Capítulo 10 - A Fuga, o Paciente da Direita e o Maren III

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 Sentei no chão da saleta, enquanto a discussão lá fora continuava. Meu médico persistia em seus argumentos, mas não iriam longe. Eu não iria longe, literalmente falando.

Enquanto tremia de pavor, aconteceu movimentação na saleta à minha direita. O paciente foi tirado do consultório por dois enfermeiros que o jogaram lá e trancaram a porta. Ouvi um ruído breve, quase podia jurar que alguém do outro lado da porta dele estava xingando. O paciente alto cuspiu no tapete, enquanto segurava o nariz.

Haviam batido nele.

Essa reação era totalmente contrária a qualquer tipo de protocolo. Nunca, jamais se bate em pacientes. O regimento era claro: em caso de descontrole, o médico apertava um discreto botão na mesa, e dois enfermeiros vinham de imediato para conter o paciente, geralmente com seringas de algum tranquilizante. Sei disso porque já aconteceu comigo.

Ele se virou para mim. Se jogou no chão e veio de joelhos até a parede que nos separava, fiz o mesmo. Ele espalmou a mão, e me uni a ele no ato.

– Estão aí fora para me prender – disse, suspirando alto pelo choro – acabo de descobrir que todas as identidades que estavam na minha cabeça eram pessoas reais. Estão todos mortos, e meu DNA está em cada cena. Todos menos... Charles. Eu não sei onde ele está, mas sei que ele poderia me ajudar a sair daqui, a ter uma chance para me defender. Eu n-não vou ter isso... sou uma louca assassina!

Ele assentiu. Em seguida, fez sinal para que eu recolocasse o boné.

O tecido se ajustou na minha cabeça de forma firme, moldando-se no meu crânio. Escutei um leve zunir, que me fez raspar os dentes até que ele passasse. Recolhi minha mão e a analisei na minha frente. Ela vibrava agora, assim como todo o meu corpo: da unha do meu pé até as minhas pálpebras. Eu era uma máquina de vibração.

– Como isso... está – minha voz também saía vibrante, como se eu falasse de frente a um ventilador.

Ele apoiou as duas palmas na parede com força, me chamando a fazer o mesmo com um movimento da cabeça. Uni nossas mãos.

As vibrações dobraram. Vinham dele também, e quanto mais força aplicávamos, mais eu entendia o que ele estava tentando fazer.

As vibrações quebraram a parede em milhares de pedaços. Todos trincaram em uníssono, ele se afastou e eu fiz o mesmo, meio segundo antes de tudo vir a baixo.

Abaixei a mão que protegia meu rosto, e uma mão estava estendida, me esperando. Eu conhecia aquela mão. Vi uma cicatriz na lateral dela, a cicatriz que eu criei quando o empurrei na rua. Ergui os olhos, sentindo o coração bater violentamente na garganta. Um corte ainda sangrando no osso do nariz, os dentes ainda vermelhos e um hematoma começando a se formar no osso do olho esquerdo não o deixavam menos lindo do que sempre fora.

Charles me ergueu, colando nossos corpos. Piscou para mim, e cuspiu vermelho antes de voltar a sorrir.

– E aí, gatinha?

– Não fode com a minha realidade ainda mais, desgraçado!

Ele gargalhou, girando os olhos. Beijou minha mão direita e ainda a segurando, me levou até a sua cabine. Apoiou-se na porta e eu fiz o mesmo do seu lado, enquanto a vibração anterior voltava a tremer minhas mãos.

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