Dezasete

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Semicerrei os olhos em direção às duas folhas de papel que o Enzo tinha na mão antes de lhas tirar. Numa delas a letra da Lola informava que tinha ido sair com o Diego e que não sabia quando voltava, estando esta última parte sublinhada com bastante força, o que me parecia ser a informação importante que ela queria transmitir aos irmãos. Na outra folha de papel estava rabiscado com uma letra masculina e confusa que o Santiago ia sair com a Megan e não sabia quando ou se voltavam naquela noite. Fiz automaticamente uma careta enojada quando percebi que isso poderia querer dizer que iam para o nosso dormitório e a última coisa que precisava naquele momento era imaginá-los a fazer sexo na cama ao lado da minha. Mas desde que não fosse na minha já ficava ligeiramente mais satisfeita.

- Então e agora? - perguntei depois de pousar as folhas na mesa da cozinha.

- Agora vamos jantar. - respondeu o Enzo enquanto me sorria quase de orelha a orelha; sabia perfeitamente que ele estava a adorar aquilo - Anda daí, princesa.

- Porque raio é que me chamas princesa? - não tinha outro remédio para além de o seguir e portanto foi exatamente isso que fiz. Depois de agarrar no casaco, telemóvel e chaves de casa o Enzo abriu a porta da rua e deu-me passagem.

- Porque o nome te fica bem. - olhei-o de sobrancelhas juntas à espera de uma resposta mais elucidativa mas sabia que ele não ia dizer mais nada por isso limitei-me a revirar os olhos - Anda lá, estou cheio de fome.

Assim que coloquei os pés fora de casa dos Suarez, abracei-me a mim própria um pouco por causa do frio que se tinha posto agora que o sol já não se encontrava no céu mas também pela visão daquela rua. Aquele espaço parecia agora muito mais assustador do que anteriormente e nunca na minha vida andaria ali sozinha de dia quanto mais àquelas horas. Apesar de alguns dos candeeiros iluminarem as ruas, nem todos funcionavam o que fazia com que existissem vários espaços muito mal iluminados, havia agora ainda mais gente ali e para uma pessoa como eu que sempre foi muito protegida do mundo real, aquilo fazia lembrar um filme de terror.

O Enzo deve ter reparado na minha expressão porque sorriu antes de agarrar na minha mão e me puxar - Ninguém te vai fazer mal não te preocupes. - e apesar de continuar a não confiar muito no Enzo sabia que aquilo era verdade; com ele ninguém me ia fazer mal.

Segui ao lado dele sendo que a maior parte do caminho foi feita em silêncio apenas com alguns comentários quer de um quer do outro para aquilo não se tornar demasiado constrangedor. Passámos por várias pessoas que cumprimentaram o Enzo e me lançaram um olhar avaliador antes de seguirem os seus caminhos.

Quando finalmente chegámos ao restaurante suspirei de alívio. O restaurante não ficava no centro de Madrid mas também não ficava no bairro do Enzo e por isso o ambiente era ligeiramente diferente. Caminhei até uma mesa vazia e olhei para a ementa da pizzaria.

- Que tal? - perguntou o Enzo quando se sentou à minha frente - Não é um restaurante de luxo mas tenho a certeza que vais adorar estas pizzas.

Levantei o olhar da ementa para o Enzo - Restaurante de luxo? - repeti e abanei a cabeça - Vou perguntar apesar de não ter a certeza de querer continuar esta conversa, mas quem é que te contou que eu fui a um restaurante de luxo? Com o Martin. - acrescentei apesar de saber que era disso mesmo que ele estava a falar.

O Enzo recostou-se para trás apoiando as costas na cabine atrás dele, esticando de seguida as pernas para a frente o que me deixava com as minhas pernas no meio das deles e se abrisse um bocadinho que fosse as pernas tocava nas dele. Aquele sorriso provocador voltou a reaparecer enquanto ele encolhia os ombros.

- Não é muito difícil concluir que ele te ia levar ao restaurante dos pais, o Martin não tem muita imaginação.

- Afinal o que é que tens contra ele? Que ele não goste de ti até se percebe, és uma pessoa difícil de gostar à primeira.

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