cabeça, sorrindo.
- Tudo aqui é muito bonito - disse Malckin #1 - eu poderia passar o resto da minha vida aqui.
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Vá Embora de Mim
Science FictionAlice é uma jovem diagnosticada com esquizofrenia paranoide. Ela vive numa instituição e tem cada minuto do dia meticulosamente controlado pelos seus médicos para que não perca o controle. Numa sociedade que isola permanentemente pessoas com doenças...