Mais dias depois...
Anahí estava rodando, de um lado pro outro. Alfonso na sala de fisioterapia. Ela não sabia porque estava inquieta. Resolveu que ia cozinhar; comida nunca era demais. Mas ela passou pela porta do quarto, e parou olhando, despercebida. A fisioterapeuta estava afastada de Alfonso, lhe dando instruções. Anahí, os olhos pálidos de choque, viu o marido segurar na barra de metal que havia na frente do espelho, e se levantar da cadeira, que a fisioterapeuta removeu. Deus, como ela perdera aquela evolução? Uma vez de pé, seguindo as instruções dela, ele dobrou as pernas. Tinha facilidade ao fazer isso. A fisioterapeuta disse algo (Os ouvidos de Anahí pareciam bloqueados, ela não ouvia), e Alfonso sorriu. O estomago de Anahí deu um solavanco ao ver ele se virar, soltando das barras, e caminhar até a cadeira. Não havia instabilidade, era o andar dele, ereto, opressor. Era como se nunca estivesse na cadeira de rodas. Uma vez feito o percurso, ele o refez, só que andando de costas. Anahí viu as pernas dele firmemente se movendo, os músculos operando de modo normal. Alfonso tinha o rosto descontraído, orgulhoso e feliz. Uma vez novamente na barra, ele se espreguiçou, elevando os braços acima da cabeça. Anahí se esquecera de quanto ele era alto. E forte. Alfonso viu Anahí naquele momento. Ele se espantou; ela estava branca feito cal.
Alfonso: Anahí? – Chamou, hesitante, dando um passo na direção dela.
E ela desmaiou.Anahí viu flashes rápidos em sua mente: Primeiro, uma escuridão que a abafava. Depois Alfonso atravessando o escritório em passadas largas, apanhando-a com força pelos braços... Alfonso jogando tênis no piquenique da empresa... Ele indo até ela debaixo d'água, na piscina, os músculos dos braços se movendo fluidamente enquanto nadava... Alfonso dizendo a Robert, no hospital, pra ter coragem e dizer a ela que ele estava tetraplégico... Alfonso enjoando na primeira vez da cadeira de rodas... E algo ardeu em seu nariz. Era desagradável.
Alfonso: Ma Belle. – Chamou a voz ansiosa, baixa – Não está funcionando. – Rosnou.
Fisioterapeuta: Deixe que ela aspire mais do álcool. – E Anahí sentiu o cheiro ardido em seu nariz outra vez. Ela afastou o rosto, e Alfonso afastou a mão.
Alfonso: Ma Belle, está me ouvindo? – Perguntou, ansioso.
Anahí: Alfonso. – Disse, abrindo os olhos. Estava no chão, no portal do quarto, o corpo mole no chão. Alfonso estava agachado ao seu lado, elevando seu rosto com a mão. – Meu Deus, você está andando! – Disse, exasperada. Ele estava agachado ao seu lado, o peso dela em cima de sua coxa, e o peso dos dois sobre os pés dele.
Alfonso: Cristo. – Disse, suspirando, aliviado – É, eu estou.
Anahí: Isso... Isso... – Ela desmaiou de novo.
Alfonso: AH, PELO AMOR DE DEUS! – Disse, exasperado, segurando ela antes que seu rosto rolasse pro chão.
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Dias depois... Era noite. Anahí dormia, mas Alfonso estava acordado. Pensava. Se livrara da cadeira de rodas naquele dia, agora estava com um andador. O andador era só pra ele recuperar a coordenação motora. Logo não o necessitaria. Seu apartamento estava pronto. Mas doía só em pensar em abandoná-la, outra vez. Então Anahí murmurou, em seu sono.
Anahí: Não. – Disse, inquieta. Alfonso a olhou, os olhos verdes insondáveis. Não o que?Anahí estava sonhando. Ela estava no hospital, em uma cama. E não sentia nada. Nada, parte nenhuma de seu corpo. Ela entrou em desespero. Dulce estava lá. Ela se queixou, assustada, e Dulce lhe falou sobre o acidente no avião. Alfonso entrou no quarto. Ela quase desmontou de alivio. Mas Alfonso abraçou Dulce pela cintura, beijando-lhe a testa. A ruiva não o reprovou, nem nada. Ela se aninhou em seu abraço. Anahí se revoltou, e ralhou com Alfonso. O olhar dele era piedoso. Anahí gritou, que diabos era aquilo? Dulce tentou acalmá-la. Anahí disse que não ia ficar calma, ela estava tetraplégica e Dulce estava abraçando seu marido. Então Dulce, carinhosamente, explicou que Alfonso não era marido de Anahí. Era marido dela.
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E você pode dizer a todos que esta é sua canção.
Pode ser bem simples, mas agora que está pronta... ♫
Alfonso: Ma Belle? – Chamou, preocupado.
Anahí: Não é meu marido. – Suspirou.
Alfonso empedrou. No sonho, Anahí estava tendo uma briga violenta com Dulce. O tom de piedade na voz da ruiva a enojava.
Anahí: Eu não... quero. – Disse, e se revirou na cama. Alfonso observava, quieto. No sonho, Edmundo, marido de Anahí, chegara no quarto. Tentava abraçá-la. – Não quero você. Não toca mais em mim. – Ela estava agoniada, em seu sono.
Alfonso tinha o rosto entalhado em pedra. Anahí não se lembraria do sonho na manhã seguinte, mas ele entendeu tudo errado. Aquilo bastava.
Dias depois...
Alfonso: Anahí? – Chamou, o rosto virado pro corredor.
Anahí: Sim? – Respondeu, a voz vindo do quarto.Alfonso: Posso falar com você? – Perguntou, contornando o sofá. Estava sem o andador, o deixara no quarto. Quarto que voltara a ser de hospedes; todo o equipamento fora removido, e a cama foi levada de volta ao quarto, assim como tapetes, e todos os moveis.
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Ele ouviu Anahí se levantando e respirou fundo. Teria de ser de modo rápido e decisivo. Ela chegou na sala, um livro na mão, um dedo marcando a pagina, e uma maçã mordida na outra. Ele quase se distraiu com isso; Anahí sempre estava comendo, de uns dias pra cá.Ela parou do outro lado do sofá, e mordeu a maçã com vontade, olhando-o.
Anahí: O que houve? – Perguntou, mastigando a fruta. Alfonso demorou um instante pra responder.
Alfonso: Eu vou sair de casa. – Avisou, a voz dura.Anahí: Tudo bem. – Disse, após engolir o pedaço da maçã, olhando-o.
A resposta dela fora imediata. Alfonso buscou em seu rosto algum sinal de alivio, de alegria, com a esperança de achar relutância, mas não. Não havia nada. Ela não tinha expressão alguma no rosto, nem olhar.
Anahí: Pra onde você vai? – Perguntou, tranqüila.
Alfonso: Eu comprei um apartamento. – Disse, com as mãos nos bolsos.
Anahí: Oh. – Disse, entendendo agora as saídas dele.
Alfonso: Irei hoje, no final da tarde. – Completou. Anahí ergueu as sobrancelhas brevemente, e assentiu.
Anahí: Certo. – Disse, parecendo distraída. Havia algo zumbindo na orelha dela. Devia ser a perda, ela não sabia dizer.
Alfonso: Você vai ficar bem? – Perguntou, observando-a. Ela sorriu brevemente.
Anahí: Eu sempre fico. – Disse, tranqüila, os olhos insondáveis. – Mais alguma coisa? – Perguntou, ainda no mesmo lugar.
Alfonso: Não. – Anahí assentiu, e olhou a maçã em sua mão.
Anahí: Tudo bem. Boa sorte. – Desejou, e o observou por um instante. Nesse instante, só ouve o silencio. Então ela mordeu a maçã novamente, e retomou o caminho pro quarto, abrindo o livro na pagina em que parara.Alfonso se sentou, passando a mão no rosto. Ela aceitara prontamente a partida dele, mas ainda assim alguma coisa dizia que isso estava violentamente errado. Ele respirou fundo, deixando a cabeça repousar no recosto do sofá. Anahí saiu aquela tarde, sem dizer onde ia. Foi até uma pracinha, perto do cais, e se sentou, esperando as horas passarem. Não suportaria ficar em casa, e vê-lo partir. Ela ficou sentada lá, se abraçando, até que a noite se tornou aberta.
Ele dissera que iria no final da tarde, e já devia passar das 8 da noite. Anahí apanhou seu carro, e voltou pra casa. A vaga do carro dele no estacionamento estava vazia. Aquilo provocou um solavanco doloroso no peito dela. Tomou o elevador, e foi pra casa. Entrou no apartamento silencioso, acendendo as luzes. Precisava ver algo, seu interior a impulsionava. Ela foi diretamente até o closet, acendendo as luzes por onde passava, e puxou a porta do lado dele do closet. Não havia nada. Ele havia levado toda e qualquer peça. Mas Anahí não tinha a necessidade de ver aquilo, ela soube que ele partira no momento que entrou em casa. O silencio solitário era evidente demais, ela convivera com ele por quatro anos. Foi ele quem lhe deu as boas novas, assim que ela chegou: Alfonso a havia abandonado. Novamente.
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P.S.: Eu Te Amo (Livro 02)
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