O tempo ia passando e ainda assim sentia que os meus pensamentos estavam longe de acalmarem. Por isso mesmo é que continuava sentada no tampo da sanita enquanto a Meg passava uma toalha molhada pelo meu rosto e braços que eu sabia estarem cobertos de sangue apesar de ainda não ter olhado para eles.
- Tens de despir essa roupa.
Abanei a cabeça sem fazer qualquer outro movimento – Temos de chamar a polícia. – murmurei mantendo o meu olhar fixo no vazio – Precisamos de lhes dizer o que se passou.
A Meg abriu a boca mas foi interrompida por uma batida na porta. Dei um salto ao ser apanhada desprevenida e naquele momento percebi que a partir daquele dia ia sempre assustar-me com qualquer coisa que me apanhasse de surpresa.
A Lola abriu lentamente a porta – Trouxe-te umas roupas lavadas. – olhei para as peças de roupa que ela tinha na mão e voltei a olhar para a Meg à espera de apoio – O Enzo disse que temos de queimar essas roupas. – voltei a desviar o olhar para ela – O Enzo está a tratar de tudo.
- O Enzo tem de chamar a polícia. – foi a única coisa que me ocorreu dizer. O Theo tinha entrado à força na minha casa, tinha-me atacado e a morte dele tinha sido apenas em defesa pessoal; precisávamos de explicar isso à polícia mas parecia que ninguém estava a pensar seguir esse caminho.
- Ele não pode chamar a polícia. – murmurou a Lola – A arma não está registada... o Tiago não tem explicação para ter a arma e a polícia vai descobrir isso em três tempos. O Tiago ia acabar por ser preso... e ele não pode ir para a prisão.
- Qual é o plano então?
A minha expressão alterou-se para total surpresa assim que ouvi a minha prima – O plano? – repeti sentindo a minha garganta a apertar – Temos uma pessoa morta na minha sala de estar! Não há plano nenhum! – quase gritei – O plano é chamarmos a polícia e explicarmos tudo o que aconteceu. Esse é o plano!
- Sky, está tudo bem. – encontrei o olhar da minha prima assim que ela se voltou a aproximar de mim e colocou as mãos nos meus ombros; limitei-me a abanar a cabeça, não está nada bem, pensei para mim mesma – Vamos resolver isto, certo? – continuei a abanar a cabeça – Tens de despir essas roupas. Anda lá, eu ajudo-te.
Depois de a Meg me ajudar a despir aquelas roupas ensanguentadas, a Lola levou-as com ela e eu fui enfiada dentro da banheira para retirar os restos de sangue que ainda tinha na minha pele. Não conseguia perceber como é que parecia que eu era a única que não achava aquela situação normal; os meus pensamentos não faziam qualquer sentido e limitava-me a seguir as indicações da minha prima.
Não sabia precisar quanto tempo é que tínhamos estado fechadas naquela casa de banho, mas assim que voltámos para a sala onde se encontrava o resto do grupo, parecia que nada tinha acontecido naquela divisão. O corpo do Theo já não estava estendido no chão, não havia qualquer mancha de sangue no chão de mármore e a ligeira desarrumação da sala era quase idêntica àquela que tínhamos feito antes de eles saírem para ir às compras.
- Tens a certeza que é isso que temos de fazer?
- Já te disse que sim. Queimamos o corpo para tirar vestígios nossos e depois vemo-nos livre dele. Vamos deixa-lo no rio.
Por momentos pensei que tudo aquilo não tinha passado de um pesadelo. Por momentos ponderei mesmo que depois de eles saírem para ir às compras eu tinha adormecido no sofá e isto não passava tudo de um pesadelo mas assim que ouvi a conversa entre o Tiago e o Enzo, percebi que o pesadelo era aquilo que eu estava a viver.
- Precisamos de um álibi. – o Diego parecia o mais nervoso dos três rapazes – Se alguém der pela falta dele vão longo pensar na Sky por causa do passado deles. Precisamos de um álibi para esta noite.

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Sky
Nonfiksi[completa e editada] O sonho de Skylar Mars era sair dos EUA e viajar para Espanha, deixando todos os seus demónios para trás e refazer as memórias já um pouco esquecidas que tinha da sua mãe. Mas a vida nunca é assim tão simples e mesmo noutro con...