Capítulo 07

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Anahí: Tudo bem, Edmundo. – Disse, quando ele parou na frente do seu prédio. – Meu carro está ai. Eu... Preciso passar um tempo sozinha. Preciso pensar. Decidir. – Disse, dando de ombros, triste.

Edmundo: Tem certeza de que vai ficar bem?

Anahí: Vou tentar. – Disse, forçando um sorriso – Obrigado pela carona. – Edmundo assentiu, com um ar preocupado, e viu ela descer da picape.

Edmundo dera carona a Anahí até a detenção. Anahí não o deixara entrar, porque ele prometera dar uma surra em Maite. Parecia estar falando sério. O tempo estava frio, ventava, o céu estava encoberto por nuvens cinzas. Ela desceu do carro, e a claridade agrediu seu rosto, fazendo-a franzir o cenho, e baixar a cabeça, deixando a cortina de cabelos a protegê-la. Mas isso não importava. Importava o que havia no 26º andar daquele prédio. Importavam as lembranças, memórias nem tão recentes, mas ainda frescas, de pouco mais de um mês atrás. Lembranças que ela evitara até hoje. Não voltara pra casa desde o acidente. Ela abriu a porta, de cabeça baixa. Fechou a mesma, e ergueu o rosto. Seu apartamento. A dor a atingiu em um golpe impiedoso, e a primeira lágrima caiu pelo rosto sensível dela, que a secou em imediato. A poltrona dele estava ali, como se esperasse que ele aparecesse e se largasse lá como sempre fazia. Ela respirou fundo, vendo as janelas fechadas, a porta do escritório entreaberta. Algo a mandava ir pro quarto. Chegando lá, a dor foi tão forte que ela parou no portal, olhando. Tudo era tão familiar. Podia vê-lo saindo do banheiro, secando o cabelo, o peito ainda com gotas de água do banho recente. Podia ouvir sua voz vindo do closet, perguntando se ela vira onde ele colocara algo. Podia ver os dois juntos, na cama, se amando com avidez. Ela nem viu as lágrimas que queimaram seu rosto, mas ela houveram, junto com soluços. A realidade a chamou quando ela olhou a escrivaninha.

Haviam fotos dos dois por ali, e cada foto era uma pontada aguda. Mas havia um saquinho, um saquinho de farmácia, com testes de gravidez. Várias caixas. Ela se lembrou do porque fora pra casa. Só ali poderia pensar direito, a resposta se encontrava no foco da dor. Ela pensou que poderia fazer os testes, não levaria cinco minutos, e ela teria a prova, porque certeza ela já tinha. Estava grávida e era inegável. Sem saber como, ela caminhou até o closet, as lágrimas inundando seu rosto. Abriu o lado dele, e o perfume a atingiu como se estivesse inalando fogo. Tocou os ternos dele, passados e engomados, as camisas, e se lembrou de como estava agora, em um roupão de hospital, com a maior parte do corpo engessada. Ela sorriu dentre as lágrimas ao ver uma camisa dele embolada com algo que pareciam meias. Ela apanhou a camisa, carinhosamente, e a dobrou. Apanhou a meia, e havia algo duro dentro. Ela colocou a mão, e apanhou o bilhetinho com a alma morta. "P.S.: Eu te Amo.", dizia o pequeno papel. Ele o deixara ali, em uma armadilha pra ela. E ela caíra. Ela sempre caia.

Eu sentei no telhado,
E sacodi a poeira.

Anahí: Meu Deus. – Soluçou, se deixando cair sentada no chão, segurando os bilhetes. E os soluços vieram, altos, torturados. Ela mal conseguia respirar.

Foi ali, sentada no chão, que ela viu um pacotinho. Um pacotinho branco. Ela pegou a sacolinha da loja de bebês, e apanhou o macacãozinho que ele comprara pro primeiro filho. O olhou, a visão embaçada pelas lagrimas, e trouxe ao rosto, sentindo o tecido macio. Ela não conseguia tomar essa decisão. Não conseguiria abdicar do filho assim. Não podia matá-lo. Era seu filho, seu bebê. Como se ouvisse o que ela pensava, algo se moveu em sua barriga. Ela se levantou, aos tropeços, levando o macacãozinho na mão. Não conseguiria mais ficar ali. Não sem ele. E foi assim que ela saiu dali, voltando ao hospital: sabendo que não conseguiria matar o filho, e que não poderia deixá-lo entrevado em uma cadeira de rodas. Sabendo que a responsabilidade era sua.

Anahí levou o macacãozinho na bolsa. Não sabia porque, mas não queria deixá-lo sozinho no apartamento frio. Ela chegou ao hospital, e foi ver Robert, que pela expressão torturada do rosto dela soube que ela ainda não havia se decidido, logo não perguntou nada. Apenas deu a licença para ela entrar na UTI. E ela foi. Após colocar o roupão, a touca e as luvas (fora dispensado o uso de mascaras), ela entrou. Ele estava acordado. Por um instante fugaz ela teve a esperança de que ele, ao ouvir a porta, virasse o rosto para recebê-la. Mas apenas o olhar dele se moveu.

Alfonso: Estava imaginando quem teria de matar pra chamar uma enfermeira aqui. – Disse, a voz irritada.


P.S.: Eu Te Amo (Livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora