Capítulo 17

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Mais dias depois...

Anahí estava rodando, de um lado pro outro. Alfonso na sala de fisioterapia. Ela não sabia porque estava inquieta. Resolveu que ia cozinhar; comida nunca era demais. Mas ela passou pela porta do quarto, e parou olhando, despercebida. A fisioterapeuta estava afastada de Alfonso, lhe dando instruções. Anahí, os olhos pálidos de choque, viu o marido segurar na barra de metal que havia na frente do espelho, e se levantar da cadeira, que a fisioterapeuta removeu. Deus, como ela perdera aquela evolução? Uma vez de pé, seguindo as instruções dela, ele dobrou as pernas. Tinha facilidade ao fazer isso. A fisioterapeuta disse algo (Os ouvidos de Anahí pareciam bloqueados, ela não ouvia), e Alfonso sorriu. O estomago de Anahí deu um solavanco ao ver ele se virar, soltando das barras, e caminhar até a cadeira. Não havia instabilidade, era o andar dele, ereto, opressor. Era como se nunca estivesse na cadeira de rodas. Uma vez feito o percurso, ele o refez, só que andando de costas. Anahí viu as pernas dele firmemente se movendo, os músculos operando de modo normal. Alfonso tinha o rosto descontraído, orgulhoso e feliz. Uma vez novamente na barra, ele se espreguiçou, elevando os braços acima da cabeça. Anahí se esquecera de quanto ele era alto. E forte. Alfonso viu Anahí naquele momento. Ele se espantou; ela estava branca feito cal.


Alfonso: Anahí? – Chamou, hesitante, dando um passo na direção dela.

E ela desmaiou.

Anahí viu flashes rápidos em sua mente: Primeiro, uma escuridão que a abafava. Depois Alfonso atravessando o escritório em passadas largas, apanhando-a com força pelos braços... Alfonso jogando tênis no piquenique da empresa... Ele indo até ela debaixo d'água, na piscina, os músculos dos braços se movendo fluidamente enquanto nadava... Alfonso dizendo a Robert, no hospital, pra ter coragem e dizer a ela que ele estava tetraplégico... Alfonso enjoando na primeira vez da cadeira de rodas... E algo ardeu em seu nariz. Era desagradável.

Alfonso: Ma Belle. – Chamou a voz ansiosa, baixa – Não está funcionando. – Rosnou.

Fisioterapeuta: Deixe que ela aspire mais do álcool. – E Anahí sentiu o cheiro ardido em seu nariz outra vez. Ela afastou o rosto, e Alfonso afastou a mão.

Alfonso: Ma Belle, está me ouvindo? – Perguntou, ansioso.

Anahí: Alfonso. – Disse, abrindo os olhos. Estava no chão, no portal do quarto, o corpo mole no chão. Alfonso estava agachado ao seu lado, elevando seu rosto com a mão. – Meu Deus, você está andando! – Disse, exasperada. Ele estava agachado ao seu lado, o peso dela em cima de sua coxa, e o peso dos dois sobre os pés dele.

Alfonso: Cristo. – Disse, suspirando, aliviado – É, eu estou.

Anahí: Isso... Isso... – Ela desmaiou de novo.

Alfonso: AH, PELO AMOR DE DEUS! – Disse, exasperado, segurando ela antes que seu rosto rolasse pro chão.

Dias depois... Era noite. Anahí dormia, mas Alfonso estava acordado. Pensava. Se livrara da cadeira de rodas naquele dia, agora estava com um andador. O andador era só pra ele recuperar a coordenação motora. Logo não o necessitaria. Seu apartamento estava pronto. Mas doía só em pensar em abandoná-la, outra vez. Então Anahí murmurou, em seu sono.

Anahí: Não. – Disse, inquieta. Alfonso a olhou, os olhos verdes insondáveis. Não o que?

Anahí estava sonhando. Ela estava no hospital, em uma cama. E não sentia nada. Nada, parte nenhuma de seu corpo. Ela entrou em desespero. Dulce estava lá. Ela se queixou, assustada, e Dulce lhe falou sobre o acidente no avião. Alfonso entrou no quarto. Ela quase desmontou de alivio. Mas Alfonso abraçou Dulce pela cintura, beijando-lhe a testa. A ruiva não o reprovou, nem nada. Ela se aninhou em seu abraço. Anahí se revoltou, e ralhou com Alfonso. O olhar dele era piedoso. Anahí gritou, que diabos era aquilo? Dulce tentou acalmá-la. Anahí disse que não ia ficar calma, ela estava tetraplégica e Dulce estava abraçando seu marido. Então Dulce, carinhosamente, explicou que Alfonso não era marido de Anahí. Era marido dela.

E você pode dizer a todos que esta é sua canção.
Pode ser bem simples, mas agora que está pronta... ♫


Alfonso: Ma Belle? – Chamou, preocupado.

Anahí: Não é meu marido. – Suspirou.

Alfonso empedrou. No sonho, Anahí estava tendo uma briga violenta com Dulce. O tom de piedade na voz da ruiva a enojava.

Anahí: Eu não... quero. – Disse, e se revirou na cama. Alfonso observava, quieto. No sonho, Edmundo, marido de Anahí, chegara no quarto. Tentava abraçá-la. – Não quero você. Não toca mais em mim. – Ela estava agoniada, em seu sono.

Alfonso tinha o rosto entalhado em pedra. Anahí não se lembraria do sonho na manhã seguinte, mas ele entendeu tudo errado. Aquilo bastava.

Dias depois...


Alfonso: Anahí? – Chamou, o rosto virado pro corredor.

Anahí: Sim? – Respondeu, a voz vindo do quarto.

Alfonso: Posso falar com você? – Perguntou, contornando o sofá. Estava sem o andador, o deixara no quarto. Quarto que voltara a ser de hospedes; todo o equipamento fora removido, e a cama foi levada de volta ao quarto, assim como tapetes, e todos os moveis.

Ele ouviu Anahí se levantando e respirou fundo. Teria de ser de modo rápido e decisivo. Ela chegou na sala, um livro na mão, um dedo marcando a pagina, e uma maçã mordida na outra. Ele quase se distraiu com isso; Anahí sempre estava comendo, de uns dias pra cá.

Ela parou do outro lado do sofá, e mordeu a maçã com vontade, olhando-o.

Anahí: O que houve? – Perguntou, mastigando a fruta. Alfonso demorou um instante pra responder.

Alfonso: Eu vou sair de casa. – Avisou, a voz dura.

Anahí: Tudo bem. – Disse, após engolir o pedaço da maçã, olhando-o.

A resposta dela fora imediata. Alfonso buscou em seu rosto algum sinal de alivio, de alegria, com a esperança de achar relutância, mas não. Não havia nada. Ela não tinha expressão alguma no rosto, nem olhar.

Anahí: Pra onde você vai? – Perguntou, tranqüila.

Alfonso: Eu comprei um apartamento. – Disse, com as mãos nos bolsos.

Anahí: Oh. – Disse, entendendo agora as saídas dele.

Alfonso: Irei hoje, no final da tarde. – Completou. Anahí ergueu as sobrancelhas brevemente, e assentiu.

Anahí: Certo. – Disse, parecendo distraída. Havia algo zumbindo na orelha dela. Devia ser a perda, ela não sabia dizer.

Alfonso: Você vai ficar bem? – Perguntou, observando-a. Ela sorriu brevemente.

Anahí: Eu sempre fico. – Disse, tranqüila, os olhos insondáveis. – Mais alguma coisa? – Perguntou, ainda no mesmo lugar.

Alfonso: Não. – Anahí assentiu, e olhou a maçã em sua mão.

Anahí: Tudo bem. Boa sorte. – Desejou, e o observou por um instante. Nesse instante, só ouve o silencio. Então ela mordeu a maçã novamente, e retomou o caminho pro quarto, abrindo o livro na pagina em que parara.

Alfonso se sentou, passando a mão no rosto. Ela aceitara prontamente a partida dele, mas ainda assim alguma coisa dizia que isso estava violentamente errado. Ele respirou fundo, deixando a cabeça repousar no recosto do sofá. Anahí saiu aquela tarde, sem dizer onde ia. Foi até uma pracinha, perto do cais, e se sentou, esperando as horas passarem. Não suportaria ficar em casa, e vê-lo partir. Ela ficou sentada lá, se abraçando, até que a noite se tornou aberta.

Ele dissera que iria no final da tarde, e já devia passar das 8 da noite. Anahí apanhou seu carro, e voltou pra casa. A vaga do carro dele no estacionamento estava vazia. Aquilo provocou um solavanco doloroso no peito dela. Tomou o elevador, e foi pra casa. Entrou no apartamento silencioso, acendendo as luzes. Precisava ver algo, seu interior a impulsionava. Ela foi diretamente até o closet, acendendo as luzes por onde passava, e puxou a porta do lado dele do closet. Não havia nada. Ele havia levado toda e qualquer peça. Mas Anahí não tinha a necessidade de ver aquilo, ela soube que ele partira no momento que entrou em casa. O silencio solitário era evidente demais, ela convivera com ele por quatro anos. Foi ele quem lhe deu as boas novas, assim que ela chegou: Alfonso a havia abandonado. Novamente.

P.S.: Eu Te Amo (Livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora