Anahí sentiu uma dor, um vazio sufocante, e pensou que ia chorar. Mas não chorou. As lágrimas se recusaram a vir, e ela sofreu em silencio. Parecia que havia alguém com ela, confortando-a, dizendo que tudo ia resultar bem. Impedindo-a de chorar, mas incapaz de sufocar a dor. Ela tomou um longo banho. Não quis comer. Rolou na cama por horas, sem conseguir dormir. Os lençóis estavam frios demais. Em um desses giros, ela parou virada pro lado dele da cama, e viu o porta retrato que havia colocado ali. Havia, no porta-retrato, uma foto antiga dos dois, e amparado no porta-retrato uma foto quase nova... O dia em que ela fizera o acordo com ele, os dois parados no quarto, ele beijando o cabelo dela, que sorria... E o perfume dele, ainda vivo em seu travesseiro, a atingiu. Anahí rolou de lado, deixando seu rosto afundar no próprio travesseiro, onde somente seu perfume a sufocava. Precisava achar o rumo. Dar um sentido a sua vida. Mas não conseguia pensar, todos seus pensamentos estavam nele... Ela se levantou, a alma cansada brigando contra o corpo que se negava a dormir, e tomou dois comprimidos de remédio pra dormir. Uma vez dopada, o sono veio logo.
E quando ela acordou, sozinha, na manhã seguinte, ela tinha uma decisão.
Primeiro, ainda meio grogue de sono, Anahí achou que fora um pesadelo. Ela rolaria na cama e encontraria Alfonso, mole de sono. Mas estava só. No momento em que essa resolução veio, ela teve sua decisão tomada.
Lúcia: Então foram macacos. – Disse, decidida. Pedro riu, pondo as mãos no rosto.
Pedro: Porque sempre são macacos? – Perguntou, achando graça. Lúcia fez uma carinha experiente, arrumando os cabelos da boneca de pano em sua frente.
Lúcia: Porque macacos escalam arvores. – Disse, obvia.Pedro: Pode ser um bicho preguiça. – Brincou, sorrindo. Adorava ver a evolução que a filha vinha vivendo. Todo dia ela voltava da escola animada, saltitando, e contava coisas a ele desde o carro até a hora em que ele a colocava na cama.
Lúcia: Foram macacos, papai. – Disse, rolando os olhos.
Anahí: Bom dia. – Disse, entrando no ateliê. Há meses não ia até ali. O lugar era estranhamente reconfortante. Pedro em sua mesa, Lúcia sentada na cadeira de Dulce, a mesa de Anahí do modo como ela deixou.
Pedro: Anahí. – Disse, admirado, um sorriso nascendo em seu rosto.
Pedro se levantou, abraçando a loura. Lúcia saltitou, abraçando o joelho da loura. Anahí conseguiu até sorrir.
Pedro: Isso aqui estava começando a ficar tedioso. – Brincou, se sentando, com a filha no colo. Mas antes que Anahí pudesse responder...
Edmundo: Pedro, eu encontrei a sindica, aquela velha miserável, e falei sobre a história da vaga da picape no estacionamento, e ela disse que... Meu amor! – Ele começou falando em um fluxo tranqüilo, mas parou ao ver Anahí sentada em seu lugar, um sorriso malicioso nascendo no rosto.
Anahí: Olá, Edmundo. – Disse, e viu o moreno desviando de seu caminho pra vir pegá-la no colo. Literalmente. Lúcia riu, enquanto Edmundo enchia Anahí de beijos – Em nome de Deus, pare com isso! – Protestou, batendo os pés no ar.
Pedro: Edmundo, e a sindica? – Perguntou, achando graça.
Edmundo: Que arda no fogo do inferno. – Disse, sem dar atenção, se sentando com Anahí no colo, abraçando-a saudosamente. Pedro riu alto – Finalmente um pouco de cor nesse lugar. – Disse, e Anahí pôde ver a satisfação por sua volta nos olhos dele.
Anahí: Obrigada, Edmundo, eu fico comovida mas... Não tem outro lugar pra você se sentar? – Perguntou, achando graça.
Edmundo: Estou bem aqui. – Disse, tranqüilo. Anahí empurrou o rosto dele com a mão, e descobriu que estava rindo. Era maravilhoso.Alguns minutos depois, Anahí conseguiu falar seriamente.
Anahí: Pedro, eu quero fazer uma vernissage. – Disse, as costas recostadas no peito de Edmundo, que brincava com seu cabelo.
Edmundo: Ótimo. Adoro festa. – Disse, farofeiro. Lúcia concordou, batendo palmas. Não sabia o que era uma vernissage, mas se Edmundo gostava, era divertido.
Pedro: Como?
Anahí: Quero uma vernissage. Antes do final da temporada. – Disse, quieta. – Algum problema? – Perguntou, olhando a expressão de Pedro.
Pedro: Ok, alguns. – Disse, girando uma caneta nas mãos. Os olhos brincalhões agora estavam sérios – Bom, nós não vamos nada bem, Anahí. Primeiro fazem mais dois anos desde o ultimo vernissage. Eu não quis te pressionar, com toda a história de Alfonso e... como está Alfonso? – Perguntou, se lembrando.
Anahí: Saiu de casa. – Disse, e ignorou as sobrancelhas de Edmundo, que se ergueram – Estamos nos separando. – Explicou, se resumindo – Continue.
Pedro: Ok. Fazem mais de dois anos desde o ultimo vernissage, e tudo da ultima vernissage foi vendido. Você parou de pintar e fotografar, Dulce María sumiu, e nós não temos material pra isso. A temporada acaba daqui a menos de três meses. É muito pouco tempo.
Anahí: Dulce sumiu? – Perguntou, percebendo que a ultima vez em que vira Dulce, estava empurrando ela pelo corredor do hospital, pra ver Alfonso.
Pedro: Nunca está em casa, não atende o celular e não responde as mensagens. Não faço a mínima idéia de onde esteja. – Disse, passando a mão nos cabelos louros.
Edmundo: O que é lamentável. – Complementou. Lúcia, entediada com a conversa, brincava com sua boneca.
Anahí: Tudo bem, eu vou encontrar Dulce. – Disse, pensando – E eu quero a vernissage pra daqui a exatos três meses. Quanto ao material, não se preocupe, eu trarei mais que o suficiente. Tenho tempo ilimitado. – Disse, com um sorriso de canto. – Você pode dar conta da localização?
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P.S.: Eu Te Amo (Livro 02)
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