Diecinueve

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Assim que acabei finalmente de comer os cereais do pequeno-almoço, subi novamente os degraus que davam ao andar onde se encontravam os quartos e apressei-me a trocar a camisola do Enzo pela roupa que tinha trazido no dia anterior assim como tratar rapidamente da minha higiene pessoal.

- Vamos? - perguntou o Enzo assim que me apanhou a sair da casa de banho. Ele já tinha trocado as calças do pijama pelas suas usuais calças de ganga e uma camisola preta de manga comprida bastante parecida com aquela com que eu tinha dormido na noite anterior - Daqui a nada não passamos tempo nenhum juntos. - queixou-se ele amuado.

- Já passámos a noite toda juntos, não te chega? - perguntei num resmungo; odiava que me apressassem até porque eu nem era uma rapariga que demorasse muito tempo a ficar pronta - Já estou pronta. - segui-o novamente para o rés-do-chão e agarrei na minha mala que continuava num canto da sala onde a tinha deixado no dia anterior - Onde é que vamos afinal?

- Vamos numa aventura. - o sorriso entusiasmado do Enzo era bastante assustador e preocupante. Uma aventura com ele parecia-me algo que se devia tentar ao máximo evitar - Anda lá princesa.

Bufei para o ar e saí de casa à frente dele. Ao lado da casa havia um pequeno barracão onde o Enzo foi buscar a mota e trouxe-a pela mão até à zona onde eu ainda me encontrava à espera dele. Subi depois dele e ainda perguntei novamente se não íamos usar capacetes já que isso era uma grande irresponsabilidade e mais uma vez recebi a resposta não é preciso. Claro que não, quando morrermos o capacete só vai estar a mais.

Mal tinha acabado de colocar os braços à volta do tronco do Enzo quando ele arrancou dali para fora a uma velocidade muito acima da obrigatória dentro das localidades. Encostei a cara ao casaco do Enzo e fechei os olhos com força numa tentativa mal sucedida de fazer com que aquela viagem não parecesse assim tão assustadora mas a velocidade a que íamos, o tempo de duração da viagem, o facto de estarmos sem capacetes e bem, do Enzo ser o condutor, não ajudaram em nada.

Saltei da mota assim que a mesma parou finalmente e apoiei as mãos nas coxas enquanto respirava fundo e tentava acalmar a minha respiração e o bater descontrolado do meu coração - Tu deves queres matar-me. - mal acabei de proferir aquela frase coloquei-me direita e olhei em volta, observando que nos encontrávamos numa espécie de estrada secundária onde não passava um único carro. De ambos os lados da estrada a paisagem era apenas verde e azul; estávamos muito longe da cidade - E acho que queres mesmo. - murmurei para mim própria - Onde estamos?

O Enzo encolheu os ombros enquanto me lançava aquele seu sorriso - Fora da cidade. Não interessa onde estamos. - era exatamente isso que um assassino diria antes de matar alguém - Agora ajuda-me. - continuei a olhar para ele desconfiada quando me estendeu o que parecia uma manta; ele podia muito bem usar aquilo para enrolar o meu corpo - Anda lá. - resmungou ainda a estender-me o objecto e a tirar agora uma mochila preta.

Agarrei na manta a contragosto e fiquei à espera de alguma pista do que é que ele estava a pensar fazer ali no meio do nada quando a única opção que eu via era mesmo o assassinato. O Enzo colocou uma das alças da mochila no ombro e agarrou no meu braço para me fazer andar assim que ele decidiu caminhar pelo terreno que se encontrava à nossa frente, parando a uns cinco metros da mota dele.

- Que foi? - perguntei quando o vi a olhar fixamente para mim com um ar aborrecido. Desviei o olhar para a manta que tinha na mão quando ele apontou com o queixo para a mesma - Ah. - estendi o bocado de tecido no chão e sentei-me numa das pontas da mesma - Afinal o que é isto?

- Uma aventura. - respondeu-me ele como se a pergunta que eu tinha feito fosse totalmente idiota - Nunca quiseste ficar sozinha, longe da cidade, do ruído e de toda a gente e aproveitar apenas? - olhei por cima do meu ombro quando o Enzo fez sinal nessa direção e um sorriso foi aparecendo ao pouco nos meus lábios; naquele terreno enorme onde o verde predominava era possível observar o azul do céu e um pouco mais ao fundo conseguia-se ver a confusão da cidade - Este é um bom sítio para isso.

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