Capítulo 16

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A noite perdeu sua batalha contra o dia; o sol nasceu, rompendo as nuvens cinzentas, tingindo o céu negro em tons de cinza, logo um roxo escuro e opaco, que se transformou em um azul escuro, que clareou tom por tom até que terminou em um azul claro, manchado pelas nuvens. Alfonso estava no mesmo lugar, na mesma posição, os olhos verdes abertos, olhando Anahí dormir. Enfermeiras entraram no quarto periodicamente durante a noite, mas ele não se alterou. Sua mão ainda estava enlaçada a dela. Seus olhos não pestanejaram nem um segundo, mas Anahí teve uma noite tranqüila de sono. Quando iam dar 8 da manhã, Robert voltou.

Robert: Você tem TOC? – Perguntou, brincando, ao reparar Alfonso na mesma posição em que o deixara.

Alfonso: Lá se foi a paz. – Lamentou, a voz rouca pelo longo tempo inutilizado. – Porque ela não acorda? – Perguntou, inquieto.

Robert: Porque ela está com sono. – Disse, óbvio, se aproximando da cama. Ele olhou o monitor ao lado de Anahí e assentiu consigo mesmo.

Alfonso: E você lhe deu o que, tranqüilizante pra cavalo? – Rosnou, virando o rosto. Robert dava dois pitoques na bolsa de soro, agora quase vazia.

Robert: Não seja imbecil. – Pediu, revirando os olhos. – Te incomoda tanto que ela descanse?

Alfonso: É claro que não. É só... estranho. – Disse, olhando a mulher novamente.

Robert: Estranho? – Perguntou, franzindo o cenho.

Alfonso: Eu nunca vi Anahí dormir tão pesado, e acredite, se alguém conhece ela, esse alguém sou eu. – Disse, os olhos verdes percorrendo o rosto da esposa – Ela não se remexeu, não resmungou, não suspirou, não se moveu, nada. É anormal. Eu gostaria que ela acordasse logo. – Resumiu.

Robert: Não deve demorar. Ela agora dorme por sono próprio, o tranqüilizante pra cavalo não era suficiente pra tanto tempo. – Debochou.

Alfonso: Ok, você não tem mais o que fazer? Vá atrás da sua mulher. – Aconselhou.

Robert: Na verdade, eu tenho mais o que fazer. E, já que pergunta, Kristen foi embora há 20 minutos. – Disse, tranqüilo.

Alfonso: Não tem outra pessoa a qual infernizar? – Perguntou, os olhos verdes focalizando Robert como duas vespas.

Robert: Sim, mas você é o meu favorito. – Debochou. Alfonso revirou os olhos. – Como eu disse, eu tenho mais o que fazer, mas preciso lhe devolver algo. – Disse, ainda tranqüilo.

Alfonso o encarou, confuso, mas Robert procurava algo no bolso do jaleco. Ele retirou um pacotinho pequeno, feito de plástico transparente, e estendeu a mão.

Robert: Isso é seu. Estava em seu pulso quando chegou aqui, no dia do acidente. – Alfonso apanhou o pacotinho, vendo a pulseira de prata repousar tranquilamente ali – Era pra eu ter lhe devolvido no dia em que te dei alta, mas com o escândalo que você aprontou eu terminei esquecendo. Enfim. – Disse, dando de ombros.

Alfonso: Obrigado. – Disse, simples, e guardou o pacote, ainda lacrado, no bolso da calça que usava.

Robert: Ok, eu vou fazer a ronda pelo hospital. Mais tarde eu volto, e ela já deve ter acordado a essa altura. Se ela acordar, me chame. – Disse, objetivo.

Alfonso assentiu. Robert saiu, e o silencio voltou a pairar no ar. Ele parou, quieto, os dedos enlaçados ao dela, pensativo. Pensou que a pulseira havia se rompido, que havia perdido ela na explosão do avião, e chegou a lamentar mentalmente por isso. Como diabos uma correntinha mínima de prata sobreviveu a aquilo? Era uma incógnita. Mas como ele próprio sobrevivera também era uma, então ele não se questionou mais. Depois de três horas de silencio absoluto, exceto pela enfermeira que apareceu e retirou o soro da veia de Anahí, os batimentos de dela no monitor começaram a acelerar, lentamente. Alfonso olhou o monitor; ele havia estado atento aos batimentos dela durante o sono, eram calmos, constantes. Estavam se elevando naturalmente, agora. Nada que alarmasse. Ele olhou o rosto dela, e viu a clareza voltando a seus traços. Poucos segundos depois, se espreguiçando minimamente, os olhos azuis se abriram, olhando o teto. Alfonso quase chorou.

Alfonso: Finalmente. Graças a Deus. – Murmurou consigo mesmo, respirando fundo, deixando o alivio pulsar sobre si. Ele apanhou o interfone e o apertou uma única vez, e logo a voz de Robert pairou, saindo do pequeno aparelho.

Robert: Eu estou indo. – Disse, simples. Sabia que Alfonso só chamaria quando Anahí acordasse.

Anahí: Alfonso? – Perguntou, sonolenta, os olhos parados na imagem dele, sentado ali. Por reflexo, seus dedos se contraíram, acomodando os dele. – Ah, droga. Eu disse a ele que você viria. – Lamentou, rouca pelo sono.

Alfonso: Disse? – Perguntou, sorrindo de canto, vendo a sonolência dela denunciar a mentira de Robert. Anahí se tocou disso também.

Anahí: Disse a ele que você viria se eu demorasse. – Disse, evasiva.

Alfonso: É claro. – Ele sorriu, irônico.

Anahí: Que horas são? – Perguntou, meio desorientada.

P.S.: Eu Te Amo (Livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora