O vento do parque leva até mim o calor do seu hálito. Meus lábios ardem e eu me deleito de seu perfume, pensando que talvez ele não fosse ser arrancado de mim. A minha pele queima com o seu olhar, ele encara a grama verde do lugar, e depois ergue a cabeça, olhando-me como se eu fosse o seu tesouro. Os seus olhos espertos, mirando-me um sorriso alinhado no rosto, carrega em suas iris o oceano e todos os seus mistérios. All Star velhos pisando firmes até mim, sua mão macia toca o meu queixo e eu sei que está na hora, sei que é agora que precisamos conversar. Água salgada desce dos meus olhos e ele não se importa de deixar que seu polegar se passe por elas, limpando-as por que ele as odeia, mesmo dizendo que fico bonito a chorar. O meu corpo fraco estremesse e eu caio em seus braços, sentindo o calor de sua pele a se derreter com a minha. O meu coração para de bater e eu deixo que os meus olhos se fechem, assim como as minhas mãos em sua roupa.
Enlaço as minhas mãos maliciosas nas linhas tênues do seu corpo e deito em seu peito, enquanto ele sussurra que vai ficar tudo bem. Eu estava rezando, para que pudéssemos ficar juntos como nossas promessas me faziam acreditar. Mas era como desejar a chuva em pleno deserto. Molhava suas vestes com as minhas lágrimas infinitas, deixando as torneiras atrás dos meus olhos ligadas eternamente. Suas mãos me envolvem a cintura e eu o abraço, sentindo o seu corpo contra o meu a se apertar. A dor em meu peito se espalha pelo meu corpo e quando abro os olhos, vejo que ele está de joelhos na grama, segurando-me em seus braços enquanto o seu perfume envolve o meu corpo. Agarro-me ao seu cheiro, as suas lembranças, as suas palavras e promessas, mesmo quando ele dizia que não era bom prometendo algo, e que só poderia ficar comigo se eu gostasse de bagunçar lugares e causar o caos em bares entediantes. Seus olhos marítimos estão encharcados de saudade, mesmo ainda abraçado a mim, ele parece já sentir falta, assim como eu.
Nossos corpos se distanciam um pouco, e mesmo chorando, Harry sorri, e isso abala tudo em mim, deixando-me ainda mais fraco em seus braços.
— Não se preocupe, vai ficar tudo bem — Ele agarra a minha mão e algumas pessoas no parque nos olham estranho, mas eu desvio o olhar delas, olhando Harry fixamente. — Estou bem — Ele repete pela décima vez naquela semana, mas eu sei que não está.
— Olha, nós precisamos de mais tempo — Aperto sua mão contra a minha e ele inclina sua cabeça para o lado, do jeito que só ele faz quando não concorda comigo. — Eu te amo, Harry — Os seus olhos brilham quando essas palavras escapam dos meus lábios, e sua mão toma o meu rosto enquanto ele espera que eu continue. — Podemos vencer isso, eu sei que podemos — Mordo os lábios, tentando parar de chorar, mas o meu nariz está inchado e vermelho, assim como todo o meu rosto. Harry abaixa a cabeça e discorda novamente.
— Claro! Só tenho câncer no figado, pulmões, próstata e cérebro — Junto minhas sobrancelhas, vendo uma certa ironia em seu olhar. — Não preciso de nada disso para viver, certo? — Ele sorri de lado e eu continuo sério, deixando que as lágrimas molhem nossas mãos juntas. — Por tudo isso, eu sei que você ficará bem. Está com sua tia, May, e aquela garota de quem realmente gosta — Ele solta nossas mãos e isso me quebra por dentro. Desviando o olhar, ele alarga um sorriso nos lábios rosados e cheios. — Adoro ela, a mesma tem um espirito jovem, e eu gosto disso. Ela é inteligente e tem um futuro muito grande pela frente, assim como você, Louis — Ele vira o rosto para mim e me olha nos olhos, escondendo sua tristeza.
— A única pessoa que eu quero está a minha frente — Agarro sua mão novamente e ele desfaz o sorriso, entrelaçando os nossos dedos enquanto me aproximo de seu rosto. Os seus olhos brilham num mistério que me irrita. Odeio saber que seus olhos serão sempre o fundo do oceano que eu não posso explorar. Ergo a minha mão, que treme assim como as dele. Toco o seu rosto, sentindo sua barba rala na ponta dos meus dedos, sua pele macia e alva como a neve. Olho em seus olhos e me inclino para ele, assim como ele para mim.
Respiro fundo, minha mão escorrega para o seu peito e ele segura minha cintura, inclinando-se sobre mim e roçando os nossos lábios. Ele desiste de limpar minhas lágrimas e apenas as deixa rolar. O meu coração volta a bater, ele martela o meu peito, empurrando-me para frente, fazendo com que os meus lábios quentes toquem os de Harry, que se colam nos meus como um pedaço de gelo recém formado.
Nossas almas se conectam, e quando estamos prestes a esquecer o mundo e mergulhar novamente nas ondas dos nossos sentimentos, ouço um gemido de dor e me afasto. Harry toca o seu peito com os olhos fechados, recebendo o resultado de uma briga desnecessária com um amigo meu, que ele dizia ser apaixonado por mim. As lágrimas rolam em meu rosto e eu o abraço forte. Harry está fraco, está morrendo, mas mesmo sofrendo, ele sorri, deixando que eu chore ainda mais, inconformado com aquilo. Harry se afasta um pouco, segurando os meus ombros e olhando para a grama abaixo de nós. Seguro em sua cintura, olhando sua feição pensativa.
— Quando eu morrer, você vai ficar com ela?
— Não, nunca — Respondo de imediato. — Gwen faz parte do meu passado.
— E se tivesse dois corações? — Ele sussurra, mal abrindo os lábios, apenas esperando que o tempo passasse.
— Os dois pertenceriam a você — Harry sorri de lado e eu toco a minha testa na dele, molhando as suas roupas com as minhas lágrimas. Minhas mãos fazem marcas em seu rosto, logo escorregando para os seus longos cabelos castanhos, repletos de cachos perfeitos que enrolam na ponta dos meus dedos. — Seu... cabelo continua a cair — Ele respira fundo, assentindo.
— Várias coisas andam caindo ultimamente — Ele faz piada, mas eu não dou risada e isso o deixa sério. — Não fique dessa maneira — Ele tira minhas mãos de seus cabelos e as coloca em seu peito. Sinto o seu coração a bater contra as minhas palmas, acelerado e incansável. — Sente isso? — Assinto. — Ele só fica assim quando estamos juntos — Ele sorri de lado e eu reviro os olhos com uma risada baixa.
— Isso é tão clichê, e você sabe que eu odeio clichês.
— Eu também. Por isso sempre torço pro vilão nos quadrinhos — Ele sorri e eu colo nossas testas novamente, tocando os seus lábios com os meus. Soluço, sentindo suas mãos secarem minhas lágrimas. Os seus olhos perdidos brilham de repente, o esverdeado me encanta como de costume. Eu nunca quis navegar em seus olhos antes, mas agora me jogo no mar esverdeado que são suas iris. Seus lábios gélidos tocam a minha testa e sinto Harry se levantar vagarosamente, fazendo-me agarrar os seus braços ainda sentado na grama.
— Aonde vai?
— Tenho que acabar com isso — Ele rosna para si mesmo e eu ergo as sobrancelhas, confuso. Com um impulso, me coloco de pé e seguro em sua mão com força.
— Como assim? — Ele olha para o lado, evitando me encarar nos olhos, e depois de alguns segundos em silêncio, ele se aproxima e um sorriso surge em seus lábios,
— Guarde um pedaço de pizza para mim — Ele passa uma das mãos em meus cabelos e se afasta lentamente, fazendo-me correr atrás dele e gritar.
— Não sei o que vai fazer, mas espero que acabe salvando o universo — Faço uma piada muito ruim como as dele, e Harry apenas ri baixinho, assentindo.
— E se eu dissesse, que o meu universo está no infinito dos seus olhos? — Ele sorri travesso e eu reprimo um riso abobado.
Ele enfia as mãos no bolso e gira em seus calcanhares depois de colocar seu capuz na cabeça. Suspiro, escutando sua voz a ecoar em minha cabeça. Um sorriso cresce em meus lábios e eu sinto pingos de chuva em minha roupa, logo em minha pele. Puta merda. Coloco o meu capuz assim como Wilson e corro pelo parque, desesperado para chegar em casa e preparar biscoitos para Harry. Não cozinho tão bem, mas ele diz gostar dos meus biscoitos. Com um sorriso, entro num beco de Hell's Kitchen e grudo minhas mãos na parede de tijolos de um edifício velho. Logo os meus pés estão na parede e eu estou a escalar, pensando em quando Harry voltar para casa, se iremos nos jogar no sofá velho e comer biscoitos enquanto assistimos comédia antiga.
Mas eu estava errado. Naquela tarde, Harry não voltou. Fiquei a madrugada acordado, ligando para o celular dele, mandando mensagens, mas ele não as atendia. Naquela tarde, eu joguei minhas teias na sacada do antigo apartamento dele e entrei em seu quarto pela janela, mas ele também não estava lá.
Ele simplesmente não voltou como prometido e eu desabei.
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World On Fire • l.s » SPIDEYPOOL
FanficDesde que Harry Wilson foi submetido a um desonesto experimento que o deixa com poderes de cura acelerada, ele adota o alter ego de Deadpool. Armado com suas novas habilidades e um senso de humor sombrio e distorcido, Deadpool persegue o homem que...